Em 2025, o plumitivo e diplomata Cássio Haddames, responsável de unicamente três livros, avesso a eventos literários e notório recluso, se torna o primeiro brasiliano a lucrar o Nobel de Literatura.
Esta história foi publicada em 2018, mas uma vez que obra de ficção. No mundo real, Haddames não existe e zero indica que o Brasil terá, enfim, um ganhador desse importantíssimo prêmio neste ano. Leste enredo foi criado pelo plumitivo e diplomata Mauricio Lyrio. O livro se labareda “O Imortal”.
O Brasil já teve pelo menos 13 vezes nomes cotados para o Prêmio Nobel de Literatura, mas nunca nenhum deles venceu. De 1967 a 1971, todos os anos o best-seller baiano Jorge Estremecido figurava entre os cotados.
Não ganhou o prêmio. Respectivamente, perdeu para o guatemalteco Miguel Ángel Asturias, o nipónico Yasunari Kawabata, o irlandês Samuel Beckett, o russo Alexandre Soljenítsin e o chileno Pablo Neruda.
Esse período foi notável. Também em 1967, o poeta Carlos Drummond de Andrade foi indicado e o plumitivo Guimarães Rosa estava cotado, mas morreu um pouco antes do proclamação do prêmio. No ano seguinte, Érico Veríssimo esteve entre os indicados. Clarice Lispector foi cotada em 1971.
O arquiteto, plumitivo, pintor e músico Flávio de Roble foi indicado em 1939, quando o prêmio acabou com o finlandês Frans Sillanpää. Em 1941, quando o prêmio não foi atribuído, houve a candidatura de um obscuro Manoel Cyrillo Wanderley, para muitos pseudônimo do poeta Manuel Bandeira.
Jorge de Lima era cotado, mas dadas as pendências da Ateneu Sueca, só poderia ser indicado em 1958. Uma vez que acabou morrendo cinco anos antes e a instituição não concede prêmios póstumos, perdeu a chance.
Alceu de Amoroso Lima, o poeta e professor, foi indicado em 1965, mas quem ganhou foi o russo Mikhail Sholokhov.
O processo para chegar aos ganhadores do Nobel tem início por meio da distribuição de formulários pelo comitê para acadêmicos proeminentes de diferentes áreas. Essas personalidades têm quatro meses para enviar de volta o formulário com suas indicações.
Assim, o comitê do Nobel seleciona tapume de trezentos potenciais candidatos desses formulários e alguns nomes adicionais, que não são revelados publicamente, em todas as categorias, física, química, fisiologia ou medicina, literatura e tranquilidade.
De concórdia com suas regras, a organização do prêmio só revela os cotados 50 anos depois da edição. Assim, não se sabe oficialmente quantos ou quais brasileiros foram cogitados de 1975 em diante.
Mas especula-se que a última vez que um responsável brasiliano chegou a ser indicado ao Nobel de Literatura foi em 2016, quando Lygia Fagundes Telles despontou entre as candidatas. Naquele ano, foi premiado o músico e poeta americano Bob Dylan.
“O Brasil esteve perto, muito perto de ter escritores que recebessem o Nobel. O mais próximo foi o Jorge Estremecido, que era um plumitivo de caráter regional na sua temática e que estava dentro de uma teoria até um pouco estereotipada de América Latina”, afirma à BBC News Brasil o plumitivo e professor universitário Miguel Sanches Neto, reitor na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
“Ele foi um dos escritores mais lidos do mundo sendo brasiliano.”
Professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o pesquisador André Gomes diz à BBC News Brasil que embora premiações sejam “sempre muito importantes” pela tentativa de “flagrar o zeitgeist, ou seja, o momento da produção literária e seus possíveis desdobramentos”, nem mesmo “o Nobel vai prometer nem a qualidade do que será publicado por esse plumitivo nem a sobrevivência dessa obra no que chamamos canonização”.
“Portanto, um prêmio, e incluo aí o Nobel, é uma marca importante do estado da arte literária, mas somente o prêmio não dá dimensão do que vai ocorrer com esse plumitivo em sua trajetória pós-prêmio”, acredita ele.
Conjunção de fatores
Para especialistas, são muitas as razões que fazem com que o Brasil nunca tenha tido um responsável laureado com o principal prêmio mundial de literatura.
Em primeiro lugar, o fator periférico tanto da língua portuguesa —até hoje unicamente um plumitivo lusófono foi premiado com o Nobel, o português José Saramago, em 1998— quanto do próprio país, no contexto das produções culturais amplamente traduzidas e distribuídas pelo mundo.
Outro motivo seria a falta de esforços institucionais para tornar a obra de escritores contemporâneos mais conhecida em outros países, com incentivos mais intensos a traduções e participações em eventos internacionais.
Nessa mesma toada, há uma sensação de que entidades literárias brasileiras nunca se empenharam em tutelar um nome potente em uma espécie de campanha para invocar a atenção de prêmios internacionais.
Por término, ainda há um outro paisagem considerado: dentro do seu habitat, ou seja, a literatura latino-americana, a produção brasileira padece de um isolamento justamente por ser única no linguagem, cercada por uma produção de língua espanhola.
Assim, o país não conseguiu surfar, por exemplo, na vaga de reconhecimento mundial à literatura latino-americana em que os quatro grandes nomes foram o prateado Julio Cortázar, o mexicano Carlos Fuentes, o colombiano Gabriel García Márquez e o peruviano Mario Vargas Llosa.
“Penso que o indumentária de ainda não termos levado um Nobel de Literatura não tem relação com a falta de escritores talentosos, absolutamente”, diz à BBC News Brasil o professor Emerson Rossetti, doutor em estudos literários pela Unesp e fundador do meio no YouTube Escol da Língua.
“Ainda não constituímos, aos olhos do resto do mundo, uma tradição suficientemente sólida. Tampouco sabemos fazer campanha.”
“No Brasil, não faltam autores de alcance mundial. O que faltam são campanhas adequadas para conseguir tal feito”, aponta à BBC News Brasil o poeta e professor de literatura Frederico Barbosa, ganhador de dois prêmios Jabuti.
“No país, os escritores e a intelligentsia mais brigam do que se unem no intuito de fazer uma campanha por autores que realmente mereceriam.”
“O plumitivo brasiliano está só no linguagem. Nosso linguagem é um linguagem de isolamento, que nos separa do resto do mundo e, embora tenhamos muitos falantes, é um linguagem que separa”, diz Sanches Neto.
“Há uma tendência de o plumitivo brasiliano de estar mais inferiorizado dentro do próprio linguagem. E isso atrapalha a projeção dentro do próprio linguagem.”
“A língua mais evidente na América do Sul, por conta do número de países, é o espanhol. A gente continua no lamento”, argumenta à BBC News Brasil a professora de literatura brasileira, tradutora e pesquisadora Sandra Mara Stroparo, professora na Universidade Federalista do Paraná (UFPR).
Pós-doutora em teoria literária e professora na Universidade de São Paulo (USP) e na Instauração Armando Álvares Penteado (FAAP), Sandra Regina Chaves Nunes constata, em conversa com a BBC News Brasil, que “a língua portuguesa não tem o alcance que a língua espanhola tem, seja pela América Latina, seja por outro países”.
“Há, evidentemente, fatores de ordem geopolítica, econômica e cultural que influenciam esse cenário. Embora Brasil e Portugal sejam os maiores países lusófonos em termos de população e produção literária, seus mercados editoriais e seu poder cultural global são significativamente mais restritos do que os de países uma vez que Estados Unidos, Reino Uno ou França, potências com potente presença institucional e editorial no rotação literário internacional”, diz à BBC News Brasil o linguista Vicente de Paula da Silva Martins, professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
“Outro paisagem decisivo é a divulgação da língua portuguesa no projecto internacional”, completa ele. “Enquanto o espanhol e o galicismo consolidaram uma presença robusta no cânone da literatura universal, o português permanece, em grande medida, periférico, tanto no rotação editorial quanto nos espaços de premiação e glorificação literária. Soma-se a isso uma dificuldade de ordem linguística e tradutológica: a traduzibilidade da literatura em língua portuguesa, notadamente a brasileira, encontra obstáculos expressivos.”
Para Gomes, são três os motivos principais que “dificultam a ingressão” da literatura brasileira “nessa grande roda que é participar de premiações internacionais”.
