A Folha convidou quatro de seus colaboradores fixos, com diferentes especialidades, para indicar as cinco melhores obras de não ficção que leram em 2024.
O jornal passa a organizar uma seleção exclusiva para esse tipo de lançamento, separada da lista dos 20 melhores livros de ficção, que já está disponível.
Os livros vão desde biografias e apanhados históricos até análises sobre temas candentes do noticiário, uma vez que a dominância das big techs, as desigualdades brasileiras e as guinadas autoritárias pelo mundo. Há espaço ainda para saborosos livros de memórias e reflexões sobre os contrastes entre gêneros.
Secção das obras ainda não foi publicada no Brasil, e nesses casos foi discriminado o preço de revestimento na editora original, com indicação de ebook quando disponível.
Confira as 20 indicações a seguir.
JOÃO PEREIRA COUTINHO
Colunista da Folha, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa
Um Ditador na Traço
Ismail Kadaré, ed.: Companhia das Letras, trad.: Bernardo Joffily, R$ 74,90 (144 págs.), R$ 39,90 (ebook)
É um dos telefonemas mais célebres da história da literatura: a breve conversa entre Josef Stálin e Boris Pasternak sobre Osip Mandelstam, que tinha parodiado o tirano num poema. Mandelstam foi recluso no Kremlin e, na hora decisiva, Pasternak não defendeu o colega. Por quê? E, agora, por que Stálin telefonou a Pasternak? No ano da sua morte, Kadaré tenta responder a estas perguntas revisitando as 13 versões conhecidas do infame telefonema. Uma reflexão corajosa e autobiográfica sobre o papel duvidoso dos intelectuais em regimes totalitários.
Fundações do Pensamento Político Brasílico: A Construção Intelectual do Estado no Brasil
Christian Lynch, ed.: Topbooks, R$ 139,90 (728 págs.)
Ortografar uma história sobre a fundações do pensamento político brasílio já seria um feito. Mas fazê-lo sem complexos de inferioridade, mostrando uma vez que esse pensamento se articula com a tradição inglesa, francesa e, logicamente, portuguesa, é a proposta de Christian Lynch nesta monumental obra. O resultado é um quadro multíplice e interessante sobre uma verdade histórica e ideológica que não pode ser reduzida às dicotomias preguiçosas núcleo/periferia, original/reprodução, progresso/detido.
Faca – Reflexões Sobre um Atentado
Salman Rushdie, ed.: Companhia das Letras, trad.: Cássio Arantes Leite e José Rubens Siqueira, R$ 69,90 (232 págs.), R$ 29,90 (ebook)
Rushdie, depois da fatwa lançada pelo aiatolá Khomeini em 1989 por suas alegadas “heresias” no romance “Os Versos Satânicos”, sempre imaginou uma vez que seria um atentado contra ele. Em 2022, seu maior temor se materializou, ao ser esfaqueado por um fanático. O relato dessa experiência é simultaneamente onírico e medonho. Outrossim, a conversa imaginária entre Rushdie e o seu atacante é uma prelecção humanista sobre tolerância religiosa, liberdade de frase e a recusa do ressentimento uma vez que modo de vida.
Adventures in Democracy: The Turbulent World of People Power
Erica Benner, ed.: Allen Lane, £ 25 (224 págs.), £ 13.99 (ebook), importado
Todo mundo conhece as palavras de Winston Churchill sobre a democracia: é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras. Mas Churchill não disse somente isso. Também afirmou que o melhor argumento contra a democracia é uma conversa corriqueiro com um democrata corriqueiro. Erica Benner reflete sobre essas duas dimensões: as virtudes da democracia, mas também os seus vícios, viajando pela história do pensamento político. Moral da história? O povo nem sempre é sábio. Mas os sábios podem ser muito piores que o povo.
Camões – Vida e Obra
Carlos Maria Bobone, ed.: Dom Quixote, € 22,20 (413 págs.), € 13,99 (ebook), importado
Nos 500 anos do promanação de Luís de Camões, as livrarias portuguesas foram inundadas com edições e reedições do poeta, além de bibliografia secundária de qualidade muito diversa. Nascente estudo biográfico de Bobone é o mais inteligente que li em 2024. Com o rigor de um detetive, o responsável procura “purgar” Camões de lendas, mitos ou erros grosseiros que se escreveram sobre a sua vida, ao mesmo tempo que procede a uma remontagem literária e mental do mundo onde ele viveu, imprescindível para entender a sua obra.
