Kafka Redefiniu O Sucesso Na Literatura, Diz Biógrafo 23/09/2024

Kafka redefiniu o sucesso na literatura, diz biógrafo – 23/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Porquê se mede o sucesso de um redactor? Resenhas elogiosas, grandes tiragens? E se isso acontecesse somente posteriormente a morte, tendo o redactor em vida se discutido com projetos inacabados? Seria ele um incapaz?

São questões que rondam Franz Kafka, responsável tcheco de língua alemã que morreu há século anos legando textos alçados ao cume da literatura do século 20, porquê “A Transformação” e “O Processo”.

“Imagine um compositor que não tenha conseguido terminar uma sinfonia, música de câmara, zero. Alguns poderiam proferir levante não é um grande músico. Na literatura, isso mudou. Kafka nunca terminou um romance. Isso realmente importa? Não mais”, afirma o teuto Reiner Stach, 73, que esteve no Brasil para lançar o terceiro volume de sua colossal trilogia biográfica, “Kafka: Os Anos de Recato”, pela Todavia.

“A coisa mais importante para Kafka era o texto perfeito”, continua Stach. “O ato de escrita era o núcleo, não publicar ou ler em público. Esse ato era porquê uma euforia. Quando ela terminava, ele queria um texto perfeito sobre sua mesa.”

Essa procura por sublimidade resultava em uma relação bizarra entre esforço e recompensa, escreve o biógrafo: “Para cada página manuscrita que ele considerava digna de ser preservada, havia dez ou 20 que ele queria ver destruída”.

As que restaram não sobreviveram pela vontade do responsável, que pouco antes de morrer pediu ao companheiro Max Brod que queimasse quase tudo. Em uma das traições mais significativas da literatura, Brod publicou as murado de 350 páginas de narrativas que Kafka considerava concluídas e os fragmentos, incluindo os três romances inconclusos: “O Sumido”, “O Processo” e “O Forte”.

Quando Stach começou a pesquisa, nos anos 1990, ele já havia trocado a matemática e a filosofia pelos estudos literários, e o que mais o incomodava nas biografias de Kafka publicadas até portanto era a abordagem.

“Elas tinham capítulos sobre sua intimidade e seus pensamentos, depois outro sobre o tecido de fundo político ou histórico, depois outro sobre Kafka. Mas o mundo em que vivemos não é um tecido de fundo”, aponta Stach, que dedica consideráveis esforços para retratar o cotidiano durante a Primeira Guerra Mundial.

“Meu método não foi inaugurar com a figura de Kafka, mas com o envolvente ao seu volta, a mentalidade cultural da quadra. E portanto, quando o leitor tem uma espécie de imagem colorida desse tempo, coloco a figura no núcleo dessa cena.”

O biógrafo dividiu a vida de Kafka em três períodos e começou pelo intermediário (1910-15) devido à dificuldade de acessar documentos do espólio de Brod que cobriam a juventude do companheiro. É em 1910 que Kafka começa a grafar diários, e nos cinco anos seguintes redigiria textos fundamentais, porquê as histórias de Gregor Samsa, “metamorfoseado num inseto teratológico”, e Josef K, que foi “estagnado sem ter feito mal qualquer”.

“Kafka: Os Anos Decisivos” foi publicado em 2002, aparecendo exatos 20 anos depois no Brasil, também pela Todavia. Só em 2014, depois de acessar o material de Brod, Stach pôde lançar “Kafka: Os Primeiros Anos”, ainda sem edição por cá.

Além do método dissemelhante de se aproximar do personagem, Stach buscou desconstruir mitos que encontrou na bibliografia sobre o tcheco: Kafka seria um nevrótico, paralisado pela incapacidade de tomar decisões e não dava a mínima para a guerra.

“Zero disso faz sentido”, afirma Stach. Ele lembra que Kafka era um jurisconsulto indispensável para o Instituto de Seguros contra Acidentes de Trabalho, onde trabalhou de 1908 até quando a tuberculose permitiu, e um eficiente orador no tribunal.

Ao ter contato com soldados que voltavam desfigurados do front em procura de auxílio, Kafka obteve uma compreensão muito mais informada da guerra do que aqueles que liam uma prelo censurada.

A imagem de alguém que não sabia o que fazer da vida seria outra mito. A guerra e depois a tuberculose teriam sido obstáculos que furaram seus planos. Stach reconstrói a tomada de decisão de Kafka depois de Felice Bauer romper o noivado dos dois, em 12 de julho de 1914.

Comovido, anuncia aos pais que abandonaria o ofício burocrático e a provinciana Praga para viver em Berlim e se destinar à literatura. Os pais tentam demovê-lo, sem sucesso. Kafka está resolvido.

No dia 28, porém, estoura o conflito mundial, e viagens são proibidas. Em 2 de agosto, escreve uma das entradas mais famosas do seu quotidiano: “A Alemanha declarou guerra à Rússia. – À tarde, natação”.

Folha

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