Conheça a vida nada ordinária do poeta paulo leminski

Conheça a vida nada ordinária do poeta Paulo Leminski – 05/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Para conforto da literatura, a obra de Paulo Leminski sempre teve muito mais destaque que sua biografia. Graças em grande segmento ao próprio poeta curitibano, responsável prolífico e obcecado por vulgarizar sua produção, mas que pouco se lixava para sua imagem pessoal –vestia-se com desleixo, mal cuidava dos dentes e não tinha documentos.

Completados quase 36 anos de sua morte –em 1989, aos 44 anos–, o interesse pelo trabalho do responsável de “Caprichos & Relaxos” só cresceu, a partir sobretudo do lançamento da selecta “Toda Verso”, em 2013. Fatalmente o fenômeno será potencializado pela próxima edição da Flip (Sarau Literária Internacional de Paraty), de 30 de julho a 3 de agosto, que terá Leminski uma vez que homenageado.

Parece também inevitável que a movimentação atraia mais atenção à vida privada do poeta. É uma trajetória romanesca, com capítulos mirabolantes —uma vez que o do rebento que ele registrou uma vez que seu, mas não criou—, cujos contornos dramáticos vieram à tona há pouco mais de um mês.

Em dificuldades financeiras, Paulo Leminski Neto estava vivendo com a esposa, Cláudia, nas ruas do Rio de Janeiro, uma vez que revelou o site Farofafá. Ela chegou a ser espancada por um delinquente que tentou estuprá-la. Ajudados por doações de amigos, conseguiram se fixar num hotel no meio do Rio e estão prestes a se mudar para Curitiba.

“Cansei de tolerar”, diz ele em entrevista, aludindo à guerra judicial que trava para ser reconhecido uma vez que herdeiro do poeta. Um escritório de Cascavel (PR) o representa na disputa contra as filhas de Leminski, Áurea e Estrela, e a mãe delas, a poeta Alice Ruiz. Numa ação que corre na Justiça do Paraná, Leminski Neto pede que elas prestem contas “sobre todos os valores recebidos a título de direitos autorais” a que ele teria recta.

Cantor e músico, Leminski Neto cresceu com outro nome, Luciano da Costa. Sua mãe é Nevair Maria de Souza, a Neiva, primeira mulher de Leminski. A controvérsia em torno de seu pai segue ocasião. Quem o criou e registrou uma segunda certificado de promanação junto com a mãe foi Ivan da Costa, um dos melhores amigos de Leminski, que nos anos 1960 fundou com ele o grupo Áporo,para combater o “provincianismo cultural” de Curitiba.

Quando Leminski começou a namorar Alice Ruiz, ainda era casado com Neiva, que por sua vez começou a namorar Ivan. Todos viviam num apartamento no meio da capital paranaense que era uma espécie de república hippie regida pelo espírito de paixão livre daquele final dos anos 1960.

O bebê de Neiva nasceu em 1968, passou a ser chamado unicamente de Kiko, e Leminski, além de registrá-lo, foi apresentado uma vez que o pai. Embora namorando Alice, que viria a ser a sua principal parceira de vida e ideias, o poeta se manteve casado oficialmente com Neiva até 1976 –quando ela e Ivan já viviam com o pequeno Kiko/Luciano no Rio, onde ele cresceu e passou a maior segmento da vida.

“Os quatro [Leminski, Neiva, Alice e Ivan] fizeram uma farsa para ajudar o garoto a ter um pai”, afirma o jornalista Toninho Vaz, responsável da biografia “O Bandido que Sabia Latim”. Foi só por meio do livro, lançado em 2001, que Luciano soube que havia sido registrado uma vez que Leminski Neto. Tinha portanto 33 anos –hoje tem 57. Depois do baque, adotou o nome do primeiro registro e com ele tirou novos documentos.

“Embora o garoto seja vítima disso tudo, ninguém teve a intenção de vitimá-lo. Mas quando ele acordou com a veras de que não era rebento do Ivan e soube pelo meu livro que era rebento do Leminski, a cabeça dele fundiu”, diz Vaz.

Alice e as filhas, que responderam à reportagem juntas e por escrito, reconhecem que Leminski registrou a rapaz, “conforme exigia a legislação da estação, em virtude de seu matrimónio” com Neiva, mas mantêm no ar a incerteza sobre quem é o pai biológico.

“Ivan da Costa foi quem, ao que nos consta, assumiu a paternidade e a exerceu. Seria necessário perguntar às pessoas que participaram do novo registro —Paulo Leminski Fruto, Neiva e Ivan (estes dois últimos ainda estão vivos). O que sabemos é que Paulo Leminski Fruto e Neiva afirmaram não estar mais juntos no período em que a rapaz foi concebida.”

Dizem ainda que Leminski não deixou patrimônio material, só direitos autorais, cuja gestão é realizada por elas “com responsabilidade e dedicação à preservação e divulgação da obra do responsável”.

Leminski Neto guarda um examinação de DNA feito em 2001 que provaria que Ivan não é seu pai. Procurados, Neiva e Ivan não responderam à reportagem. Entrevistada por Toninho Vaz para a biografia (há muro de 25 anos, portanto), Neiva disse que o pai biológico é Ivan. Amigos de Leminski, incluindo o próprio biógrafo, ressaltam a semelhança física entre Leminski Neto/Luciano e o poeta. “É igual. Tem até as pernas arqueadas do Paulo”, comenta Vaz.