MICHAEL FRANÇA
Colunista da Folha, economista pela USP e pesquisador do Insper
Iguais e Diferentes: Uma Jornada pela Economia Feminista
Regina Madalozzo, ed.: Zahar, R$ 89,90 (248 págs.), R$ 39,90 (ebook)
Nascente livro traz uma interessante perspectiva sobre a economia feminista, explorando uma vez que desigualdades de gênero impactam as relações econômicas e sociais. Madalozzo oferece uma estudo alcançável, forçoso para entender e combater as desigualdades estruturais que ainda limitam as mulheres na sociedade contemporânea.
Extremos: Um Planta para Entender as Desigualdades no Brasil
Pedro Fernando Nery, ed.: Zahar, R$ 119,90 (368 págs.); R$ 39,90 (ebook)
Nery apresenta uma visão abrangente sobre as desigualdades brasileiras, conectando análises que tornam o tema interessante até para um público não acadêmico. O livro é um planta indispensável para compreender as disparidades econômicas e sociais do país, além de fornecer importantes reflexões para formuladores de políticas públicas e acadêmicos.
O País dos Privilégios – Volume 1: Os Novos e Velhos Donos do Poder
Bruno Carazza, ed.: Companhia das Letras, R$ 94,90 (336 págs.), R$ 44,90 (ebook)
Carazza analisa de forma sátira as estruturas de poder que sustentam privilégios históricos e contemporâneos no Brasil. Com uma escrita envolvente, o responsável desmistifica as dinâmicas de concentração de poder, riqueza e influência, tornando o livro uma relevante natividade de estudo para quem procura compreender as raízes das desigualdades brasileiras.
Letramento Racial: Uma Proposta de Reconstrução da Democracia Brasileira
Adilson José Moreira, ed.: Contracorrente, R$ 80 (386 págs.)
Moreira apresenta uma proposta para compreender e superar as desigualdades raciais no Brasil. É uma leitura importante para repensar a democracia brasileira, promovendo um entendimento profundo das relações raciais e oferecendo perspectivas para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Chegada à Justiça: Uma Estudo Multidisciplinar
Irapuã Santana do Promanação da Silva, ed.: SaraivaJur, R$ 81 (216 págs.), R$ 68,85 (ebook)
Nascente livro, que havia tido uma edição menor e mais restrita em 2021, destaca a prestígio do aproximação à Justiça uma vez que pilar fundamental da democracia. Santana explora os desafios enfrentados por populações vulneráveis e aponta caminhos para prometer que o sistema judicial seja verdadeiramente inclusivo, alguma coisa fundamental para o fortalecimento dos direitos no Brasil.
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
Repórter próprio da Folha, vencedora do prêmio Maria Moors Cabot
The Tech Coup: How to Save Democracy from Silicon Valley
Marietje Schaake, ed.: Princeton University Press, US$ 27.95 (336 págs.), $ 19.57 (ebook), importado
Vem da grande Marietje Schaake a mais novidade soma à já extensa livraria de alertas contra os efeitos das big techs sobre a democracia. Na obra, esta que é uma das maiores lideranças em governança da internet mostra uma vez que as plataformas têm usado de forma eficiente a desculpa da “barreiras à inovação” para evadir de regulações e manter seu poder desregrado, absorvendo poderes e funções que eram do Estado e deveriam servir ao interesse público. Schaake vai além do diagnóstico do problema e propõe uma série de medidas para reconquistar a soberania do dedo dos países.
The Age of Grievance
Frank Bruni, ed.: Simon & Schuster, US$ 28.99 (288 págs.), US$ 14.99 (ebook), importado
Bruni foi um dos principais colunistas do The New York Times durante anos e continua uma vez que colaborador do jornal, retratando com verve e sarcasmo as atribulações políticas dos Estados Unidos. Cá, demonstra uma vez que a cultura do ressentimento foi instrumentalizada por políticos uma vez que Donald Trump e tomou conta do país. Culpar alguém e se sentir injustiçado ou vítima virou a regra, alerta Bruni —não admitir resultado de eleições, confiar que há um grupo de pedófilos que controlam o povo, barrar palestrantes em universidades em nome do progressismo…
O Varão Não Existe
Ligia Gonçalves Diniz, ed.: Zahar, R$ 89,90 (416 págs.), R$ 44,90 (ebook)
Não à toa nascente volume genial figura em inúmeras listas de melhores livros do ano. Misturando referências literárias, psicanálise, cinema e sacadas pessoais, o livro une sabedoria com humor para dissecar a relação do varão com sua masculinidade. Desde o momento em que Diniz explica a terminologia usada na obra —em que situações ela usa as palavras pinto, pênis ou pau— fica evidente uma vez que o livro é um tentativa original e um delícia para leitura.
