Como Casey Mcquiston Luta Por Idioma Neutro Em Seus Livros

Como Casey McQuiston luta por idioma neutro em seus livros – 29/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Em “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, Casey McQuiston imagina uma veras paralela em que Donald Trump não existe, e o fruto da presidente democrata dos Estados Unidos se apaixona pelo príncipe da Inglaterra. Se na vida real essa teoria ainda parece absurda, no livro deu notório.

A obra viralizou no TikTok, vendeu milhares de cópias e virou filme pela Amazon, com uma sequência já confirmada.

Agora, na ressaca do sucesso, McQuiston tenta uma história mais plausível com a comédia romântica “Combina?”, sobre ex-namorados que são forçados a viajar juntos pela Europa, onde descobrem que ainda se amam.

Mesmo que seja mais pé no soalho, o livro também é perigoso. Isso porque Theo, um dos protagonistas, é uma pessoa não binária, ou seja, que não se identifica com o gênero masculino nem com o feminino, o que forçou a editora e o tradutor brasílio a examinarem minúcias do texto para extinguir quaisquer marcas de gênero.

Traduzido por Guilherme Miranda e publicado pela Seguinte, selo juvenil da Companhia das Letras, o livro se rende à chamada linguagem neutra, e usa pronomes inventados, uma vez que “elu” e “delu”.

A questão é que, ainda que essa variação linguística venha ficando popular na internet, ela só é conhecida por uma tira pequena da população, sobretudo entre os mais jovens e quem é da comunidade LGBTQIA+.

Pessoas que não sabem zero sobre linguagem neutra devem estranhar o termo “autore”, escrito na toga embaixo do nome de McQuiston, que também se identifica uma vez que uma pessoa não binária.

McQuiston, que nasceu nos Estados Unidos, diz à Folha ter se surpreendido ao desvendar que a língua portuguesa é tão baseada em gênero quando visitou o Brasil há dois anos.

“Por onde eu ia, tentávamos resolver quais pronomes usar para se referir a mim”, conta. “É interessante quando eu chego a esses países cheios de pessoas ‘queer’ e digo ‘ei, pessoal, o que vamos fazer sobre esse problema de linguagem?’”

Redigir “Combina?” não foi tão difícil para McQuiston porque, na sua língua materna, os adjetivos são geralmente neutros. “Beautiful”, por exemplo, serve para invocar homens e mulheres de bonitos. Lá também é mais geral o pronome neutro “they”, já usado por artistas uma vez que Sam Smith e Demi Lovato.

“Sei que dei trabalho para os tradutores. Mas fico feliz de talvez estar abrindo espaço para essas conversas e, quem sabe, resolver algumas coisas. Quero ver uma vez que essas línguas, tão belas, vão evoluir para serem faladas também por pessoas LGBTQIA+”, diz McQuiston.

Foi mesmo um processo complicado, afirma Guilherme Miranda, o tradutor. Ainda que “Combina?” não tenha sido seu primeiro trabalho com personagens não binários, oriente continha um paisagem particularmente difícil: Theo só diz ao leitor que não se identifica uma vez que varão nem mulher lá pela metade da história, quando é Kit, seu par romântico, quem passa a narrar.

Antes, sob a narração de Theo, Miranda precisou encontrar formas de extinguir as marcações de gênero sem usar termos neutros uma vez que “elu” e também sem distorcer adjetivos. O jeito, conta o tradutor, foi procurar termos uma vez que “valente”, “independente”, que são agênero.

Linguagem neutra é um tema que inflama discussões. Muitos acadêmicos e intelectuais condenam o uso, dizendo que dificulta a construção de frases. Há também uma reprimenda de políticos conservadores. O ex-presidente Jair Bolsonaro, durante sua gestão, afirmou que a variação linguística é um “aparelho na ensino”.

Por outro lado, ativistas defendem que as línguas são vivas e devem se harmonizar às mudanças da sociedade. “Tem sido maravilhoso ver uma vez que tantas pessoas com quem venho conversando para oriente livro estão abertas a gerar novas regras”, diz McQuiston.

“Combina?” é o quarto livro de McQuiston, que vem formando um público leal no Brasil desde “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, a obra voltada a jovens mais vendida do país em 2021, segundo o PublishNews, site especializado na cobertura do mercado editorial.

McQuiston atribui o sucesso à demanda por histórias fofas no caos da pandemia. “Foi um escapismo para uma veras escolha, envolve fatores que eu nunca poderia ter previsto. Tento manter isso em mente. Mas pensar em vendas é a pior coisa que um artista pode fazer, porque é mal surge arte ruim.”

Folha

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