Um cliente mal chega à Livraria O Sebo, no meio de Joinville, e já começa a relatar as agruras do seu dia para uma das proprietárias da loja, Silvana Pereira Stadler. Detrás do balcão, ela ouve o senhor lhe segredar o tédio por pretexto do roubo de seu sege. Outro cliente, um artista performático que garimpava CDs, intervém na conversa: “Isso não é zero! E a minha peruca, que roubaram do varal?”.
Silvana e sua sócia, Eliana Moraes, estão acostumadas com esse clima de intimidade no estabelecimento. Elas o fundaram em 1987, o primeiro sebo da maior cidade de Santa Catarina, e o tocam desde portanto.
A longevidade do negócio e o convívio com a dupla de proprietárias transformou clientes em amigos, visitantes em frequentadores, negócio em ponto de encontro. Hoje, O Sebo é lar de um ror de mais de 120 milénio títulos, além de espaço cultural devido à presença ordenado dos artistas locais.
Não demorou para que o lugar ganhasse essas qualidades. Mas Eliana e Silvana tiveram que suar muito para o empreendimento intercorrer. Primeiro, porque a experiência de ambas com livros se resumia à leitura. Elas eram professoras em Guaíra, cidade a 640 km de Curitiba, e não entendiam de vendas ou gestão,
Na ânsia de dar uma viradela na vida, acolheram a proposta de Elenice, mana de Eliana, que na estação era casada com o possuidor de um sebo na capital paranaense. Elenice virou sócia da iniciativa e entrou com o seu ror inicial —3.000 volumes. Joinville foi escolhida por sua posição estratégica, próxima à Curitiba, e porque um outro irmão de Eliana vivia na cidade.
“Era até liso, porque a gente falava em sebo e nos olhavam porquê ETs”, relembra Eliana. Mas a dupla mal tinha tempo para se preocupar com isso. A prioridade era estruturar a sala de 90 m², alugada a muito dispêndio. Rasparam e pintaram as paredes, instalaram prateleiras construídas pelo irmão de Eliana e organizaram os títulos nelas. No dia da inauguração, 10 de março, os primeiros clientes foram atendidos numa escrivaninha —não havia mais verba para comprar um balcão.
“Abrimos sem experiência nenhuma, viemos de um mundo completamente dissemelhante. No primeiro dia veio um, veio outro…. No segundo dia, porquê um jornal lugar fez uma reportagem conosco, foi uma loucura. Não dávamos conta”, conta Silvana.
Ela acrescenta que ainda precisou contornar um outro duelo —as necessidades da clientela, que iam muito além de seu já considerável conhecimento literário.
Enquanto iam se familiarizando com o ror crescente e os negócios, Silvana e Eliana viam O Sebo se tornar rota obrigatória dos amantes de livros e também do vinil em Joinville. As manhãs de sábado, em peculiar, eram tomadas de colecionadores detrás de raridades. A turma passou a espancar ponto na loja, assim porquê outras pessoas ansiosas por alguma preciosidade ou somente um bom papo.
O envolvente familiar rendeu frutos —Silvana foi até madrinha de batismo de um cliente assíduo. Ela se lembra de um senhor, de sobrenome Capitão, que ia à loja todos os dias em seguida a soneca da tarde, pegava um livro qualquer e o destrinchava junto ao balcão até o fechamento das suas portas —ou até depois disso.
Quando ele morreu, a família revendeu alguns de seus livros para a loja. Mas Eliana e Silvana não tiveram coragem de se desfazer de uma coleção encadernada de romances policiais que o Capitão conseguiu completar pouco antes de partir. “Uma vez que a gente ia colocar para vender um pouco que ele lutou tanto pra ter?”, pergunta Silvana.
A coleção e os clientes fiéis acompanharam a livraria na mudança para um espaço quase três vezes maior, em 2002. Além de acoitar o ror crescente, o endereço atual permitiu que as proprietárias não só continuassem a dar abrigo aos artistas da cidade, em shows intimistas, saraus e lançamentos de livros, porquê também passassem a receber reuniões sobre psicanálise e filosofia, oficinas e grupos de leitura.
E isso num envolvente cingido de livros e com um vasto mezanino que serve de balcão, porquê num pequeno e aconchegante teatro improvisado.
Isso não significa que O Sebo não tenha tido que se ajustar aos novos tempos. As vendas online viraram uma parcela significativa do negócio. Mas parece ser na presença, no mina, no cheiro e na troca que reside a longevidade da livraria. Quase 40 anos depois de sua instauração, seus frequentadores incluem filhos dos primeiros clientes que já trazem consigo os rebentos.