O romance “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, vem sendo objectivo de um movimento conservador que critica seu uso nas escolas e pede seu recolhimento de bibliotecas de colégios.
O livro vencedor do prêmio Jabuti foi selecionado pelo Programa Vernáculo do Livro e do Material Didático para ser trabalhado por educadores com seus alunos, mas pais e ativistas vêm pressionando para que o livro seja vetado desses espaços, com respaldo de gestões estaduais.
Depois de uma diretora de escola no Rio Grande do Sul viralizar pedindo o degredo do livro, ele passou a ser retirado de escolas no Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul, num movimento tem sido denunciado de repreensão.
A Companhia das Letras, editora responsável pela publicação da obra, entrou na Justiça com um mandado de segurança para barrar o recolhimento dos livros no Paraná. O secretário de Instrução do estado afirma que o livro infringe o Regimento da Muchacho e do Jovem.
O argumento principal dos críticos é que “O Avesso da Pele” tem cenas de texto sexual que não seriam adequadas para aquele público.
No romance, escrito quase todo na segunda pessoa, um jovem preto se dirige a seu pai, que foi assassinado em uma abordagem policial, tentando compreender sua vida e retraçando os efeitos que o racismo teve em seu maduração, em sua formação uma vez que professor e em suas paixões.
Os trechos que abordam sexo surgem nesse contexto. Primeiro, numa cena em que o protagonista discute uma vez que os estereótipos ligados à negritude também aparecem na questão de anatomia e performance sexual.
“Acontece que, em pouco tempo, você não só passou a ser o negão da família, uma vez que também passou a ser uma espécie de pararraios de todas as imagens estereotipadas sobre os negros: pois disseram que você era mais resistente à dor, disseram que a pele negra custa a envelhecer, que você deveria saber sambar, que deveria gostar de pagode, que devia jogar muito futebol, que os negros são bons no atletismo. […] Enquanto isso, a Juliana, por sua vez, era bombardeada pelas primas e amigas que nunca tiveram um namorado preto: e logo, uma vez que ele é? Tem pegada mesmo, uma vez que dizem dos negros? E o pau dele? É grande? É verdade que eles são insaciáveis? Qual o cheiro dele? Juliana ficava incomodada mesmo querendo parecer oriundo. Não queria falar sobre aquilo, não daquela forma.”
Poucas páginas depois, ainda discutindo a mesma relação do pai com sua namorada branca, o narrador discute uma vez que a diferença racial tinha efeitos na intimidade do par.
“E não demorou muito para que aquela história de raça fosse para a leito junto com vocês. Pois a diferença de cor que antes era um pouco bonito, quebradiço e político, agora passou a excitá-los. Um conjunto de discursos raciais foi rapidamente transformado em erotismo. Vem, minha branquinha. Vem, meu negão. Chupa a tua branquinha. Chupa o teu nego. Adoro a tua pele branquinha. Adoro a tua pele, meu nego. Adoro tua boceta branca. Adoro teu pau preto. E de repente vocês gozavam. E dali para a frente será sempre mal irão gozar. Logo, sorrateiramente a raça ocupou um espaço em suas vidas e vocês nem perceberam. Não havia mais volta. O paixão estava condicionado e mediado pela raça.”
Em outro momento, o jovem elabora uma vez que a relação de seus pais se desgastou pela falta de uma vida sexual ativa.
“No entanto, a cada transa, vocês se sentiam vazios e tristes. Porquê se pelo sexo vocês tentassem se sarar do casório fracassado. Logo, quatro meses depois, vocês se ligaram e disseram coisas bonitas, cheias de lugares-comuns, sobre o paixão e a saudade. Não demorou muito para que vocês se reencontrassem. E, mal vocês se olharam, perceberam que muita coisa já havia se perdido. Mesmo assim vocês insistiram. Você não sabe precisar exatamente uma vez que vocês acabaram voltando, no entanto vocês sabiam que o sexo também era um elemento poderoso. Não que transar fosse a coisa mais importante num casório, na verdade tinha, simples, a sua valia, você pensava. Mas é que o sexo para vocês nunca foi um problema. Vocês nunca pararam de transar enquanto estavam juntos. Mesmo nos piores momentos, mesmo quando sabiam que o casório estava na corda bamba, vocês iam para a leito. E talvez isso não fosse um pouco geral entre casais, que, depois perceptível tempo juntos, vão perdendo a vontade de fazer sexo. E a perda do libido acontece por muitos motivos, ou porque trabalham muito, dormem tarde e acordam cedo, ou porque simplesmente o corpo do outro não interessa mais. E às vezes você pensava que devia ter casais que já não transavam havia muito tempo. Mas que continuavam juntos, e eram gentis um com o outro. E pegavam na mão um do outro antes de dormir, e conseguiam preservar uma certa ternura nos olhos quando um observava o outro dormindo. E não há tristeza nisso, você pensava.”
E em outra cena, o protagonista narra mais longamente a perda da própria virgindade em meio às inseguranças da juvenilidade.
“Não sei muito quando um menino de vestimenta perde a virgindade, se quando a gente penetra uma pequena, ou se já vale quando você é chupado. O vestimenta é que, no dia em que perdi minha virgindade, foi um tanto ridículo, porque eu nunca tinha usado camisinha, na verdade eu já havia usado unicamente para me masturbar quando não queria sujar a mão. Logo eu e a Tamires nos deitamos na minha leito, aproveitando que minha mãe estava no trabalho. Naquele dia, tínhamos lição de ensino física à tarde na escola, mas matamos lição para podermos transar. O que nos pareceu bastante justo. Nós não chegamos a tirar completamente a roupa porque tínhamos vergonha do nosso corpo. A Tamires achava que tinha os seios grandes demais, logo durante toda a transa ela usou uma blusa e sempre a puxava para insignificante, com receio de que eu visse os seus seios. Eu também continuei de camiseta, porque achava meu corpo muito magro e não queria que ela reparasse na saliência dos meus ossos. E também porque eu não tinha muito pelo embaixo do braço. E na minha cabeça ser varão era ter muitos pelos no sovaco. Começamos a nos beijar e a passar a mão um no corpo do outro. Logo, quando senti que eu estava suficientemente excitado e ela suficientemente excitada, estiquei a mão e peguei a camisinha. Tentei terebrar o pacotinho com a mão, mas a embalagem não facilitou; ou por outra, eu não conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo: beijar a Tamires e terebrar a camisinha. Logo, meio que a gente desistiu de sermos sensuais e nos empenhamos em livrar a camisinha daquele pacote escorregadio. Primeiro a Tamires tentou com o dente, mas só conseguiu arrancar um pedacinho. Em seguida foi a minha vez, fui mais incisivo e rasguei a embalagem de fora a fora. Depois de vencermos essa lanço, passei para a tarefa seguinte: me destinar a manter o pau duro tempo suficiente para desenrolar aquela borracha, que teimava em ir para lá e para cá, tudo isso sob o olhar paciente da Tamires, que àquela profundidade já devia estar pensando que a lição de ensino física era muito mais interessante. Quando finalmente encaixei a camisinha, começamos a nos beijar, e logo em seguida eu a penetrei, e ela deu um único plangor. Nossa transa não durou mais que cinco minutos, porque gozei muito rápido, tão rápido que, quando parei de lamuriar, a Tamires estava de olhos muito abertos, perguntando se já tinha completo, eu disse que sim. Ela disse: nossa, mas nem deu tempo de sentir muita coisa. E eu fiquei um pouco ofendido, porque rendimento que senti muita coisa. Para mim tinha sido uma grande tarde de sexo.”