“O indumentária de ocuparmos a periferia econômica e, por conseguinte, estarmos na periferia da cultura ocidental. O que significa que, embora tenhamos manifestações culturais muito ricas, elas não circulam globalmente uma vez que a cultura de qualquer país europeu, mesmo de países do Leste Europeu que passam por processos de subalternização”, elenca.
“A língua portuguesa, embora seja falada por milhões de pessoas, é uma língua periférica e muito recentemente temos uma política de tradução, embora sempre fomos traduzidos nos exterior. E o pouco investimento na divulgação da nossa produção literária, dadas as próprias condições de uma cultura letrada no país.”
Muitos comparam os esforços institucionais para lucrar um Nobel ao empreendido pela indústria cinematográfica para vencer um Oscar.
Nesse sentido, segundo Gomes, os escritores brasileiros que já foram cotados ao prêmio não perderam pela falta de qualidades, mas pela falta de uma boa campanha.
“[…] A meu ver, não se tratou da questão da qualidade, mas da exiguidade de campanha. Veja um exemplo fora da literatura: o filme ‘Ainda Estou Cá’ foi premiado pelas suas qualidades? Sim. Entretanto, não dá para ignorar que houve, da segmento das distribuidoras americanas, um investimento pesado na máquina de propaganda, portanto, de convencimento dos votantes da Ateneu para o filme conseguir o Oscar”, diz ele.
“É uma questão de estética, mas é muito mais um jogo de força política que precisa do encampamento de atores políticos do exterior para ser bem-sucedida.”
“Não há uma resposta única [sobre por que o Brasil não tem um Nobel]. Há questões uma vez que a visibilidade, a presença internacional […], tem também questões geopolíticas”, diz à BBC News Brasil a professora Ana Lúcia Trevisan, da pós-graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“A exiguidade de um Nobel de Literatura para o Brasil resulta de um conjunto de fatores estruturais que transcendem o valor individual dos escritores. O país não possui uma política articulada e contínua de internacionalização literária. A tradução de obras, embora necessária, é insuficiente quando não acompanhada de inserção em redes estratégicas, uma vez que editoras de prestígio, universidades com tradição em estudos comparados, prêmios intermediários e resenhas em publicações de referência”, analisa à BBC News Brasil o poeta Carlos Willian Leite, editor da Revista Bula.
“O Nobel é resultado de um processo de glorificação que envolve tanto a construção de prestígio simbólico quanto a atuação nos bastidores da cultura internacional”, completa ele.
Leite acredita que a “visibilidade internacional dos escritores brasileiros” é “fragmentada, com traduções pontuais e pouca perenidade sátira”. E ele também argumenta que “segmento significativa da literatura brasileira recente”, por se preocupar com “experimentalismo estético ou introspecção subjetiva”, acaba não dialogando “diretamente com os critérios que têm pautado as escolhas” da Ateneu Sueca, que confere o Nobel. Segundo sua visão, o prêmio prioriza “obras de cimeira texto ético, político e universalizável”.
Nomes fortes
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil trouxeram alguns nomes de escritores brasileiros contemporâneos que, no entendimento deles, têm uma produção de qualidade para um prêmio Nobel. Quase todos lembraram de Milton Hatoum. Também foram citados Bernardo Roble, Itamar Vieira Júnior, Cristovão Tezza e Adélia Prado.
“Fico imaginando o Chico Buarque, um responsável que eu indicaria pelo conjunto de sua obra”, diz Nunes.
“Um plumitivo brasiliano certamente merecedor do Nobel, que poderia receber o Nobel por razão da valorização de sua obra no mundo, é [o poeta] Augusto de Campos, o último remanescente de um grupo de autores que modificaram a literatura mundial através da geração da trova concreta”, defende Barbosa.
“Ele é reconhecido em inúmeras universidade do mundo, e várias publicações internacionais apresentam a trova concreta.”
“Uma vez que leitor de Raduan Nassar, considero-o um dos maiores e mais profundos nomes da literatura brasileira contemporânea”, sugere Martins.
“Sua obra, de uma singularidade incomparável, revela uma densidade poética rara, aliada a uma profundidade psicológica que confere à sua escrita uma dificuldade única. […] Ele merece ser reconhecido com o Prêmio Nobel de Literatura, não unicamente pela venustidade estética de sua obra, mas pela profundidade que ela alcança nas complexidades da espírito humana.”