O mundo das divas pop é uma selva. É praxe que fãs usem as plataformas digitais para expor que uma cantora é maior do que a outra com base nos números de seus hits —porquê um álbum estreou na Billboard, quantas visualizações teve um novo clipe e por aí vai. É praxe, também, que essas divas sejam branco de ofensas misóginas.
A nomeada é pior para as mulheres do que para os homens, defende a jornalista britânica Sarah Ditum no livro “Toxic: Mulheres, Nomeada e a Misoginia nos Anos 2000”. “As tecnologias específicas daquele momento eram usadas para invadir a privacidade das mulheres de formas muito mais brutais do que no caso dos homens”, diz ela, em entrevista à Folha.
Um exemplo é Britney Spears, que viveu uma derrocada de saúde mental amplamente registrada por paparazzi em 2007 —suas fotos de cabeça raspada agredindo fotógrafos com um guarda-chuva são memes até hoje.
Em 2008, a cantora foi posta, contra a sua vontade, sob tutela do pai, que controlava seus bens e sua curso. A situação dela se tornou pública depois denúncias de desfeita na mídia, e um movimento de fãs contra a tutela tomou as redes sociais em 2020. Daí, Ditum tirou a teoria de “Toxic”.
“Percebi que havia muito a ser dito sobre aquele período e o que ele fez com as mulheres que viviam sob os holofotes, mas também com as que consumiam esses conteúdos e absorviam esse tipo de mensagem.”
A autora argumenta que a excepcionalidade desse período —que gerou histórias tristes porquê a de Britney ou a de Amy Winehouse, morta aos 27 anos— é que a internet substituiu a mídia tradicional de fofoca, antes materializada nas revistas de capas abrilhantadas.
A novidade tecnologia, diz Ditum, tinha muito menos escrúpulos em compartilhar fotos constrangedoras e vídeos íntimos, caso das “sex tapes” de famosas porquê Paris Hilton e Kim Kardashian.
“Até aí, havia alguma possibilidade de controlar sua própria imagem, era um ecossistema estabelecido com a MTV e os tabloides. A internet e os sites de fofoca mudam isso por completo. Agora, se tornou impossível controlar um boato ou impedir que uma imagem se espalhe.”
Algumas tentaram. Beyoncé tentou remover da internet fotos em que estava fazendo caretas durante sua apresentação no pausa do Super Bowl de 2013. O incidente é lembrado até hoje em fóruns porquê Reddit. As fotos continuam facilmente acessíveis.
Antes disso, Janet Jackson, que tem um capítulo devotado a ela em “Toxic”, foi vítima de um escândalo envolvendo o pausa do Super Bowl de 2004. No meio do show, Justin Timberlake expôs o seio recta de Jackson durante meio segundo, mas as repercussões foram gigantescas. A MTV teve que se retratar publicamente e esclarecer que a exposição não foi planejada.
“A internet transformou isso em uma história gigantesca porque a imagem poderia ser infinitamente replicada”, diz Ditum. “A misoginia sempre existiu, mas, de repente, havia esse envolvente muito hostil para as celebridades.”
Algumas aprenderam a jogar esse jogo, caso de Kim Kardashian. Ditum lembra um dos episódios do reality show da família, “Keeping Up with the Kardashians”, em que Kim perde um brinco de diamantes e começa a chorar. Sua mana, Khloe, responde, “Kim, têm pessoas morrendo”. O trecho se tornou um meme instantaneamente.
Ditum diz que as Kardashians sempre souberam usar a relação de paixão e ódio que o público cultiva. “Em um contexto de crise econômica, você tem essa celebração do consumismo. Enquanto as pessoas estão inseguras e batalhando, elas querem ver pessoas ricas curtindo sua riqueza. Mas também querem ver essas pessoas sendo punidas, ridicularizadas e provocadas.”
As mídias sociais mudaram o cenário. Agora, diz Ditum, o Instagram dá mais controle às celebridades. “Elas não precisam mais avisar os paparazzi que estarão em um determinado lugar, não precisam mais ser amigas do [blogueiro] Perez Hilton. Agora é só postar suas próprias selfies.”
Isso abriu caminho para influenciadores, pessoas famosas por serem famosas. Ditum não vê tanta vantagem nessa mudança. “Não acho que tenham uma vida mais confortável que uma notoriedade na viradela dos anos 1990. Eles têm controle do que é publicado, mas precisam fabricar teor em um fluxo permanente. Isso é exaustivo.”
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