Marina Colasanti Exibe Força De Sua Literatura Em 2 Livros

Marina Colasanti exibe força de sua literatura em 2 livros – 02/12/2023 – Era Outra Vez

Celebridades Cultura

Em julho deste ano, pouco antes de Marina Colasanti subir à tribuna da Academia Brasileira de Letras para discursar e receber o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, a jornalista e escritora Rosiska Darcy de Oliveira definiu os livros da autora da seguinte maneira.

“Marina escreve para crianças livros que também são lidos por adultos. São textos encantados, com leituras que se desdobram”, disse a titular da cadeira número dez da ABL, na cerimônia do principal troféu da instituição. “Um dia perguntei a Marina o que era para ela a literatura. ‘Tudo’, me respondeu. ‘A literatura para mim é tudo, a minha inteireza como ser humano'”, continuou.

O prêmio Machado de Assis agora se soma outros, como os mais de 20 troféus da FNLIJ, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e quase uma dezena de Jabutis —entre eles, a melhor ficção de 2014, com o infantojuvenil “Breve História de um Pequeno Amor”. Marina Colasanti também está indicada ao Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura para esse público, que divulga os próximos vencedores no ano que vem.

A fala de Darcy de Oliveira dá pistas sobre a literatura de Colasanti e encontra eco na colombiana Silvia Castrillón, que foi consultora da Unesco. “Seus contos, repletos de princesas e cavaleiros, castelos e bosques mágicos, monges e sábios, levam-nos a acreditar que Marina escreve contos de fadas para crianças”, disse há alguns anos. “Mas a verdade é que, utilizando esses traços clássicos, a sua obra dirige-se à alma humana.”

Mas não é preciso ouvir acadêmicos, especialistas, críticos e jornalistas de plantão —basta ler os livros de Marina Colasanti para perceber isso. Os dois mais recentes, recém-publicados, ajudam nessa missão.

“A Disponibilidade da Alma”, lançado pela FTD, faz um sobrevoo pela obra da autora ao compilar 50 textos, entre contos, crônicas, poemas, ensaios e memórias. “A obra literária de Marina Colasanti é singularmente coesa e não conhece declínio, sempre se mantendo num alto patamar de qualidade”, escreve no prefácio Vera Maria Tietzmann Silva, que fez a organização e a seleção da antologia.

Embora não seja um livro para crianças no sentido estrito, a mistura de escritos e estilos só prova a avaliação de Castrillón. A literatura da escritora não pode ser reduzida como produção para adultos ou para crianças. É para os dois, sempre e ao mesmo tempo, porque é feita da mesma matéria fina que dá forma aos nossos medos, desejos, engrenagens do inconsciente e tudo o que nos une como seres humanos.

É o caso de “Entre a Espada e a Rosa”, por exemplo, o conto clássico da autora em que um rei promete a filha em casamento a outro chefe de Estado. Infeliz com a promessa e com o futuro ao lado de um desconhecido, a princesa chora antes de dormir. Quando acorda, porém, ela percebe que uma barba ruiva surgiu inesperadamente em seu rosto.

As metáforas e imagens simbólicas seguem ao longo de todo o conto. E deixam perguntas. Aquela é uma aventura baseada na ação e na jornada da heroína em busca de felicidade e autonomia? Ou estamos diante de uma alegoria em que barbas, rosas, espadas, armaduras e castelos falam de amor e do amadurecimento da mulher? Não há respostas fáceis. É tudo isso ao mesmo tempo.

Se “A Disponibilidade da Alma” aposta na diversidade de linguagens, o também recém-lançado “Sereno Mundo Azul” também opta por reunir diferentes textos, mas de um mesmo gênero. Lançado pela Global, o título conta com 15 contos inéditos e repletos de objetos mágicos, palácios, cabeças plantadas no chão, feiticeiros, lobos, criaturas fantásticas e outras esquisitices inspiradas em narrativas clássicas e maravilhosas.

O compilado é uma ótima maneira de entender como Colasanti revolucionou a literatura infantojuvenil brasileira ao ignorar as famosas —e sufocantes— morais das histórias, preferindo costurar tramas com as mesmas linhas usadas por nomes como irmãos Grimm, Charles Perrault e tantos outros.

Mas, se os contos flanam por reinos com castelos e palácios e evocam reis, princesas, frutos do norte e árvores exóticas, as ilustrações de “A Disponibilidade da Alma” quebram essa atmosfera e ajudam a subverter a estética europeia, abrindo novos caminhos para outras leituras.

Tudo por causa dos traços da colombiana Elizabeth Builes. Suas imagens criam faíscas ao colorir as páginas com personagens latinas, casas com a inconfundível estética qe vai do México ao Uruguai, lobos com jeito de vira-latas e frutos de inverno com toques tropicais e contornos de goiaba.

Afinal, na obra de Colasanti, nada é exatamente o que parece ser. É sempre mais. Quase infinito.


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Folha

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