Moda Resgata Feminilidade Em Tempos De Avanço Conservador 04/02/2025

Moda resgata feminilidade em tempos de avanço conservador – 04/02/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A voga historicamente reflete as condições sociais e políticas, particularmente no que se refere ao papel das mulheres. Durante o Renascimento, por exemplo, a exclusão das mulheres do mercado de trabalho na Europa foi acompanhada por estilos que enfatizavam a cintura, porquê os espartilhos. Essa tendência de realçar a feminilidade clássica continuou ao longo dos séculos e ressurgiu em momentos de repressão social.

Em 2023, a voga voltou a primar silhuetas com cinturas marcadas, tanto no prêt-à-porter quanto agora na alta-costura, com visuais extravagantes, porquê visto nas coleções de Valentino, Dior e Schiaparelli.

Esse ressurgimento ocorre em um contexto de progresso conservador global, onde a feminilidade clássica se destaca novamente, refletindo tensões sociais contemporâneas e a procura por identidades tradicionais em tempos de incerteza, conforme destacam especialistas porquê Carol Garcia, pesquisadora de voga e feminismo do Bureau de Estilo, e Simone Jorge, doutora em ciências sociais com foco em ativismo feminino e políticas de gênero.

“A voga e os padrões de formosura perpetuam estruturas de poder que aprisionam as mulheres, reforçando estereótipos que limitam sua autonomia e sentença”, observa Simone Jorge, doutora em ciências sociais. Essa dinâmica reflete uma luta uniforme contra forças que buscam manter as mulheres em papéis submissos, desqualificando sua aspecto e desviando o foco de suas conquistas políticas e sociais.

“A Dior, ao homenagear Saint Laurent e trazer de volta a silhueta de 1958, pode estar somente brincando com a nostalgia e a estética, mas, num contexto maior, esse resgate de um ideal feminino ‘belo, recatado e do lar’ ressoa com movimentos conservadores que romantizam o pretérito”, afirma Carol Garcia.

A voga reflete contextos sociais e políticos, mesmo quando não faz declarações diretas. Marcas porquê Schiaparelli e Chanel, ao valorizar silhuetas exageradamente femininas, podem estar respondendo a um movimento cíclico da voga ou, de forma mais sutil, refletindo uma tentativa de controle sobre a liberdade feminina.

As coleções de alta-costura ainda não fazem uma relação direta com a eleição de Donald Trump, embora a campanha eleitoral dele já estivesse em curso quando as maisons começaram suas produções. O que é apresentado em janeiro começa a ser planejado em agosto, afirma o designer de voga e rabino em história da arte Lorenzo Merlino.

Na Europa, a extrema direita avança: na Itália, Giorgia Meloni (Fratelli d’Italia) segue no poder; na Áustria, o Partido da Libertação cresce. Na França, partidos de esquerda, meio e direita moderada formaram a “frente republicana” para bloquear Marine Le Pen (extrema direita) e suas propostas anti-imigração, anti-UE e autoritárias.

A filósofa contemporânea, professora e feminista Silvia Federici já relacionou, em seus livros, que quanto mais as mulheres ganham direitos, mais surgem ideologias para tirá-los. O retorno da magreza extrema, a desvalorização da variedade na voga, além de tendências porquê “quiet luxury”, minimalismo e o movimento “clean girl” remetem a esse olhar mais tradicional.

Carol Garcia, citando Federici, afirma que a autonomia das mulheres frequentemente enfrenta resistência, sugerindo que a voga pode ser tanto uma sentença cultural quanto um instrumento de pressão social.

“Em um cenário global onde políticas conservadoras avançam e direitos das mulheres são questionados, a feminilidade clássica ressurge porquê tendência”, completa Garcia.

“A ênfase na cintura marcada pode estar ligada também ao declínio de temas porquê variedade e inclusão sob governos conservadores, que tendem a colocar esses assuntos em segundo projecto”, aponta a pesquisadora de voga Ketlyn Araujo.

A alta-costura influencia diretamente o prêt-à-porter, difundindo tendências porquê a cintura marcada, que pode se tornar um símbolo aspiracional de feminilidade tradicional. Embora nem todas as mulheres adotem essa estética, ela impacta a forma porquê a sociedade valoriza certos corpos e comportamentos.

A reinterpretação dessas tendências é crucial: nos anos 1980, por exemplo, a cintura marcada foi associada ao “power dressing, simbolizando poder. Hoje as mulheres podem ressignificar essas silhuetas de forma autônoma, mas a voga continua sendo uma dualidade. “Tanto utensílio de sentença quanto de repressão –dependendo de quem a controla”, completa Carol Garcia.

O designer de voga e rabino em história da arte Lorenzo Merlino pontua também que o luxo está enfrentando uma crise e que algumas marcas respondem com extravagância, relacionando-se a um universo de escapismo para atrair consumidores em meio à retração econômica.

“Em tempos de crise, cria-se um sonho para seduzir o consumidor, o que também abre espaço para um escapismo que pode ser interpretado porquê uma forma de se alienar de contextos políticos opressores.”

A voga pode ser tanto um campo de experimentação e subversão de normas quanto um instrumento que sustenta as elites e preserva o status quo. Enquanto oferece espaço para sentença, também pode substanciar estruturas de poder já estabelecidas.

Merlino também observa que a coleção da Dior, assinada por Maria Grazia Chiuri, foi vista por alguns porquê menos política, trazendo looks mais cobertos e “pudicos”, o que sugere um provável paralelo com o aumento do conservadorismo na sociedade. A escolha por silhuetas mais fechadas pode refletir, mesmo que indiretamente, um contexto cultural e social mais precatado.

Folha

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