Flipelô 2024 Espalha Literatura Na Salvador De Jorge Amado

Flipelô 2024 espalha literatura na Salvador de Jorge Amado – 12/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na manhã da última sexta-feira em Salvador, Itamar Vieira Junior rememorava diante do público o dia memorável em que conheceu Jorge Estremecido e Zélia Gattai.

Logo um jovem e tímido geógrafo, o responsável que depois abalaria a literatura brasileira com “Torto Arado” se sentiu encorajado para narrar ao par que, além de fã, ele escrevia textos de próprio punho. Ouviu de volta do pai da literatura baiana “as melhores palavras de incentivo”.

“Jorge era o primeiro plumitivo vivo que eu encontrava na vida”, contou Vieira Junior na mesa afetuosa que dividiu com Paloma Jorge Estremecido, filha do responsável de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, na Sarau Literária Internacional do Pelourinho. “Senti que eles me batizaram.”

Parece que a proposta de toda a Flipelô, sobrenome carinhoso do evento que realizou de quarta a domingo sua oitava edição na Bahia, é estender esse batismo a todo o povo da cidade.

O encontro de Itamar e Paloma, conhecidos de longa data, foi em um espaço infantil criado em homenagem a Mabel Velloso —educadora que é mana mais velha de Caetano e Maria Bethânia, outra das famílias onipresentes no imaginário dali— ampliado de forma robusta com escora do Instituto CCR.

Foi o lugar escolhido por um dos romancistas mais premiados do momento para apresentar pela primeira vez sua estreia na literatura infantil, “Chupim”, uma história gulodice sobre um menino que tem pena de espantar os pássaros que comem a plantação de sua família.

A escolha adianta a fardo de afeto que a Flipelô, organizada desde 2017 pela Instalação Mansão de Jorge Estremecido, adquiriu entre os escritores da região. Mas sua sofreguidão vai muito outrossim —ainda que priorize a promoção do talento lugar, é uma sarau de caráter pátrio.

“É uma cobrança sempre, qual a novidade da Flipelô esse ano? É justamente continuar a variação que a Flipelô é”, diz a diretora do festival e da instauração, Angela Penedia. A advogada trabalha há mais de 20 anos na instituição que paira no Pelourinho desde que foi inaugurada por Estremecido no final da dez de 1980.

A atual diretora pegou o viga de sua mãe, Myriam Penedia, que idealizou a sarau ao se encantar com a Flip original, realizada em Paraty desde 2003, mas morreu meses antes de o financiamento para a primeira edição ser sancionado.

Desde logo, a Flipelô enche de cultura todo o meio histórico de Salvador por cinco dias, da manhã à noite, quase sempre servindo também uma vez que sarau de natalício para o plumitivo de “Gabriela, Cravo e Canela”, morto em 2001, que teria comemorado 112 anos no sábado, 10 de agosto.

O evento serve também para a manutenção das atividades da instauração ao longo do ano —em 2024, o orçamento captado foi de R$ 2,5 milhões.

“A gente procura trazer gente de fora, mas não tem amarras com editoras”, afirma Penedia, a diretora. “Não trazemos o plumitivo que a Companhia das Letras quer que traga, por exemplo, mas o que achamos interessante e que vai ter uma troca com alguém daqui.”

Pelo contrário, as editoras prestigiadas são as dali mesmo. Entre as dezenas de auditórios que abrigam a programação gratuita da Flipelô, há a Mansão das Editoras Baianas, feita para projetar o trabalho de qualidade feito por casas daquele estado uma vez que Solisluna, Paralelo13S e Mondrongo —um espaço que, aliás, ocupa o interno de uma igreja colonial.

E cá está outra singularidade. Enquanto tantos festivais pelo Brasil têm que rebolar para encontrar espaço para seus eventos, oriente consegue mobilizar uma estrutura ampla de equipamentos que já existem, de teatros e museus até faculdades e templos, cada um soando um acorde que resulta na sarau do Pelourinho.

Ali, logo, brilham autores baianos uma vez que Luciany Aparecida, que tem proveito tração pátrio com o romance “Mata Rebuçado”, e Jorge Augusto, professor e pesquisador que tem tido sua verso mais disseminada; e o responsável homenageado pode ser Raul Seixas, espalhando um rosto de maluco venustidade em estandartes e capas de vinis pelas ruas.

Mas também há visitantes de outros estados, uma vez que a paulista Natalia Timerman, a pernambucana Cida Pedrosa e o cearense Ronaldo Correia de Brito, até gente de fora do país. Penedia lembra muito o bafafá que gerou a vinda do moçambicano Mia Couto, no ano pretérito.

Assim, a prole de afilhados de Jorge Estremecido pode se multiplicar.

O jornalista viajou a invitação do Instituto CCR.

Folha

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