Morre Alice Munro, Nobel De Literatura E Mestra Do Conto

Morre Alice Munro, Nobel de Literatura e mestra do conto – 14/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O mundo literário lamenta a perda de uma verdadeira mestra do narrativa, a canadense Alice Munro, aos 92 anos. Sua morte foi confirmada nesta terça-feira por seus agentes literários.

Seu legado uma vez que narradora perspicaz e seu posicionamento público contra a desigualdade de gênero continuará a inspirar gerações futuras.

Munro foi a primeira autora do Canadá a receber o Nobel de Literatura, sendo também agraciada com o prêmio Booker Internacional e o National Book Critics Circle Award, leste último pelo livro “O Paixão de uma Boa Mulher”, de 1998, por muitos considerado o seu livro mais importante, reunindo contos em que seu estilo cinematográfico —uma visão abrangente articulada à atenção aos detalhes em zoom— já se evidenciava.

A obra percorreria o mundo atraindo leitores de diferentes contextos. No Brasil, todavia, Munro passou a ser traduzida e mais lida a partir do Nobel e do relançamento do livro de contos “Ódio, Amizade, Namoro, Paixão, Enlace”, logo depois do prêmio. Agora, decerto deve ocupar novas e novos leitores.

Nascida em 10 de julho de 1931, em Wingham, Ontário, Alice Ann Laidlaw cresceu em uma pequena cidade da zona rústico canadense que serviria de natividade de inspiração para suas narrativas e para a construção de suas personagens.

De família modesta e crescendo numa estação de depressão econômica, Munro aproximou-se do universo literário graças ao poderoso interesse pela leitura que marcou sua puerícia. Chegou a frequentar por dois anos a Universidade de Western Ontario, onde conheceu o primeiro marido, James Munro.

Casaram-se em 1951, logo instalando-se na cidade de Victoria, na região de Vancouver, onde fundaram a Munro’s Books, livraria independente que se tornou espaço de referência e hoje, seis décadas depois, é uma das mais respeitadas livrarias no Canadá.

Seu primeiro livro foi lançado em 1968, “Dance of the Happy Shades”, colhendo elogios da sátira especializada. Munro tinha logo 36 anos e recebeu o Governor General’s Award for Fiction, um dos mais prestigiados prêmios literários do Canadá.

O livro foi escrito ao longo de quase 15 anos, na passagem dos seus 20 aos 30 anos, quando se tornou uma mulher casada e mãe. Escreveu boa segmento de seus contos enquanto seus bebês dormiam e, mais tarde, nas poucas horas em que frequentavam a escola.

Ali já se revelava uma autora capaz de menear com destreza a intrincada tapeçaria das emoções humanas e os impasses que se escondem por trás de vidas aparentemente comuns.

Muitas histórias de Munro são mobilizadas pelas personagens e seu multíplice funcionamento interno, que o narrativa permite revelar através de detalhes latentes de sentido. Sua literatura será lembrada pelas personagens femininas flagradas em situações mundanas, mas em processos de viragem, enfrentando dificuldades que a vida impõe —um cancro, o preconceito de classe ou a traição.

Munro soube percorrer um espectro múltiplo de personagens femininas, desenhando com uma notável economia de meios a dificuldade das expectativas de meninas que crescem na zona rústico, mulheres idosas em processo de demência, a jornada passional de mulheres de meia-idade ou as obsessões de uma poeta reclusa e solitária.

Professoras, secretárias, esposas, amigas, mães e filhas são flagradas em momentos de transformação, ou nas tentativas de evadir de um qualquer modo da vida, buscando saídas para as circunstâncias que, de perceptível modo, as mantêm cativas.

Em perceptível sentido ela se irmana com autoras uma vez que Virginia Woolf e Katherine Mansfield —mas, dissemelhante da primeira, não investe em fluxos de consciência. Envolvidas em ações corriqueiras, as mulheres de seus contos vivenciam uma façanha interna que só se revela ao longo da leitura. Assim fuga, evasão e decisões existenciais são temas privilegiados, mesmo quando secundárias ou não explicitadas na trama.

Comparada ao russo Anton Tchékhov pelo crítico Harold Bloom, Munro fez do narrativa um grande gênero, sem para isso recorrer à exuberância do fantástico ou aos caprichos do simbolismo.

Seus contos são realistas e constritos, poderíamos expor que são ibsenianos, lembrando o norueguês Henrik Ibsen, pois não julgam as ações que narram, deixando para quem lê uma margem de liberdade sátira.

Sua material é a vida uma vez que ela é, em declínio, transformação ou perdição, sob o véu da aparente normalidade —a vida naturalmente ordinária e por isso mesmo sempre um, cativante, por vezes mesmo resistente à versão.

No gênero narrativa, Woolf valorizava a simplicidade e a humanidade, vendo ali a possibilidade de atingir o leitor em pleno com uma emoção súbita que é um tipo de entendimento mais agudo sobre a vida. O narrativa seria, assim, um meio de cognição das experiências emotivas que nos humanizam, se sustentam na capacidade empática de quem escreve em relação aos personagens, mesmo os menos virtuosos.

Os contos de Munro fascinam precisamente nesse sentido: reconectam seus leitores com a requisito humana sem escapismo, mas são construídos sobre a intensidade emocional que percorre subterraneamente o enredo, sem ostentação. Ao termo da leitura, entregam ao leitor uma emoção um, que fica ecoando. Munro reafirma a literatura uma vez que uma ensino sentimental da qual não podemos prescindir.

Se, uma vez que já foi dito, a ficção é uma história que nunca se fecha, a literatura de Munro é uma asserção persistente dessa compreensão da literatura uma vez que espaço de sinceridade onde aprendemos a percorrer os caminhos sinuosos de vidas alheias, sem o imperativo da identificação totalidade ou do julgamento moral.

Margaret Atwood tem razão ao expor que, não importa quão conhecida Alice Munro se torne, ela deveria ser mais conhecida.

Folha

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