Clarice Entrevistadora Sabia Pescar Indizível Dos Famosos 03/12/2024

Clarice entrevistadora sabia pescar indizível dos famosos – 03/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Entrevistar grandes personalidades, acostumadas a dar centenas de entrevistas ao longo da curso, exige mais do que técnica jornalística. É preciso que a máscara forjada na vida pública pela notoriedade que responde seja deixada de lado para escavar uma faísca de verdade, alguma coisa que seja revelado.

Clarice Lispector sabia lançar a isca em uma transporte muito pessoal e radical da conversa para voltar com o indizível, uma vez que se pode ver na coletânea “Clarice Lispector Entrevista”, que acaba de chegar em versão ampliada às livrarias.

A técnica de Clarice variava conforme a personalidade de cada entrevistado —alguns amigos até, uma vez que Tônia Carrero, Nélida Piñon e Hélio Pellegrino. A Nelson Rodrigues, a escritora avisa de antemão que deseja uma entrevista dissemelhante e que entre as muitas facetas do dramaturgo, gostaria que ele revelasse somente uma, a da verdade.

A Jorge Querido, ela ousa pedir que faça uma sátira dos próprios livros, o que o faz manifestar que “são rudes, sem finuras, nem filigranas de venustidade (…) são pobres de linguagem e muitíssima coisa mais”. “São livros simples de um contador de histórias da Bahia.”

Organizado pela professora britânica Claire Williams, patrão do Departamento de Literatura e Cultura Brasileira na Universidade de Oxford, o livro reúne 83 entrevistas, sendo 35 inéditas.

Quase todas foram escritas no formato pergunta e resposta, no jargão jornalístico divulgado uma vez que pingue-pongue, e produzidas paras as revistas Manchete e Fatos & Fotos: Gente, além das que estão no livro “De Corpo Inteiro”.

A coletânea traça um pintura cultural, esportivo e político do país através de expoentes da idade —de Maysa e Tom Jobim, passando por Djanira e João Saldanha, até Oscar Niemeyer e Rubem Braga.

Dentre as que não foram publicadas na prelo, estão a de Emerson Fittipaldi, feita numa ponte aérea quando Clarice, “por pura farra”, perguntou se o piloto não poderia dar uma entrevista durante o voo.

O livro traz também a tarifa datilografada por ela para uma entrevista não realizada com Carlos Lacerda, em que a escritora começa questionando se ele antipatizava com ela. Tudo porque na única vez em que se viram, em um jantar de gala na Embaixada do Brasil em Washington, Lacerda não lhe dirigiu uma única vocábulo, mesmo tendo se sentado ao seu lado.

A coletânea revela que Clarice perseguia, assim uma vez que em sua literatura, as entrelinhas, ou seja, quando o dito e o não dito se tornam inseparáveis e criam novo sentido.

É uma vez que se ao entrevistar, ela usasse a pergunta e suas próprias confissões uma vez que isca. Desta forma, pescava alguma coisa distante de respostas padrão que celebridades, artistas, esportistas e políticos trazem na ponta da língua.

Entrevistadora e entrevistada ao mesmo tempo, Clarice fazia pequenas revelações sobre si ao formular as perguntas e muitas vezes recebia os entrevistados em seu próprio apartamento no bairro do Leme, no Rio de Janeiro. Temas clariceanos aparecem com frequência, com perguntas sobre paixão, morte, solidão, fracasso, geração.

Se Clarice, uconsiderada uma figura enigmática, abria uma brecha para se revelar um pouco, o entrevistado terminava por permanecer à vontade a ponto de aproveitar para matar a própria curiosidade sobre ela. A troca ocorre em universal com artistas e escritores, abrindo uma reveladora discussão sobre processo criativo.

O repórter Marques Rebelo quer saber se o história “A Penosa” foi fruto de um trabalho enorme. Clarice responde que o escreveu em muro de 40 minutos, “o tempo de desancar uma máquina”. Chico Buarque pergunta se a escritora, ao ter uma teoria para um romance, pode reduzi-lo a um história. “Não é muito assim, mas se eu falar mais a entrevistada acaba sendo eu”, diz e retoma a transporte da entrevista.

No conjunto, a jornalista e a escritora Clarice se encontram e é provável saber mais não somente sobre seus entrevistados, mas também sobre ela.

Ao fechar a entrevista com Elis Regina, pega uma carona com a cantora, onde ficam ainda mais à vontade. Ela encerra o texto com suas impressões sobre uma das maiores estrelas do país, sem indiscrições.

“Infelizmente não posso transmitir a conversa, que me mostrou uma Elis Regina responsável, misteriosa nos seus sentimentos, delicada quanto aos sentimentos dos outros. Uma Elis Regina, enfim, que tem mais problemas do que o de ser acusada de mau coleguismo.”

Clarice quer saber o íntimo, o intrínseco da coisa —o que é muito dissemelhante de vida pessoal.

Em seu texto de apresentação, Claire Williams esclarece que fazer entrevistas eram também uma “tentativa de sobrevivência financeira”. O trajo de a literatura não ser a principal nascente de renda da maior segmento dos escritores consta em vários dos diálogos.

Pergunta a Nelson Rodrigues em quantos empregos ele se mantém escrevendo. “Tenho três colunas diárias, obrigatórias (…) Quando vou ortografar um romance ou uma peça, estou em plena estafa.”

Zagallo conta que poucos jogadores atingem uma situação econômica que lhes garanta o horizonte, ao que ela complementa que os escritores, com a exceção de Querido e Érico Verissimo, não podem se sustentar escrevendo livros.

Nas entrevistas, Clarice oferece uma percepção ampliada do diálogo entre as palavras e as não palavras que sua literatura tece. Parafraseando a escritora, já que se há de entrevistar e remunerar boletos, “que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas”.

Folha

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