Conheça Bora Chung, Sul Coreana Autora De 'coelho Maldito' 15/03/2024

Conheça Bora Chung, sul-coreana autora de ‘Coelho Maldito’ – 15/03/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Os excrementos de uma mulher formam uma cabeça que passa a assombrá-la, perseguindo-a em vasos sanitários. A figura monstruosa cresce e, quando se torna uma versão jovem da personagem, condena-a a tomar seu lugar dentro dos encanamentos.

Um lucivelo em formato de coelho leva toda uma família à ruinoso. Quando o neto de um empresário toca na luminária, passa a ter alucinações com o bicho, que rói seu cérebro.

Um prédio ignorado, vendido a preço de banana, atormenta seus inquilinos, um dos quais acaba esquartejado em uma panela de sopa.

As histórias estão em “Coelho Maldito”, primeira obra da sul-coreana Bora Chung publicada no Brasil. Em dez contos perturbadores, a coletânea expõe até que nível a crueldade pode chegar e o caráter destrutivo da ganância humana.

“Queria que todas as coisas horríveis e injustas do mundo não acontecessem e que pessoas inocentes não tivessem que suportar. Não posso mudar a veras mas, pelo menos nas minhas histórias, posso matar as pessoas más e me divertir durante o processo”, diz a escritora.

Chung ainda usa essas narrativas para questionar a firmeza de instituições porquê a família e o tálamo, enfatizando porquê elas privilegiam os homens em detrimento das mulheres.

Um exemplo é “Menorreia”, que acompanha uma jovem que começa a fazer uso de anticoncepcionais para regular o fluxo menstrual. Depois de alguns meses tomando pílula, ela recebe o diagnóstico de que está pejada mesmo sem ter tido relações sexuais e precisa restaurar um marido que aceite ser pai da suposta muchacho.

O enredo foi inspirado em uma experiência da própria Chung. Aos 28 anos, ela começou a ter sangramentos anormais por justificação de um cisto no ovário. Quando marcou uma consulta com um ginecologista, sua mãe quis impedi-la de ir por ela não ter um marido.

“Eu era legalmente, fisicamente e mentalmente uma adulta, mas meus ovários claramente pertenciam a um face que eu nunca nem conheci”, afirma. “Partiu meu coração saber que muitas leitoras de diferentes países se identificaram com a história e me disseram que tinham tido experiências semelhantes.”

Publicado na Coreia do Sul em 2017, “Coelho Maldito” foi lançado nos Estados Unidos em 2022 e foi finalista do International Booker Prize naquele mesmo ano. A autora diz que a coletânea traz trabalhos que escreveu em diferentes fases da vida, entre 1998 e 2016.

Os contos mesclam gêneros literários porquê terror, contos de fadas, fábulas e ficção científica, mas ela afirma que o folclore é o seu predilecto. “Cresci ouvindo mitologia coreana de 1.500 a 2.000 anos detrás. Essas histórias se passam em regiões que conheço da Coreia, e seus personagens são coreanos, mas que naquela era aparentemente viviam com dragões, tigres e todo o tipo de potestade”, afirma. “Adoro a sensação de que magia e mitos vivem e respiram ao meu volta.”

Irônica, ela ressalta, porém, que não existe uma praga idêntica à do raconto que dá nome à coletânea no folclore de seu país. “Pensei que alguém podia tentar reproduzir, portanto inventei tudo que está no raconto. Você pode personalizar um lucivelo para que ele tenha a forma de um coelho e tentar fazer o que quiser, mas zero vai sobrevir”, diz.

Sua produção remete a uma vaga recente de literatura de horror feminista, que tem a americana Carmen Maria Machado, autora de “O Corpo Dela e Outras Farras”, porquê uma de suas principais representantes. Mas Chung pontua que sua escrita nasceu unicamente da sua experiência porquê uma mulher que mora na Ásia hoje.

“Uma vez que ninguém me disse o que não grafar, escrevia para mim mesma, sobre as coisas que sabia, e isso acabou sendo um terror feminista. É triste”, afirma. “Silenciar a voz feminina é uma propriedade universal do patriarcado, e todos nós conhecemos os horrores que acontecem sob esse véu de silêncio forçado.”

Independentemente de seu gênero, porém, todos os protagonistas dos contos se deparam com qualquer tipo de maldição que os condena à ruinoso. Eles sempre parecem carregar certa resignação com esses cenários. Não há finais felizes, mas a escrita de Chung, porquê pontuou uma sátira da New Yorker, traz lirismo ao horror.

Chung diz que sua obra não procura trazer soluções, e sim criticar o estado da humanidade. Uma angústia que, segunda ela, é partilhada por outros que vivem na mesma região do mundo que ela.

“A sociedade em que vivo é altamente competitiva e avança em uma velocidade esmagadora. É quase porquê se o país inteiro tivesse uma certa paranoia ou susto profundo de que se não competirmos ou nos mexermos, se relaxarmos e cuidarmos uns dos outros por um segundo, tudo vai desmoronar e a Coreia do Setentrião nos invadirá.”

Folha

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