Em meio ao turbilhão, o músico rompeu com a mãe e Ivan, a quem cresceu chamando de pai e hoje trata por padrasto. Suplente palavras duras a ambos e diz que os está processando. “Eles tiveram a chance, quando ele [Leminski] estava vivo, quando eu estava crescendo, de pelo menos falar a verdade. Mas mantiveram essa pataratice durante anos. E todo mundo sabia, menos eu”, queixa-se Leminski Neto.

Ex-integrante, uma vez que vocalista ou guitarrista, de bandas cariocas de heavy metal, ele prepara, em conjunto com Cláudia, o livro “Pela Desordem dos Fatos”, um “quotidiano estético poético”, a ser lançado pela editora curitibana Toma Aí Um Poema.

A romance da qual faz segmento é unicamente um migalha da vida zero ordinária do varão que o registrou uma vez que rebento. Leminski tinha progénie polonesa do lado paterno (era o primogênito do sargento do Tropa Paulo Leminski) e portuguesa, afro e indígena do lado materno.

Juvenil, foi oblato no Mosteiro de São Bento, no meio de São Paulo, onde aprimorou o latim que começara a aprender no Escola Paranaense. Posteriormente um ano, foi aconselhado pela direção a trespassar, quando restou evidente que sua inquietação era incompatível com os hábitos monásticos –entre outras transgressões, colecionava retratos de mulheres seminuas.

Poeta supra de tudo, Leminski foi um artista múltiplo, exercitando seu talento vulcânico uma vez que romancista (seu primeiro livro é o clássico experimental “Catatau”), compositor de canções (suas mais conhecidas são “Verdura”, gravada por Caetano, “Mudança de Estação”, por A Cor do Som, “Valeu”, por Moraes Moreira, e “Promessas Demais”, por Ney Matogrosso), crítico, ensaísta, tradutor, publicitário, colunista de jornal e TV, professor de cursinho e tira preta de judô.

Qual um discípulo de William Blake, percorreu o caminho do excesso rumo à transcendência e à sabedoria. Morreu de cirrose hepática, saldo do alcoolismo que não conseguiu ou não quis interromper mesmo já doente, e teve a vida pontuada por outras tragédias familiares. O primeiro rebento dele com Alice, Miguel, morreu de leucemia aos 10 anos. O único irmão, Pedro, suicidou-se aos 38, em meio à depressão e ao alcoolismo, numa estação em que estavam brigados –viviam entre tapas e beijos.

A principal chave para desbravar essa vida sui generis é justamente a biografia “O Bandido que Sabia Latim”, de Toninho Vaz. Noutro sinal do enrosco que paira sobre o legado do poeta, o livro em si é branco de controvérsia. Nasceu de uma sugestão de Alice Ruiz, tal qual testemunho Vaz reconhece ter sido fundamental para a obra, mas mais tarde seria censurado por ela e pelas filhas.

Em 2013, as três vetaram uma novidade edição de “O Bandido…” –quase idêntica à original, em que o o responsável acrescentou umas poucas informações sobre o suicídio do irmão– e de um livro biográfico de Leminski escrito por Domingos Pellegrini. Alegaram, entre outras coisas, que não concordavam “com a atitude de explorar fatos trágicos” e com a “inclusão de trechos nas biografias que violam a intimidade e honra do poeta”.

Uma novidade edição do livro de Vaz só sairia em 2022, sete anos depois de o Supremo Tribunal Federalista julgar inconstitucional a exigência de aprovação prévia para publicação de biografias. O gratulação a “Alice, Áurea e Estrela, pontos de luz e referência desde o início”, que constava nas primeiras edições, foi excluído da atual. Vaz chegou a processá-las, mas terminou desistindo da ação.

Outro ex-parceiro das herdeiras legais e gestoras da obra de Leminski é o cenógrafo Miguel Paladino, responsável pela montagem de duas grandes exposições sobre o poeta, uma Ocupação no Itaú Cultural e “Múltiplo Leminski”, que percorreu várias cidades. A reportagem apurou que, em seguida discordar de exigências de Alice quanto à montagem de uma das vestígios, ele desistiu da parceria. Procurado, Paladino não quis comentar o caso.

Alheia às escaramuças, a última mulher de Leminski, a cineasta Berenice Mendes, com quem o poeta morava em Curitiba quando morreu, diz que lamenta a situação envolvendo Leminski Neto e torce para ele e a mulher se recuperarem.

Revela que estava pejada de Leminski e sofreu um monstruosidade instintivo em seguida à morte dele. “Com o susto da morte, perdi a rapaz. E logo perdi meu primeiro longa [com a extinção da Embrafilme], que estava pronto para ser filmado. Eu tinha 29 anos. Foi uma grande porrada para mim.”

Berenice conta que, uma vez que o rumor sobre o rebento não reconhecido circulava por Curitiba, ela perguntou a Leminski a reverência. “Ele me disse: ‘Bere, a gente era muito jovem, vivíamos em comunidade. Ela [Neiva] não tinha certeza de quem era a rapaz. Ela optou em assumir essa rapaz uma vez que sendo do Ivan. E foi embora com ele. A mim coube respeitar’.”

E, para Berenice, quem é o pai de Leminski Neto/Luciano? “Não conheço Ivan pessoalmente, mas vejo muita semelhança [do músico] com o Paulo. O biotipo eslavo, os braços, as pernas, os olhos. O Paulo era aquele biótipo, uma vez que se tivesse as feições cortadas a faca, e vejo isso nesse menino.”

Colaborou Catarina Scortecci

Folha

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