Bienal do livro: como foi a abertura com chimamanda

Bienal do Livro: Como foi a abertura com Chimamanda – 13/06/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Chimamanda, Chimamanda, Chimamanda!”, gritavam centenas de jovens no pavilhão do Riocentro antes que a escritora nigeriana subisse ao palco, o que aconteceu com mais de 45 minutos de tardança na noite desta sexta-feira na Bienal do Livro.

Era o momento de maior destaque da lisura do evento carioca. Quase às oito da noite, a atriz Taís Araujo apareceu atarantada com um vestido branco, cabelo recluso num coque, confessando porquê estava honrada em “ter a chance de conversar com uma mulher que tem a mesma idade” que ela “e conversa tanto com a contemporaneidade”.

Mas as dificuldades da palestra mais esperada e divulgada da Bienal não pararam na vagar para debutar. A tradução prevista pelo evento deu problema —o que fez com que a própria Taís tivesse que improvisar e transcrever ao público ela mesma o que Chimamanda estava respondendo em inglês, além do trabalho de mediação que tinha sido convidada para fazer.

“Hoje estou daquele jeito, ela sobe, ela desce, ela dá uma rodada”, brincou a atriz a notório ponto, andando para lá e para cá com o microfone. Foi mesmo meio caótico. “Vai lá, Raquel!”, gritou uma espectadora, lembrando a protagonista de “Vale Tudo” que aparece com o rosto de Taís de segunda a sábado na televisão.

As coisas entraram mais nos eixos quando a editora da nigeriana na Companhia das Letras, Stéphanie Roque, assumiu de supetão a função de tradutora e a autora fez uma saudação a Taís. “Toda vez que uma mulher negra rompe barreiras porquê você fez, eu me sinto pessoalmente orgulhosa”, afirmou para uma plateia que já estava numa mistura de êxtase e nervosismo.

Conceição Evaristo acompanhou a conversa da primeira fileira, sendo aplaudida intensamente quando chegou para se sentar. Seguiu as palavras de Chimamanda com a ajuda de uma tradutora que falava ao pé de seu ouvido —e se levantou quando Taís apontou para ela e disse seu nome ao fazer uma pergunta sobre a relação da literatura da nigeriana com a teoria de “escrevivência”. Foi ovacionada de novo.

Chimamanda disse que grafar, para ela, é uma premência. “Não vejo a escrita porquê uma curso, mas porquê uma vocação. Eu realmente acredito que meus ancestrais me deram esse dom de grafar. Tenho muita sorte de ser lida, mas mesmo se eu não tivesse esse público maravilhoso, eu ainda ia estar lá escrevendo em qualquer lugarzinho escondido.”

Mais tarde, elas ressaltaram a comunidade de mulheres que se reforçam em clubes de leitura e dividindo experiências de escrita para entender seu lugar no mundo. “Os homens deveriam ler mais”, apontou a escritora, para diversão de uma plateia muito feminina. “Muitos dos problemas do mundo seriam solucionados se os homens lessem mais.”

A nigeriana é um dos maiores nomes da literatura global hoje, tendo ganhado renome com obras porquê “Meio-Sol Amarelo”, “No Seu Pescoço” e seu maior best-seller, “Americanah” —além de uma palestra famosa na plataforma TED sobre “os perigos de uma história única”. Posteriormente dez anos de hiato na ficção, ela lançou há três meses o romance “A Escrutínio dos Sonhos”.

A novidade obra entrelaça a história de quatro amigas, entre a Nigéria, a Europa e os Estados Unidos, de personalidades bastante distintas —a autora destacou seu afeto por Kadiatou, inspirada numa imigrante real que foi vítima de um escândalo público ao ser abusada sexualmente por Dominique Strauss-Kahn, logo diretor do FMI.

O início do evento atrasou, porquê tinha retardado uma entrevista coletiva dada por Chimamanda a um grupo de jornalistas logo antes. Segundo sua assessoria, ela ficou presa no trânsito provocado por um acidente no caminho para a Barra da Tijuca.

Na entrevista também marcada por desentendimentos de tradução, ouviu perguntas com atenção e refletiu com ponderação. Quando questionada por que não era tão famosa em outros países da África, ofereceu uma reflexão sofisticada sobre a dificuldade de tradução dentro do continente.

“Conheço muito pouco da literatura dos países africanos francófonos, e a dos que falam português é quase forasteiro para mim”, diz a autora, que escreve em inglês. “Do mesmo modo, meus livros em gálico são caríssimos nesses lugares. O trabalho editorial ainda é tão marcado pelo colonialismo. Só fui perceber isso quando me tornei escritora.”

Chimamanda ainda fala no Rio neste final de semana no Festival LED e fará uma palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, na segunda-feira às 20h. A palestra teve que ser transferida do auditório do Mackenzie para o Teatro Renault, pelo excesso de demanda por lugares —que ainda estão à venda.

O jornalista viajou a invitação da Bienal do Livro

Folha

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