Lillian Ross Elege Suas Melhores Reportagens Na New Yorker

Lillian Ross elege suas melhores reportagens na New Yorker – 13/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Uma das mais importantes jornalistas dos Estados Unidos, Lillian Ross foi contratada uma vez que a primeira mulher da redação da mítica revista The New Yorker, em 1945, bastante a contragosto. O caso é que, devido à Segunda Guerra Mundial, faltavam homens para ocupar a posição de jornalista e a escolha foi dar espaço a algumas mulheres.

Ambiciosa e espirituosa, Ross não demorou para galgar espaço e fazer segmento do primeiro time das finas plumas que escreviam para a publicação —uma referência do chamado new journalism, embora Ross não gostasse de se identificar uma vez que segmento desse movimento. Uma vez, em conversa com a Folha sobre o termo, ela afirmou: “Existe bom jornalismo e mau jornalismo, só isso”.

Ela não se lamuriava da situação das mulheres no jornalismo, mas tampouco deixava de marcar as difíceis condições que se enfrentavam no mercado. Ela dizia que mulheres ganhavam menos, suas reportagens eram chamadas de notas e eram reescritas por homens.

Aliás, tinham de empregar o pronome “nós” para se referir a si mesmas. Ela começou escrevendo os pequenos textos da famosa seção “Talk of the Town”, antes de passar para as crônicas mais longas. A coletânea “Sempre Repórter”, lançada agora pela Carambaia, é composta por 32 desses textos, escolhidos por ela mesma, dois anos antes de morrer, aos 99.

Entre os artigos mais significativos estão perfis de escritores, artistas e alguns anônimos que lhe chamavam a atenção. Ross dizia que nunca trataria de um personagem que não lhe agradasse, e tinha ojeriza de não ficção que se metia a elucubrar o que os biografados estavam pensando.

Gostava de transpor certa linguagem cinematográfica em seus escritos “com diálogos e ações”, mais do que longas descrições, e repudiava aqueles de sua geração que usavam a escrita para desvios ensaísticos. “Isso não é jornalismo”, dizia.

Para ela, a opinião do jornalista tinha de permanecer para ele, e o que o entrevistado realmente pensava era impossível de saber e, portanto, intransponível para o papel.

Difícil fazer uma escolha dos melhores textos, mas sua perspicaz descrição de Ernest Hemingway está entre eles —um varão pleno de contradições, machismos e manias com quem ela conseguiu estabelecer uma conexão única.

Em outro texto, descreve a reação ao logo novo disco dos Beatles, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, e recebe zero menos que a mensagem de um dos integrantes do grupo para comentar.

E o que expor da fenda de um texto seu que, pelo que consta, enfureceu seus chefes? Ao grafar sobre um campeonato de Miss América, diz logo de rostro que negras não podiam participar. O resto do texto, não menos irônico, já mostra o anacronismo daquilo tudo no término dos anos 1940.

Há um trecho do que seria um de seus livros mais famosos, “Filme”, resultado de uma série de reportagens que produziu com unicamente 25 anos, quando acompanhou a saga dos bastidores da filmagem de “A Glória de um Covarde”, de John Huston, e a maneira cruel uma vez que o filme foi despedaçado pela máquina de Hollywood.

Arguta, Ross foi autora de 11 livros, entre eles “Here But Not Here: A Love Story”, de 1998, em que revelou alguma coisa que todos do mercado editorial já sabiam —que ela havia mantido por décadas um caso com William Shawn, editor da revista. Quando o livro saiu, ele já havia morrido, mas não sua mulher, que beirava os 90 anos. O caso de ambos nunca foi um sigilo.

Em 2006, a jornalista esteve na Sarau Literária Internacional de Paraty. Uma vez que tradicionalmente costumava ocorrer, um dos descendentes de dom Pedro 1o, publicado uma vez que dom Pedrinho, reunia os convidados da Flip para um almoço. A reportagem da Folha estava presente.

Ross, que não conhecia o pretérito imperial do Brasil, parou curiosa diante de um quadro que representava dom Pedro 2o. Ele explicou a história de modo breve, dizendo: “Eu estou cá por justificação de Napoleão”. Ela ficou interessadíssima.

Embora dom Pedrinho de Paraty não seja um herdeiro direto da Diadema, caso ainda vivêssemos nesse regime, Ross lhe perguntou: “Mas é verdade que só 10% das pessoas sabem que ainda existe a família real?”. Ao que ele respondeu: “Mas 10% é muita coisa, veja quanta gente vive no Brasil”.

Uma vez que Ross era uma jornalista totalmente dedicada, essa história foi parar, dali a alguns meses, também nas páginas da New Yorker.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *