Crítica: Fazendo Meu Filme Adapta Paula Pimenta Com Afeto

Crítica: Fazendo Meu Filme adapta Paula Pimenta com afeto – 12/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Para as crias de comédias românticas dos anos 1990 e 2000, o mercado cinematográfico atual tem sido um deserto. Vez ou outra um título labareda a atenção e é vendido que a era de ouro do gênero pode estar de volta. Não está.

É uma grata surpresa, portanto, que “Fazendo Meu Filme: O Filme”, adaptação do livro mais famoso de Paula Pimenta, conquiste, de forma despretensiosa, a simpatia dos corações ávidos por um bom enredo chuva com açúcar.

O best-seller é de 2008, foi gravado em 2021 e chega ao Amazon Prime nesta quarta-feira (14). A espera dos fãs foi longa e valeu a pena, porque o roteiro é bastante leal.

Estamos em Belo Horizonte, ano 2000. A protagonista Fani (Bela Fernandes) é uma juvenil de 16 anos tímida, que adora passar as tardes de domingo assistindo a comédias românticas em DVD ou no cinema. Entre seus títulos favoritos, que ela define porquê “filmes de amorzinho”, faz referência a “O Matrimónio do Meu Melhor Companheiro” (1997) e “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999).

Em paralelo ao seu paixão pela sétima arte, ela narra suas desventuras no ensino médio, porquê a paixão platônica pelo professor de biologia e o distanciamento do seu melhor colega Leo (Xande Valois).

O conflito: por pressão da mãe (Samara Felippo), Fani fará um intercâmbio para a Inglaterra, mas não quer deixar o Brasil para trás. São questões, é simples, de uma classe média que estuda em colégios particulares e não tem preocupações financeiras. Mas nem por isso deixa de ser universal ao abordar os hormônios de qualquer puberdade.

Para manter a primeira pessoa do livro, Fani quebra a quarta parede com seu fluxo de consciência. No primícias do filme, as interrupções são bruscas e comprometem o ritmo, mas depois funcionam porquê alívios cômicos.

A adaptação traz a clássica história de melhores amigos que se apaixonam, mas o universo conspira contra seu final feliz. É uma era do paixão pré-smartphones, em que os personagens se comunicam por bilhetinhos durante a lição, emails, desabafos em agendas e as nostálgicas ligações interurbanas do telefone fixo.

O filme de Pedro Antônio —que já dirigiu as globochanchadas “Tô Ryca” e “Meu Tio Quase Perfeito”— diz mais ao público brasiliano que produções hollywoodianas porquê “Todos Menos Você”, filme queridinho do TikTok ainda em papeleta nos cinemas, que se vale de toda sorte de piadas toscas.

“Fazendo Meu Filme” não quer reinventar a roda —sua perdão está justamente na boa apropriação de clichês. Há química entre os protagonistas, um elenco de base entrosado (destaque às amigas interpretadas por Alanys Santos e Júlia Svacinna), reviravoltas e declarações românticas para o público suspirar. E um toque brasiliano, com “Vou Deixar”, do Skank, e tomadas com cartões-postais de Belo Horizonte.

Curiosamente, faltam mineiros. Todo o elenco principal tem sotaque paulistano ou carioca. Só a própria autora, Paula Pimenta, que aparece porquê figurante em dois momentos, resgata esse tom que é uma das graças do livro.

Também poderia ter sido mais explorada a personalidade extrovertida do Leo que, nos livros, é um juvenil simpático e popular. Apesar do bom envolvimento romântico entre Valois e Fernandes, sua paixão juvenil é a única faceta que vemos. Um testemunha desavisado pode não entender por que os dois são melhores amigos.

Notável ainda porquê o roteiro aderiu ao politicamente correto, em detrimento de certas ousadias do romance de Pimenta que deixam certas cenas com um tom pudico.

É o caso da embriaguez de Fani durante uma sarau, substituída no filme por remédios para dormir. Em outra passagem do livro, um valentão joga uma pedra no sege dos pais de Leo, que ele dirige na surdina, sem habilitação. No filme, o conflito some, e é o pai do garoto que vem buscá-lo numa confraternização.

De qualquer forma, em tempos que se almeja tanto a nostalgia, “Fazendo Meu Filme: O Filme” consegue, porquê de praxe no universo de Paula Pimenta, trazer jovens adultos de volta à juvenilidade.

Conflitos singelos retratam uma idade tão pura da vida e, por isso, levante longa é sincero em sua proposta e vem para enternecer o coração em uma tarde de feriado.

É uma pena que um filme tão ligado a formatos analógicos fuja das telas de cinema e vá direto para o streaming. Podemos ter cá nossa joia das comédias românticas infantojuvenis.

Folha

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