Quando a Feira do Livro anunciou a data de sua próxima edição em São Paulo, quem acompanha o mercado notou rápido a coincidência —os dias eram quase exatamente os mesmos da Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
O megaevento carioca acontece de 13 a 22 de junho, uma vez que se sabe desde abril. A feira organizada pela Associação Quatro Cinco Um divulgou na última semana que ocupará a região do Pacaembu de 14 a 22 de junho, abarcando o feriado de Corpus Christi, uma vez que já fez em duas edições passadas, e tomando nove dias, uma vez que começou a fazer em 2024.
Ainda que as fontes ouvidas pela reportagem em editoras sejam unânimes em reconhecer que os eventos têm públicos e perfis distintos, o pregão da data foi recebido com clima de preocupação e contratempo.
Isso porque as editoras dependem de uma mesma —e diminuta— equipe para organizar sua participação em eventos literários, o que envolve montar estandes, escoltar autores e vender livros. Algumas já admitem que não darão conta dos dois, e a pilar ouviu de profissionais em altos cargos, em suplente, expressões uma vez que “insanidade” e “gigantismo” para comentar a decisão da feira paulista.
Paulo Werneck, presidente da Associação Quatro Cinco Um, afirma que “não seria viável” realizar a feira em outro momento (veja a nota na íntegra ao final do texto).
“A Feira do Livro foi concebida para ser realizada durante o mês de junho, particularmente no feriado de Corpus Christi. A Feira se firmou no calendário da cidade nessas datas, e se firmar no calendário significa sobrevir todo ano no mesmo período”, diz ele. “Modificar essa data não é um tanto simples nem guardado, pois o uso da terreiro Charles Miller é disputado e multíplice.”
Ele afirma que a coincidência não foi um tanto “desejado nem planejado” e que prepara “medidas para facilitar a participação das editoras”. Por exemplo, planeja reforços na equipe responsável pelo esteio a autores e expositores, “soluções arquitetônicas que simplifiquem a operação e uma pronunciação com as livrarias da cidade para que assumam os estandes das editoras que necessitem de um esteio”.
Dante Cid, presidente do Sindicato Pátrio dos Editores de Livros e responsável por organizar a Bienal do Rio, se limitou a proferir que, ao dialogar com editoras sobre o tópico, constatou “receio de que a coincidência de datas prejudique a logística” dessas empresas.
A Bienal é um evento de porte muito maior e perfil mais pop que a feira paulistana —em sua última edição, recebeu em torno de 600 milénio pessoas, contra 55 milénio da Feira do Livro de 2024. O evento carioca costuma sobrevir em setembro, mas foi antecipado para junho no contexto da celebração do Rio uma vez que Capital Mundial do Livro pela Unesco em 2025.
Mesmo os grupos mais parrudos do país, Companhia das Letras e Record, não estão tranquilos com a musculatura de que dispõem para marcar a devida presença nas duas cidades ao mesmo tempo, ainda que haja intenção de comparecer a ambas.
Em universal, as editoras estão sendo obrigadas a fazer escolhas de negócio com o perfil do seu catálogo. A Pallas é uma que reconhece que não deve estar na Feira do Livro. “Há que se ter uma razão para um evento que dura a semana inteira. A Bienal é um investimento grande, mas você está se comunicando nacionalmente”, diz a dona da editora, Cristina Warth.
A Aleph já adianta que deve ter que “terceirizar muita coisa” da Feira do Livro, segundo a publisher Luara França, e receia ultimar com uma entrega pior no evento paulista. “Foi muito ruim para a gente.”
A Aletria, pequena e premiada editora de infantis, ainda não bateu o martelo, mas sabe que não estará nos dois eventos. “Fazemos malabarismos para não ter essas coincidências, porque o editor quer vender”, diz a diretora, Rosana Mont’Alverne. “E queríamos muito ir à Bienal do Rio, porque vai ser um ano próprio.”
Rafaela Lamas, da Autêntica, é uma que contemporiza. “Agrada a teoria de ter duas grandes cidades mobilizadas para eventos do mercado editorial simultaneamente e faremos o verosímil para tirar bastante proveito disso.”
Leia a seguir a íntegra do posicionamento de Paulo Werneck, que dirige a Feira do Livro:
A Feira do Livro foi concebida para ser realizada durante o mês de junho, particularmente no feriado de Corpus Christi. A Feira se firmou no calendário da cidade nessas datas, e se firmar no calendário significa sobrevir todo ano no mesmo período, uma vez que a Paragem LGBT, a Mostra de Cinema, os grandes eventos da cidade.
Não seria viável realizá-la em outro momento. Modificar essa data não é um tanto simples nem guardado, pois o uso da terreiro Charles Miller é disputado e multíplice. A chuva é um fator que não pode ser ignorado.
A edição de 2023, realizada em cima do feriadão, foi muito muito avaliada pelos expositores, com ótimo resultado mercantil e de público. Em 2024, por pretexto da obra no Pacaembu a feira aconteceu na junção da última semana letiva com a primeira de férias, e a avaliação não foi tão positiva, os próprios expositores pediram a volta ao feriadão. Portanto, em 2025 a Feira do Livro se mantém em junho, no feriadão, e o mesmo deve sobrevir em 2026 e assim por diante.
Simples que há uma mortificação das editoras que desejam estar presentes nos dois eventos, e inclusive somos uma delas —a Tinta-da-China [que pertence ao mesmo grupo] vai participar de um estande coletivo na Bienal do Rio.
Num primeiro momento, essa coincidência de datas preocupou, não foi um tanto desejado ou planejado. Mas, analisando com mais frieza e conversando com os expositores, estamos encontrando soluções e até possibilidades bastante interessantes.
Entre essas possibilidades, está a chance de melhores resultados, com seis dias livres (o primeiro término de semana mais o feriadão) para o público curtir a Feira, [o que] favorece os editores. Em 2024 tivemos somente quatro dias livres (os dois fins de semana, que foram os momentos mais fortes em termos comerciais).
Portanto, é uma vez que se tivéssemos um término de semana extra em 2025. Estamos realizando encontros e enviando comunicações para os expositores, para pensarmos juntos, e a resposta deles com interesse real em participar está supra de 90%.
Criamos medidas para facilitar a participação dessas editoras, com reforço no RP Autores e RP Expositores, soluções arquitetônicas que simplifiquem a operação e uma pronunciação com as livrarias da cidade para que assumam os estandes das editoras que necessitem de um esteio. Isso inclusive traz um efeito positivo de inclusão das livrarias, tradicionalmente excluídas ou ausentes dos grandes eventos.
Dessa forma, uma editora que estiver no Rio poderá estar presente em São Paulo por meio de uma boa livraria sítio. As livrarias (Simples, da Tarde, Martins Fontes, Travessa…) estão bastante empolgadas com essa perspectiva.
Onze livrarias participam da Feira do Livro, o que é vasqueiro, pois em universal as feiras são momentos de baixas vendas para as livrarias locais, uma vez que ocorre na idade da Feira da USP, por exemplo. É fundamental ouvir também os livreiros nessa discussão.
Ou por outra, poderemos compartilhar os nossos convidados estrangeiros com a Bienal. Os editores e parceiros ficaram animados com essa perspectiva, que é boa para todos. E ainda vamos homenagear a literatura e as editoras e livrarias do Rio na nossa programação, vamos comemorar o Rio em prosa e verso cá em São Paulo.