Hugo De Carvalho Ramos Revela Seu Brasil Rural Em Contos

Hugo de Carvalho Ramos revela seu Brasil rural em contos – 21/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A edição das “Obras Reunidas” de Hugo de Roble Ramos, pela editora paulista Ercolano, em uma elegante caixa de dois volumes muito concebidos, é boa notícia em si.

É um responsável fora do horizonte subitâneo da leitura: nascido em Goiás em 1895, foi colega de escola de Cora Coralina, mas em família intelectualizada de pai juiz e poeta, que com o tempo se transfere para o Rio de Janeiro. Vivendo na portanto capital federalista, cursa recta, publica seu único livro em vida, “Tropas e Boiadas”, em 1917, e se suicida em 1921.

Dito assim, zero há de saliente que merecesse atenção fina do mundo editorial para além dos interesses locais ou do volta acadêmico. Mas sua obra ganhou tratamento evidenciado, com umas 700 páginas de material do responsável, entre seu livro único, artigos de ocasião, poemas e correspondência. Ainda assim, há problemas de revisão e falta de transparência nos paratextos e informações de situação.

Com todos os escritores relevantes de tempos passados deveríamos fazer isso, reunir sua obra com qualquer esplendor crítico, deixando-a disponível para as novas gerações.

Ramos compõe uma geração de escritores que publicam entre 1890 e 1930, composta por filhos de elites interioranas, com formação letrada e alguma vivência em cidade grande, que percebem a aguda transformação histórica em curso, quando a cidade impõe a lógica moderna sobre o mundo rústico.

Comovidos pelo término do mundo macróbio, resolvem colocar seu texto a serviço da documentação dessa viradela, em universal produzindo não romances, mas contos. Alinham-se cá Afonso Arinos, Alcides Maya, Simões Lopes Neto, o primeiro Monteiro Lobato, Valdomiro Silveira e, não menos, Hugo de Roble Ramos.

Por que o narrativa? Porque tem parentesco com o “causo”, com a anedota, com o flagrante de uma cena isolada, e porque não requer uma leitura de conjunto do mundo enfocado —essa tarefa terá lugar na geração seguinte, com os romances de Rachel de Queiroz, José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Erico Verissimo e tantos outros.

É um mundo a cavalo, masculino, funcionando na base do fio do bigode e regulado por tradição verbal. É o sertão, no sentido extenso da termo: uma segmento muitas vezes invisível para a história da literatura e mesmo para a história toda, porquê se pode ler nas ultrassimplificações de Caio Prado Júnior quando diz que, fora do espaço da plantation e longe da cidade moderna, não há zero relevante para entender o Brasil.

Mas há, porquê os tempos de agora demonstram ao repor em circulação a decisiva influência, do econômico ao artístico, das tradições ameríndias, negras e mestiças.

O narrativa permite imaginar a preocupação folclorista, documental, até etnográfica segundo os discutíveis preceitos do tempo, com a tarefa literária, que até portanto pouco se atentava para os mundos rurais —na ponta final da geração seguinte, aparecerá o gênio de Guimarães Rosa para dar estatura literária definitiva ao tema.

Mas nem sempre o resultado é capaz de tornar significativos ou mesmo legíveis os textos para além de sua idade e situação. O caso de Hugo de Roble Ramos se circunscreve a esses limites.

Nos poemas foi simbolista e decadentista, tramando em vocabulário vasqueiro poemas daquele mundo que se estende entre Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos no Brasil. Esse mesmo tom melancólico se espalha na miscelânea composta de textos para jornal, em que é um comentarista bastante trivial, e de cartas, nas quais se revela o jovem —morreu com 26 anos incompletos— talentoso, melindroso e triste.

É nos contos que reside o mais interessante. Ali está uma tensão formal que ao mesmo tempo atrapalha e inflama sua obra. De um lado, o carinho pelos de reles, que a voga naturalista vinha ensinando a considerar porquê agentes relevantes da história, carinho que se traduz na tomada de seu imaginário e oração.

De outro, as dificuldades de recriar essa gente na literatura, com uma subjetividade complexa e com um oração que supere o documento —daí os tantos tropeços no manejo da intervalo entre o oração erudito de narradores em terceira pessoa e o oração dialetal dos protagonistas, com um problema estrutural de encontrar o ajuste preciso na reprodução dos discursos.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *