Pgr: Bolsonaro Liderou "longa Construção Criminosa"

PGR: Bolsonaro liderou “longa construção criminosa”

Brasil

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Universal da República (PGR) aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro liderou uma “organização criminosa” que, a partir de 2021, “se dedicou a incitar a mediação militar no país” e, assim, deflagrar um golpe de Estado, permitindo que ele e seus apoiadores permanecessem no poder, independentemente do resultado das eleições presidenciais de 2022.

Ao longo das 272 páginas da denúncia apresentada na noite desta terça-feira (18), a PGR elenca fatos, evidências e depoimentos de investigados, uma vez que o do ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, e conclui que Bolsonaro e outras 33 pessoas, incluindo ex-ministros e militares de subida patente, agiram para minar a crédito popular no sistema eletrônico de votação e nas instituições democráticas brasileiras.

Com base no sindicância da Polícia Federalista (PF) que, em novembro de 2024, indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas pelos crimes de extermínio violenta do Estado Democrático de Recta, golpe de Estado e organização criminosa, a PGR sustenta que o ex-presidente não só tinha conhecimento, uma vez que participou de várias das ações arquitetadas para a consumação do golpe de Estado, incluindo o suposto projecto para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federalista (STF) Alexandre de Moraes.

“Os fatos narrados ao longo desta peça acusatória não deixam dúvidas de que o cenário de instabilidade social identificado depois o resultado das eleições de 2022 foi fruto de uma longa construção da organização criminosa que se dedicou, desde 2021, a incitar a mediação militar no país e a disseminar, por múltiplos canais, ataques aos poderes constitucionais e a espalhar a falsa narrativa do ocupação do sistema eletrônico de votação para prejudicar Jair Bolsonaro”, afirma o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Na denúncia, a PGR afirma que o projecto de ruptura da ordem democrática foi posto em marcha de forma mais acintosa em março de 2021, depois o STF anular as condenações criminais de Lula no contexto da Operação Lava Jato, permitindo que o petista disputasse as eleições do ano seguinte. 

“Convém recordar que, a partir de 2021, o presidente [Jair Bolsonaro] adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional nos seus repetidos pronunciamentos públicos em que se mostrava descontente com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor. Poucos dias depois de superada a desculpa de inelegibilidade [de Lula], o grupo de base do portanto presidente [Bolsonaro], que formará o núcleo da organização criminosa, cogitou de o mesmo, claramente, passar a desafiar e a postergar a decisões do Supremo Tribunal Federalista, chegando a produzir projecto de contingenciamento e fuga de Bolsonaro, se a ousadia não viesse a ser tolerada pelos militares”, afirma Gonet.

A partir daí, segundo a PGR, “a trama conspiratória armada e executada contra as instituições democráticas” evolui em diferentes frentes, “desenrolando-se em masmorra de acontecimentos, alguns com mais marcante visibilidade do que outros, sempre articulados ao mesmo objetivo [golpista]”. 

Para a PGR, são provas da participação ativa de Bolsonaro no suposto “projecto de insurreição” a transmissão (live) que o presidente fez nas redes sociais, em 29 de julho de 2021, durante a qual ele repetiu acusações já portanto desmentidas contra o sistema eleitoral, conclamando as Forças Armadas a agirem.

“A partir de portanto, os pronunciamentos públicos [de Bolsonaro] passaram a progredir em agressividade, com ataques diretos aos poderes constituídos, [de forma a] inculcar sentimento de indignação e revolta nos seus apoiadores e com o propósito de tornar plausível e até esperável o recurso à força contra um resultado eleitoral em que o seu inimigo político mais consistente triunfasse”, considera a PGR.

Na mesma traço, a denúncia relembra que, ao participar de um ato em seu base, em 7 de Setembro de 2021, em São Paulo, Bolsonaro atacou Alexandre de Moraes, relator do sindicância que investiga o financiamento e organização de atos antidemocráticos, ameaçando não mais executar suas decisões. E que, em julho de 2022, o ex-presidente convocou uma reunião ministerial durante a qual “cobrou do tá escalão de seu governo a multiplicação dos ataques às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral”.

“As investigações da PF revelaram que o pronunciamento não era mero êxtase inconsiderado e inconsequente. Já portanto, o grupo ao volta do presidente tinha traçado uma estratégia de atuação em prol do seu líder, incluindo um projecto de fuga do país, se quiçá lhe faltasse o base armado com que contavam”, aponta a PGR.

Entre as provas que a PRG afirma ter para justificar que Bolsonaro tinha conhecimento e estimulava a proposta golpista está a traslado de um oração que, supostamente, seria lido por Bolsonaro durante a consumação do golpe. O oração foi encontrado na sala do ex-presidente na sede do PL e, para a PGR, reforça o domínio que oriente possuía sobre as ações da organização criminosa, mormente sobre qual seria o desfecho dos planos traçados – a sua permanência autoritária no poder, mediante o uso da força”.

Uma segunda traslado do documento foi encontrada no aparelho celular de Mauro Cid, dos quais prova à PF parece substanciar a tese da PGR. De contrato com a denúncia, o ex-ajudante de Ordens confirmou, por exemplo, que, em novembro de 2022, Bolsonaro e seu portanto assessor Filipe Garcia Martins Pereira discutiram a redação e ulterior publicação de um decreto golpista, intervindo no inclusive no Poder Judiciário e decretando a realização de novas eleições.

“De contrato com o colaborador [Cid], Bolsonaro fez, adiante, ajustes na minuta, submetendo à prisão unicamente o ministro Alexandre de Moraes [do STF] e se limitando à realização de novas eleições presidenciais. As informações prestadas pelo colaborador indicam que a primeira versão do documento foi submetida à opinião de representantes das Forças Armadas, em reunião realizada no Palácio da Alvorada. Na ocasião, Bolsonaro apresentou a minuta ao [então comandante do Exército], general Freire Gomes, ao [então comandante da Marinha] almirante Almir Garnier Santos e ao [então] ministro da Resguardo, Paulo Sérgio Nogueira”.

Em nota, a resguardo do ex-presidente informou ter ficado “estarrecida e indignada com a denúncia” apresentada nesta terça-feira. Assinada pelo legista Paulo Cunha Bueno, a nota afirma que Bolsonaro “não compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Recta ou as instituições que o pavimentam”.

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Fonte EBC

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