Flup 2024 Começa, Dribla Baixas E Saúda Benedita Da Silva

Flup 2024 começa, dribla baixas e saúda Benedita da Silva – 12/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A Flup, Sarau Literária das Periferias, começou enxurrada de imprevistos nesta segunda-feira (11) no Rio de Janeiro.

A ministra Anielle Franco, da Paridade Racial, cancelou sua presença alegando questões de saúde na mesa que abriria os debates mais politizados do primeiro dia. Foi substituída pela ex-ministra e ex-governadora Benedita da Silva, hoje deputada pelo PT do Rio.

E toda a mesa que abriria a programação internacional à noite teve reveses —as palestrantes Gloria Wekker e Oyeronke Oyewumi não conseguiram chegar a tempo e até a mediadora, a curadora do festival Mame-Fatou Niang, viajou de última hora por um problema familiar.

Zero disso afugentou o público que lotou as palestras no Circo Voante em plena segunda-feira —ainda que tenha ficado prejudicada a teoria da prevalência totalidade de mulheres negras nesse primeiro dia, já que o fundador Julio Ludemir, que é branco, assumiu o papel que seria de Niang.

A peteca, todavia, não caiu. Havia substitutas à fundura nas figuras da escritora britânica Afua Hirsch, da jornalista francesa Audrey Pulvar, que hoje é vice-prefeita de Paris, e de Josephine Apraku, pessoa não binária da Alemanha que pesquisa estudos africanos.

Estava mantida a teoria de uma “conversa transatlântica” entre personalidades europeias com raízes na África e no Caribe e um público brasiliano de centenas de pessoas, a maioria jovens.

Pulvar, que foi aplaudida ao indicar que os fones de ouvido do festival ficavam mal acomodados em seu penteado black power, discutiu as particularidades de ser uma mulher de origem afro-caribenha com trajetória de pioneirismos —ela foi a primeira pessoa negra a comandar um telejornal de ampla audiência na França, há 20 anos.

Hoje na política, ela afirmou que nunca buscou escalar na curso pensando em sua identidade, mas em suas habilidades de trabalho. Isso sem ignorar suas raízes na Martinica, um pouco que ficou patente quando lhe perguntaram sobre a relação com a escrita em gálico.

“Eu senhoril a língua francesa, suas sutilezas, uma vez que a escolha de um termo pode mudar todo o sentido de uma frase uma vez que se fosse alquimia, mas eu escrevo essa língua uma vez que uma mulher de cultura crioula caribenha.”

Afua Hirsch comentou uma vez que a noção britânica de representatividade em espaços de poder muitas vezes significa “ter um preto, exclusivamente um, em cada espaço”. “E ele será premiado caso se comporte da forma esperada. As instituições querem que negros estejam ali, mas não que sejam quem são.”

Para ilustrar, a radialista e escritora lembrou que ela era a única pessoa negra no júri do prêmio Booker, em 2019, quando ele distinguiu pela primeira vez uma escritora dessa raça —a britânica Bernardine Evaristo, outra convidada da Flup. Segundo ela, a escolha resultou de sua guerra dura pelo reconhecimento de Evaristo.

Quando Ludemir, o mediador, perguntou uma vez que ela via o termo da “utopia de Kamala Harris”, Hirsch disse ter sentido melancolia, mas não muita. “Não fico necessariamente triste, porque não deposito minha utopia em uma pessoa que venha nos salvar. Mas em fabricar comunidades para que nós protejamos e cuidemos uns dos outros.”

É uma naturalidade que ressoa em outra fala de Apraku, que disse vir de um país, a Alemanha, com credenciais para falar de fascismos. “E vejo que isso não está no pretérito, está muito vivo, é segmento de quem somos uma vez que sociedade hoje.”

Antes, a sarau juntou três figuras reconhecidas por trabalhos em resguardo dos direitos humanos —Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional, Neon Cunha, mulher trans que é ponta de lança na tarifa das populações LGBTQIA+, e Benedita da Silva, que foi a única mulher negra na Câmara Constituinte de 1988.

Benedita, de 82 anos, foi níveo das mais intensas homenagens do dia e recebeu um prêmio criado em nome de Écio Salles, fundador da Flup que morreu em 2019. Depois de uma participação inflamada na mesa em que defendeu a “urgência de liberdade” para que mulheres negras vivam “em sossego e segurança”, ela recebeu o troféu exibindo emoção.

Tudo terminou à noite com uma grande joeira, embalada pela pernambucana Lia de Itamacará, que segurou o público até os estertores da madrugada. A Flup segue com sua programação gratuita até domingo, dia 17.

O jornalista viajou a invitação do festival

Folha

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