Olimpíadas 2024: Uniformes São Considerados Sexistas 29/05/2024 Esporte

Olimpíadas 2024: uniformes são considerados sexistas – 29/05/2024 – Esporte

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A menos de 60 dias do início das Olimpíadas de Paris, o corpo das mulheres volta a ser meio de debate.

Imagens dos uniformes femininos de atletismo, feitos pela Nike, foram divulgados no início de abril e o traje foi criticado por atletas mulheres que o consideraram desnecessariamente cavados. As mesmas mulheres classificaram os trajes uma vez que “sexistas”, uma vez que o “maiô cavo prioriza o vista de figura em vez de funcionalidade”.

Katia Rubio, coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos da Escola de Ensino Fisica da USP (Universidade de São Paulo), entende que, idealmente, a escolha do uniforme deve levar em consideração o bem-estar das atletas e a sua performance.

Segundo ela, o esporte é, historicamente, um campo determinado pelos homens e que “quando atletas não são consultadas sobre o bem-estar, só sobra performance”. “Talvez, o bem-estar seja substituído pela comercialização das imagens”, diz.

Rubio explica que, no caso das Olimpíadas, o uniforme é determinado pelo comitê olímpico de cada país. “É feito um estudo da modalidade e a roupa é desenvolvida em função das características e das demandas da modalidade. Mas nós sabemos que isso não é tão simples assim, porque há interesses comerciais que rondam a imagem das atletas que usam [o uniforme]”, afirma.

“Hoje, nós sabemos o quanto essa questão envolve uma invasão da privacidade da mulher e a sexualização de seu corpo, que pouco implica na performance, mas no uso dessa imagem para ser seguida”, relata.

Em uma postagem em sua conta no Instagram, Lauren Fleshman, campeã de atletismo dos Estados Unidos na categoria 5.000 metros, em 2006 e 2010, insinua que, se os uniformes da Nike fossem verdadeiramente benéficos para a performance física, os homens também usariam eles.

“Desculpe, mas mostre um time da liga feminina de basquete ou de futebol que entusiasticamente defenderia esse conjunto. Ele é para o time de atletismo das Olimpíadas da Track & Field. Atletas profissionais devem poder competir sem destinar muita pujança para uma vigilância ordenado da região pubiana [se aparece ou não] ou ter a fardo mental de ter toda a segmento mais vulnerável do seu corpo à mostra […] Se oriente traje fosse realmente proveitoso para o desempenho físico, os homens o usariam. Nascente não é um uniforme de escol para o atletismo. É um traje criado pelo patriarcado, onde não há espaço para esportes femininos. Sou queer e sou atraída por corpos femininos, mas não espero nem sabor de ver atletas femininas ou atletas masculinos colocados em uma posição de serem autoconscientes em seu lugar de trabalho”, disse a desportista em sua conta pessoal.

A técnico da USP volta para a questão de uma vez que esses recortes na roupa podem ser incômodos e até atrapalhar no desempenho das atletas femininas. “Imagina uma mulher tendo que retirar o decote do bumbum durante a partida, o quanto isso impacta na atenção e na concentração que ela tem para o jogo. Ou, no caso do atletismo, ela tem que permanecer prestando atenção nesse uniforme que não foi feito para uma boa performance com conforto; o quanto isso retira a pujança dela da própria competição”, relata.

Cláudia Vicentini, professora doutora de Têxtil e Tendência na Each (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), campus USP Leste, afirma que, em sua história, a voga não é confortável nem prima pelo conforto. “A voga trabalha com aspectos simbólicos do resultado e, esses aspectos simbólicos, 90% das vezes, não estão atrelados ao conforto uma vez que é necessário, por exemplo, na prática de atividade física”, explica.

A técnico também destaca que a voga reforça os padrões comportamentais. “Por exemplo, estamos falando de um momento histórico onde os papéis sociais de varão e mulher são muito muito definidos. No entanto, a voga reforça estereótipos de comportamento. Por isso falamos que a voga é sexista.”

Rubio explica que, entre as décadas de 1940 e 1950, os uniformes não tinham a mesma relevância de hoje. “O que se buscava era a liberdade do movimento. Os novos materiais levam à procura da primazia porque qualquer milímetro, qualquer segundo, impacta no resultado. Na dezena de 90, com a subida da venda de marcas comerciais nos uniformes, também existe um movimento para dar visibilidade aos patrocinadores. É um estabilidade muito sutil entre interesses comerciais e performance”, diz.

Além da subida das marcas no final do século pretérito, Vicentini destaca que, entre os anos 90 e 2000, a voga esportiva saiu dos jogos e foi para rua, no chamado streetwear. “As marcas esportivas começaram a trabalhar com roupas para o dia a dia e aumentaram muito o leque de atuação no mercado”, afirma. Segundo a técnico, isso fez com que a população voltasse a atenção ao mundo esportivo.

“Estamos dando atenção ao mundo esportivo, uma vez que os atletas se vestem, o tipo de estampa que foi utilizada, o tipo de tecido. E aí zero melhor do que você ter pessoas do cenário esportivo também fazendo essa propaganda”, destaca.

Ambas especialistas destacam que uniformes com características sexistas unicamente deixarão de ser produzidos e usados caso haja um movimento quase unânime de atletas e da mídia contra esses cortes.

“A questão passa pela organização das mulheres em proferir não para aquele tipo de imposição, o que não é muito fácil porque as atletas são obrigadas quase sempre a se calarem diante de decisões absurdas, porque isso é tomado uma vez que indisciplina. E uma das marcas do esporte é a disciplina”, ressalta Rubio.

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