Faça um treino rápido. O que seria da literatura infantojuvenil brasileira sem Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Marina Colasanti, Angela Lago, Tatiana Belinky, Clarice Lispector, Heloisa Prieto, Eva Furnari, Maria Clara Machado, Cecília Meireles?
E esses são exclusivamente alguns nomes. Daria para passar horas e horas elencando mulheres fundamentais para as letras e as artes visuais, artistas que mudaram os rumos de leitores, livrarias e editoras do país.
Neste Dia da Mulher, conheça inferior cinco novos livros para crianças e jovens publicados por escritoras e ilustradoras brasileiras contemporâneas. Além de flores e parabéns, presenteie literatura neste dia 8 de março. Valorize o trabalho de autoras. Compre seus livros.
Livro Tem Língua?
Mais do que um livro, estamos cá diante de um encontro. O mais evidente é o de três mulheres: a união das escritoras Aliã Wamiri Guajajara e Heloisa Pires Lima com a ilustradora Fernanda Rodrigues. Mas as trocas, conversas, entroncamentos e encruzilhadas vão muito além. Na obra, tudo aparece espelhado, duplo, interligado. O próprio texto se divide em dois, mas sem deixar de ser um. De um lado, apresenta palavras da língua ze´egete, do povo guajajara, porquê “ywytu” (vento), “kyhaw” (rede) ou “pirá” (peixe). De outro, desfila termos com raízes africanas. Mas não há um muro entre eles. Aliás, é o contrário. Um linguagem segura a mão do outro e ambos brincam com a língua brasileira. Esse encontro aparece refletido ainda nas ilustrações de Rodrigues, que abusam da simetria e do revérbero, sempre com cores e estampas que fazem referência ao enredado de raízes do Brasil. Com edição pensada para crianças pequenas, “Livro Tem Língua?” encanta também adultos ao promover uma sarau de linguagens e servir de espelho —nele, não enxergamos exclusivamente nós mesmos, mas os outros, o próprio país e as pontes que nos conectam.
O Livro do Riso
Num dos livros mais importantes do mundo, a “Poética”, Aristóteles afirma a certa profundidade que vai falar mais adiante sobre a comédia. O problema é que isso não acontece. Nos escritos que nos chegaram desde a Grécia antiga, o filósofo analisa somente a tragédia e não escreve nenhuma risco sobre o riso e o cômico. Esse mistério fez com que se especulasse que a “Poética” estaria incompleta, sem a secção sobre a comédia, supostamente perdida. Por sinal, esse é o pontapé de “O Nome da Rosa”, romance mais famoso do italiano Umberto Repercussão. “O Livro do Riso”, de Denise Gonçalves, talvez preencha esse buraco deixado por Aristóteles há milhares de anos. É evidente que isso cá é uma piada —mas tudo muito, porque a obra é toda assim, enxurrada de tiradas e risadas a cada virar de página, tanto no texto quanto nas ilustrações. Sem se levar a sério e prestes a rachar o ponta, “O Livro do Riso” transita porquê um palhaço entre a ficção e a enciclopédia para submergir nas engrenagens do humor. De quem foi o primeiro riso da história? Por que algumas pessoas não riem? A risada é contagiosa? No final, há até um fiscalização de piadas para testar o seu riso frouxo.
Entre Tantos
É difícil transformar em palavras o impacto de folhear “Entre Tantos”, lançamento de Marilda Castanha, uma das principais artistas visuais do livro ilustrado brasílico. Isso porque a obra não se contenta em unir texto e ilustrações, mas é projetada para ir se transformando à medida que o leitor vira as páginas. Nas imagens, Castanha imprime a estética e as cores que a consagraram, enquanto o texto vai pelo caminho da verso, com quadras e rimas que falam sobre as transformações da vida e as mudanças que sempre acontecem ao nosso volta. É por isso que o movimento é tão importante para oriente livro. É no virar das páginas que ele se afirma. Recortes feitos no papel criam buracos na edição e formas geométricas vazadas, que mudam completamente de significado à medida que avançamos. A folha de uma vegetal se transforma em seguida na ouvido de um coelho. A cabeça de um gato se converte no corpo de um morcego. E assim por diante, porquê uma grande farra. Por fim, “entre tantas e tantos, de minuto a minuto… De lado a lado, tudo, tudo pode mudar”, já afirma o texto.
Quando Minha Mãe Voou no 14-Bis
“Minha mãe nunca andou de carrinho de rolimã, mas ela voou e desapareceu, tão ligeira que ó… nem rastro.” É no peugada dessa escassez e no vazio da saudade que Penélope Martins constrói a história de uma moçoila cuja mãe foi embora. A gente não sabe muito muito o que aconteceu, assim porquê não conhecemos o nome dela nem o da mãe. Mas, aos poucos, vamos ficando íntimos dessa complexa relação entre ambas, tudo a partir das memórias da narradora e da procura dela por explicações, pistas e significados para o sumiço. Mas zero é muito simples. “Minha mãe sabia ser muito malvada e é por razão disso que não sinto tantas saudades dela. Na maioria dos dias eu sinto, verdade, mas eu me lembro dos momentos em que ela sabia ser malvada e deixo a raiva aumentar até fazer passar a saudade”, fala a pequena. Enquanto Martins desenvolve uma delicada narrativa repleta de simbolismos para questões porquê luto e saúde mental, Cris Eich usa a metáfora do voo, muito presente em todo o texto, para produzir ilustrações repletas de asas, nuvens e certa melancolia misturada a doses de fantasia e esperança.
Era uma Vez uma Onça…
É grande a legião de bichos e criaturas que amedrontam crianças que não dormem à noite. No Brasil, os mais famosos são a cuca e o bicho-papão. Muitos países da América Latina têm também a figura do coco. Algumas histórias europeias dizem que o sandman arranca os olhos de meninos e meninas que ficam acordados. Pois Telma Guimarães e Isabela Santos acrescentam mais uma personagem a essa peneira: a onça-pintada. A partir de uma cantiga que ouvia na puerícia, Guimarães conta a história de um desses felinos que visitante a moradia onde vivem uma mãe e três filhos que não dormem. “Era uma vez uma onça,/ uma onça-pintada,/ que pegava garoto,/ garoto que não nanava”, canta a fera, enquanto lambe os bigodes. Se a trama se desenrola com a tentativa de ludibriar o predador, escritora e ilustradora acrescentam outras camadas ao livro. Guimarães espalha gotas de sororidade e cria um espelhamento entre as duas figuras femininas, a mãe e a onça. Já Santos faz a história ser ainda mais brasileira —não exclusivamente a família é negra, mas própria onça-pintada também é preta.
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