O Que Nos Faz Humanos? Livro 'ugh!' Ecoa Octavio Paz

O que nos faz humanos? Livro ‘Ugh!’ ecoa Octavio Paz – 03/08/2024 – Era Outra Vez

Celebridades Cultura

Enfim, o que nos faz humanos?

A pergunta pode até parece simples, mas não é tão fácil assim de responder. A explicação não está somente na biologia, nos genes e cromossomos, na sociologia nem forma porquê criamos organizações complexas. Ela vai além. E talvez a melhor definição tenha sido dada pelo poeta mexicano Octavio Sossego.

“O varão é varão graças à linguagem”, afirmou o vencedor do Nobel de Literatura de 1990. “Graças à metáfora original que o fez ser outro e o separou do mundo proveniente. O varão é um ser que se criou ao fabricar uma linguagem. Pela termo, o varão é uma metáfora de si mesmo”.

As palavras de Sossego ganham corpo e repercussão num livro que acaba de chegar às livrarias: “Ugh! Um Relato do Pleistoceno”. A obra é mais uma parceria do peruviano Rafael Yockteng com o colombiano Jairo Buitrago, autores dos premiados “Eloísa e os Bichos”, “Para Onde Vamos” e “A Caminho de Morada”, entre outros.

No novo “Ugh!”, tudo começa porquê se estivéssemos assistindo a um filme. Primeiro, vemos uma manada de animais corpulentos, que lembram bisões. Depois, é descortinado um cenário pré-histórico, com vulcões em erupção, fósseis expostos e preguiças-gigantes. É quando reparamos nuns seres menorzinhos, pequenos mamíferos que se embrenham no mato, empunham lanças, vestem peles e se preparam para caçar em grupo.

Sim, são seres humanos. Os primeiros seres humanos. Nossos avós. Gente nômade, que caçava a megafauna e era caçada por ela. Uma vez que naquela quadra a linguagem porquê a conhecemos ainda não tinha se desenvolvido, o livro exibe tudo isso exclusivamente com imagens em preto e branco. Sem nenhuma termo, tudo é ação, movimento, presente, cá e agora.

O vértice ocorre quando um dos hominídeos cai. Em close cinematográfico, vemos o seu olhar de desespero e o progresso de um dos bisões, que bufa com fúria e galopa em sua direção.

Nesse momento, há um namoro na narrativa. Não sabemos o que acontece depois. Ao virar a página, encontramos um fundo branco, onde lemos o título, “Ugh!”, porquê se fosse o grito pré-linguístico do personagem que estava prestes a ser pisoteado.

Nas 16 páginas duplas seguintes, tudo continua igual, somente com imagens e sem nenhuma termo, fazendo com que o leitor acompanhe uma narrativa visual na qual um grupo de seres humanos caminha por florestas, foge de predadores porquê tigres-dente-de-sabre, graduação montanhas, enfrenta a neve, desafia penhascos, encontra mamutes. Até que se refugia numa caverna, onde mata um urso e acende uma fogueira.

Mas a pergunta continua. Enfim, o que nos faz humanos?

Nesse início, o livro parece sugerir que a resposta é a nossa coragem. Ou logo a esperteza de usar armas para caçar bichos muito maiores. Quem sabe as técnicas para controlar o incêndio e menear ferramentas que ampliam as nossas chances de sobrevivência num mundo hostil e perigoso.

Só que tudo muda quando uma das personagem resolve olhar com mais atenção as paredes da caverna. É uma mulher, pequena, longe de ser a mais poderoso ou a mais violenta da comunidade.

Quando o resto do grupo sai para caçar e buscar comida, ela recolhe um galho chamuscado no incêndio. Com ele, desenha um mamute na parede da caverna. A partir desse momento, as rochas já não são exclusivamente minérios sem vida. Elas se tornam telas, onde brilham desenhos e pinturas, com bisões sendo caçados, humanos fugindo de tigres, mamutes, montanhas, ursos, florestas. Surge ali uma representação de tudo o que aquelas pessoas viveram e enfrentaram até aquele momento.

Portanto há mais outra quebra de narrativa no livro. Saem de cena as imagens e aparecem pela primeira vez as palavras. E não tinha porquê ser dissemelhante. Porque ali nasce a nossa linguagem. A arte é criada. A vida é projetada e imaginada. Surgem ideias abstratas e complexas. Começamos a recontar histórias e inventar causos. Passamos a não viver mais presos ao presente, mas entortamos a risco do tempo ao registrar o pretérito e inventar futuros.

E é isso o que nos faz humanos. A nossa capacidade de fabular, fabricar metáforas, fazer conexões entre coisas completamente diferentes. Ou, porquê disse Octavio Sossego, “o varão é varão graças à linguagem”. Está aí a venustidade de “Ugh!”, um livro que brinca com a linguagem para falar justamente sobre a geração e o promanação da nossa linguagem.

Mas não exclusivamente isso. Yockteng e Buitrago vão além. Eles nos recordam também que o varão só é varão graças à mulher —e às primeiras contadoras de histórias.


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Folha

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