O Paladar da Guerra
José Hamilton Ribeiro, ed.: Companhia das Letras, R$ 99,90 (256 págs.), R$ 44,90 (ebook)
Que sorte para todos nós que a Companhia das Letras ampliou e relançou o seminal “O Paladar da Guerra”, o relato da experiência de Ribeiro cobrindo a guerra do Vietnã em 1968. A obra deveria ser leitura obrigatória para todo jornalista e novel do ofício. O responsável, que perdeu segmento de uma perna ao pisar em uma mina, encara sua tragédia uma vez que mais uma grande reportagem e usa uma combinação de bom humor, empatia e atenção aos detalhes. A versão revista, editada por Matinas Suzuki Jr., ainda inclui uma seleção das melhores reportagens do jornalista na icônica revista Veras.
Cada Um por Si e Deus Contra Todos
Werner Herzog, ed.: Todavia, R$ 99,90 (368 págs.), R$ 69,90 (ebook)
Esse livro vai decepcionar quem esperava uma experiência voyeurística do glamour de ser um dos diretores de cinema mais celebrados da história. O germânico prefere narrar episódios idiossincráticos que ajudaram a moldar seu olhar e sua arte. Isso inclui relatos de uma vez que cresceu em um vilarejo solitário com a família na Baviera; uma vez que trabalhou uma vez que soldador, vigia de estacionamento e até contrabandista no México; e pessoas que marcaram sua vida, uma vez que o redactor Bruce Chatwin. E, evidente, há bastidores uma vez que a poema da filmagem de “Fitzcarraldo”.
SYLVIA COLOMBO
Colunista da Folha, historiadora e jornalista especializada em América Latina
La Llamada – Un Retrato
Leila Guerriero, ed.: Anagrama, € 20.90 (432 págs.), € 12,99 (ebook) (importado)
A principal historiógrafo argentina conta a incrível história real de Silvia Lanayru, uma jovem que estudava no Escola Vernáculo de Buenos Aires quando passou a lutar contra a ditadura militar. Foi presa, logo pejada de cinco meses, e transferida para o Esma, onde funcionava um núcleo ilegal de tortura. Lanayru foi obrigada a realizar “tarefas especiais” a seus torturadores, mas saiu viva para narrar sua história.
Surazo: Hans e Monika Ertl – Uma História Alemã na Bolívia
Karin Harrasser, ed.: Mundaréu, trad.: Daniel Martineschen, R$ 80 (288 págs.)
A autora alemã começou essa investigação querendo reunir o artesanato e a arte indígena na Bolívia. Mas no país descobre a aventuresca saga política que levou a guerrilheira de esquerda também alemã Monika Erlt. Ela era filha de um simpatizante do nazismo, o cineasta Hans Erlt, que fugiu depois da Segunda Guerra Mundial para a América do Sul. Harrasser refaz os passos de Monika até chegar ao momento em que ela vinga a morte do revolucionário Che Guevara.
He Sentenciado Declararme Marxista (Volume 1)
Jon Lee Anderson, ed. Debate, € 27.90 (792 págs.), € 12.99 (ebook) (importado)
O mais importante jornalista internacional dos nossos tempos, o americano Jon Lee Anderson, pluma fina da revista The New Yorker, lança essa obra em dois tomos dedicados a guerras e conflitos na Ásia, no Oriente Médio, na África e na América Latina. Anderson, além de ter vasta experiência e conhecimento histórico, não deixa de circunvalar os continentes detrás de notícias, sendo inspiração a várias gerações de jornalistas. O volume dois será lançado em espanhol em janeiro.
Prece
María Trigueiro, ed.: Mundaréu, trad.: Sérgio Molina, R$ 84 (328 págs.)
A ensaísta, sátira literária e jornalista analisa as duas cartas que o montonero Rodolfo Walsh escreveu logo depois da morte de sua filha, Vicky, uma ativista de 26 anos que decidiu se matar quando se viu encurralada pelas forças da repressão. Walsh, também sabido por sua literatura policial e política, vinha sendo muito traduzido no Brasil. Agora, a Mundaréu oferece o livro de Trigueiro, que introduz outros aspectos da vida e obra do responsável.
Vértigos de lo Inesperado
Martín Sivak, ed.: Seix Barral, € 9,49 (ebook) (importado)
Jornalista prateado especializado na Bolívia, Sivak é o responsável de “Jefazo”, primeira obra relevante sobre o sucesso de Evo Morales no início de seu procuração. Nesse novo livro,o o tom é mais dark, e Sivak passa a tentar entender as razões por trás da preocupação de Morales por voltar a ser presidente do país, mesmo que a Constituição não permita, e mostra uma vez que a personalidade do líder e a geopolítica a seu volta mudaram.