Espaço Retrô, Clube Dos Góticos Paulistanos, Ganha Livro 20/12/2024

Espaço Retrô, clube dos góticos paulistanos, ganha livro – 20/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Espécie de biografia do clube gótico Espaço Retrô —que reinou na Santa Cecília, no meio de São Paulo entre 1988 e 1998— a obra “Onde a Sarau (Quase) Nunca Acabava: A História (Rememorável) do Espaço Retrô” terá seu lançamento neste sábado (21).

E, em se tratando de um livro escrito pelo jornalista junkie Humberto Finatti, faz sentido que o evento seja uma sarau em outra vivenda noturna, no pub do Clube Outs, no meio da cidade.

Possessor de uma trajetória peculiar na prensa músico brasileira, Finatti lançou em 2017 sua autobiografia “Escadaria para o Inferno”, uma obra de três temas únicos —sexo, drogas e rock’n’roll.

Já oriente “Onde a Sarau (Quase) Nunca Acabava”, editado pela Terreno Estranho, pode até ser visto uma vez que uma prolongação de suas aventuras, já que Finatti adotou o Espaço Retrô logo em seu primeiro ano de existência, em 1988, e só foi rastejar para fora de seu porão uns dez anos depois.

“Testemunha ocular, personagem que trilhou os caminhos do excesso, acenou ao inferno, sobreviveu a enfermidades e, neste livro, oferece a versão gonzo finattica dos fatos”, avisa no prefácio o músico Rodrigo Carneiro, cantor do Mickey Junkies, que tanto se apresentou na vivenda em questão.

Curioso que o primeiro endereço do Espaço Retrô, um sobradão de janelas, porta e carpete vermelhos na rua Frederico Abranches —o segundo seria na rua Fortunato—, com uma pista de dança quadriculada no subsolo e muitos shows ao vivo, ficasse justamente em um espaço tão católico quanto o Largo da Santa Cecília.

Por fim, ali funcionava, e ainda funciona, a igreja de mesmo nome —e cujos padres devem ter rezado milhares de aves-marias e pais-nossos ao avistarem os darks e seres macabros que rolavam para fora do casarão pestilencial por volta das 9h de domingo, quando a balada de sábado terminava ali e a missa já começava cá.

Para narrar tais histórias, o Hunter Thompson da rua Augusta recorre, em primeiro lugar, às suas próprias memórias, ou pelo menos às que sobraram em seguida tantos anos de cimo consumo de cocaína, conforme ele conta no livro.

Ele também ouve algumas dezenas de personagens que frequentaram, trabalharam, cheiraram, inalaram benzina e transaram nos banheiros ou na pista do Espaço Retrô. Não é excesso: há entrevista com uma moça que perdeu a virgindade no sítio.

Outra conta o seguinte: “Fiquei também com o responsável deste livro, o Finatti, que tinha um visual exótico que lembrava muito os vocalistas das bandas de rock gótico: cabelos longos, ensebados e presos, e usava envoltório preta. Aliás, escrevia sobre música em veículos importantes. Simples que o ‘conjunto da obra’ Finatti se destacava na povaréu”.

Há também um trabalho de contexto, uma vez que a explosão do rock vernáculo em meados daquela dezena de 1980, quando “era muito fácil qualquer grupo compreender um disco de ouro —100 milénio exemplares comercializados— já em sua estreia discográfica”, escreve o responsável.

“Em pouco tempo, surgiram na capital verdadeiros templos hedonistas e de doutrinado ao novo som jovem que tinha tomado conta do país: Radar Tantã, Latitude 3001, Rádio Clube, Up&Down, Woodstock Music Hall, Kremlin, Toco e Overnight eram alguns desses endereços famosos do portanto novo e bombadíssimo rodeio de danceterias paulistanas. Mas dois dos principais locais —e mais rockers em sua programação— eram mesmo o Mulher Xoc e o Aeroanta.”

E daí aos clubes mais alternativos, mais escondidos e menos conhecidos, uma vez que Urbânia, Hoellisch, Cais, Der Tempel e, finalmente, o Espaço Retrô “um lugar de diversão noturna e devotado à cultura opção jovem totalmente fora dos padrões convencionais, onde os frequentadores eram personagens realmente bizarros, esquisitos e que causavam um choque visual nas pessoas ‘comuns’”, lembra o responsável.

“Entretanto, a vida não é um parque de diversões sem termo”, escreve ele, ao final da obra. E o tempo, cruel, cobrou seu preço. Finatti sofreu um AVC em 2022 e teve o lado esquerdo do corpo paralisado. O indumentária dificultou, mas, uma vez que se vê, não interrompeu a escrita desse livro.

Em 19 de janeiro, o livro ganhará um segundo lançamento com show do Mickey Junkies no teatro do Sesc Belenzinho, às 18h, seguido de bate-papo e sessão de autógrafos.

Folha

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