Onda Coreana: É A Hora Dos Novos Autores, Diz Heena

Onda coreana: É a hora dos novos autores, diz Heena Baek – 08/03/2024 – Era Outra Vez

Celebridades Cultura

Olhar porquê Heena Baek constrói suas ilustrações talvez seja seguir um dos processos mais interessantes da literatura infantojuvenil e do livro ilustrado atual. E cá o verbo escolhido não é uma metáfora. A artista sul-coreana costuma, de veste, erigir personagens, figurinos, cenários e todos os elementos de suas histórias, numa técnica que mistura arquitetura, cenografia e casinha de bonecas.

Em seu estúdio, em Seul, há dezenas de pequenas cabeças, todas com expressões diferentes, além de coleções de cadeirinhas, minisofás, ventiladores em miniatura, televisores menores do que caixas de fósforo. Isso sem falar na maquete de um prédio, com a fundura de uma pessoa em pé.

Tudo é usado para fabricar a cena desejada, que depois é fotografada, mais ou menos porquê se estivéssemos na produção de um filme em stop motion —o que não deixa de ser proveniente, já que a escritora e ilustradora de 52 anos se especializou em animação na Califórnia, nos Estados Unidos.

“Na animação, há um pouco mais de variáveis. É simples que os livros também podem variar bastante, dependendo do papel, da sentimento, da encadernação”, diz Baek, em conversa com nascente blog. “Mas no audiovisual há edição, música, efeitos sonoros, movimento, velocidade. São elementos mais complicados de controlar, mas que podem aditar uma classe mais dramática à narrativa.”

A entrevista foi feita por email, via Companhia das Letras, que vem publicando os últimos livros da autora no Brasil, porquê “Picolé de Lua” e “Balas Mágicas”. Antes, ela já havia lançado por cá “Eu Sou Cachorro”, que saiu pela editora Amelì. As perguntas e respostas foram traduzidas por Luis Girão, diretor da ARA Cultural, que verte para o português os textos de Baek e de outros autores da Coreia do Sul, porquê Suzy Lee, JiHyeon Lee e Jo-Ara, por exemplo.

E já que estamos falando dos bastidores deste texto, aproveito para manifestar que, porquê o nome da autora precisou ser transliterado, ou seja, pretérito para as letras do nosso alfabeto, a opção foi apresentá-lo de tratado com a estrutura brasileira —ou seja, Heena Baek, com nome seguido de sobrenome; e não Baek Heena, porquê é mais generalidade em países asiáticos.

Seja porquê for, a artista lança neste mês pela Companhia das Letrinhas um novo título no Brasil. “A Mamãe do Pintinho” conta a história de uma gata de rua que adota um filhote de penosa. Muita gente já deve estar curioso para saber porquê Baek desenvolveu as imagens, quais materiais usou, porquê são os bonecos, se há maquetes da granja, se o ovo do pintinho é real ou não.

Só que não há zero disso. As ilustrações optam por outro caminho, abrindo mão da estética dos bonecos e abraçando uma técnica mais tradicional, na qual tudo é feito com carvão em papel.

“Acredito que todos os elementos de um livro devem cooperar para narrar a história. A escolha das ilustrações e dos materiais está diretamente ligada à procura para expressar essa história da melhor maneira verosímil”, afirma. “No caso de ‘A Mamãe do Pintinho’, achei que o carvão combinasse com a natureza de uma gata de rua.”

Na narrativa, a gata arruaceira e mal-encarada, descrita porquê “gorda, faminta e interesseiro”, come um ovo surrupiado de um galinheiro. Só que de repente sua ventre começa a crescer. A cada dia fica maior, num processo que lembra uma gravidez. Até que a felina sente uma vontade imensa de fazer cocô —mas acaba expelindo um pintinho no processo, porquê se tivesse parido a pequena ave.

A história pouco óbvia e a técnica dissemelhante, porém, não deveriam surpreender tanto assim. Em 2020, quando venceu o Espírito, {sigla} do Astrid Lindgren Memorial Award, um dos maiores prêmios internacionais da literatura infantojuvenil, a autora afirmou que gosta justamente dessa imprevisibilidade. E que procura a todo momento fugir de padrões, expectativas e moldes.

“Sempre tive dificuldade para me harmonizar a uma sociedade realista”, conta agora por email. Por isso afirma ter se aproximado do mundo dos livros. E também começado a fabricar as próprias histórias e a investigar maneiras diferentes de contá-las e apresentá-las.

Essa procura por novas linguagens colocou seu nome entre os mais badalados da atual geração de autores sul-coreanos de literatura infantojuvenil e livro ilustrado —grupo que vem lotando livrarias do Brasil e do mundo com seus lançamentos e abocanhando prêmios importantes pelo caminho. Enquanto Baek ganhou o Espírito, sua conterrânea Suzy Lee foi laureada em 2022 com o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura para esse público.

Mas os resultados estão longe de ser um casualidade. Os troféus vêm no bojo de um projeto mais espaçoso do governo asiático, que nas últimas décadas tem investido pesado no fomento e na exportação de sua indústria cultural, num movimento global que pode ser visto também na explosão do k-pop e dos k-dramas e em sensações audiovisuais porquê “Verme” e “Round 6”, por exemplo. Consolidada porquê política de Estado, a vaga coreana recebeu até nome: “hallyu”.

“Acho que chegou a hora. É o momento para que novos autores floresçam. Muitos predecessores abriram o caminho e, em cima desse solo, uma novidade geração se tornou adulta e agora pode estrear”, projeta Baek.


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Folha

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