Cacau e moca, duas culturas que fazem secção do cotidiano não exclusivamente dos brasileiros, mas das populações dos vários países americanos. Duas culturas também que estão ameaçadas pelas mudanças climáticas, que podem transformar o chocolate e o cafezinho em artigos de luxo. No primeiro Encontro de Líderes Rurais, na Costa Rica, produtoras de diferentes países compartilham as experiências e as perspectivas para o porvir.
Na província de Esmeralda, no Equador, Lorena Valdez e outras 26 mulheres produtoras de cacau criaram o chocolate Timbiré. “As mudanças climáticas estão sim nos impactando e também estão nos dando lições de vida e alertas de algumas alternativas para podermos cuidar e mitigar essas mudanças no clima, porque sabemos que isso é progressivo”, diz Valdez, uma das fundadoras da Associação de Mulheres Afroequatorianas Timbiré no Porvir (Amatif).
Foi no cacau, cultivo tradicional na região da produtora Valdez, que há 16 anos ela encontrou o sustento e também a paixão. “É a região onde há o melhor cacau, o cacau fino ou de odor, que por muitos anos estava sendo rejeitado porque não estavam dando à produção valor associado, e o dispêndio do resultado estava muito barato”, disse.
O grupo de mulheres que se reuniu para produzir o cacau era de chefes de família, muitas delas mãe solo. “Em uma prática que fizemos, nos lembramos de nossos avós, e de um dos superalimentos. O que tinham para ir trabalhar era uma taça de cacau, de chocolate. Acreditamos que podíamos inaugurar dali”, explicou Valdez.
A produção foi crescendo e elas começaram a reunir valor ao resultado, não exclusivamente comercializando o cacau, mas bolinhas de chocolate. As bolinhas, mais tarde, foram transformadas em barra e ganharam marca, que chamou atenção nas feiras. Aos poucos chamou a atenção também do governo equatoriano. E elas conseguiram capacitação e aos poucos outros incentivos para a produção. “Fomos nos fortalecendo uma vez que mulheres, uma vez que família e uma vez que comunidade, porque nosso empreendimento, nosso projeto, é comunitário”.
Existem entre 5 milhões e 6 milhões de agricultores de cacau em todo o mundo. A maior secção é de pequeno lavrador. De negócio com a Organização Internacional do Cacau, em torno de 70% do resultado do mundo é cultivado em pequenas propriedades. A América é responsável por tapume de 20% da produção mundial, e o Equador lidera a produção na região, sendo seguido pelo Brasil.
Vegetal sensível
O cacaueiro, vegetal que dá o cacau, é sensível às mudanças climáticas, uma vez que explica Liliana Jiménez, produtora em Nilo, cidade da província Cundinamarca, na Colômbia. “O cacau tem dificuldades se há excesso de chuva ou se há excesso de sol. Toda a variação climática é um duelo e já não se pode prever com a precisão o que se podia há anos detrás. Isso é um duelo muito grande do ponto de vista da pesquisa para poder chegar a adaptações do cacau”.
Há tapume de dez anos, Jiménez e sua família decidiram mudar a vida na cidade, pelo cultivo no campo. “Buscamos um cultivo que fosse sustentável ambientalmente e, em 2010, já se falava que o cacau seria um cultivo que teria propagação na Colômbia e que teria muita demanda de mercado. Hoje estamos vendo isso. O país não consegue atender a toda a demanda por exportação”, diz.
Com o cacau, ela e a família se inseriram no campo e articularam em associação com outros produtores e com a comunidade outras produções, uma vez que as de frutas tropicais. Atualmente, Jiménez é presidente da junta diretiva da Prosoagro, associação de pequenos produtores, e tem o título de Maria do Campo, que identifica a cultura de cacau pátrio e reconhece o papel das mulheres na produção.
A produtora explica ainda que plantar cacau requer planejamento. É um cultivo que se pensa nos 50 anos para frente. Agora, segundo ela, com os preços do resultado disparados, é momento também de investir para se preparar para impactos climáticos e outras intempéries que possam vir. Sobre o chocolate se tornar tão dispendioso a ponto de ser um cláusula de luxo, Jiménez espera que isso não ocorra. “Não falemos de chocolate, falemos de cacau. O cacau é um comida e, uma vez que comida, deveria poder ser consumido em todas as mesas das pessoas do mundo”, defende.
As soluções para ampliar o consumo do cacau poderão ser misturar o resultado e investir em pesquisas, propõe Jiménez. “Temos que averiguar todas as variáveis que estão intervindo para ver as alternativas. Talvez a diversificação de produtos, usar outras matérias-primas incorporadas ao cacau para decrescer os preços, os custos do resultado final. Temos que salvar os empreendimentos”, avalia.
Mão de obra
Assim uma vez que o cacau, o moca também não tolera variações de temperatura. Elvia Monzón, de San Antonio Huista, na Guatemala, sabe muito dessas dificuldades. “As mudanças climáticas estão nos afetando, a vegetal já não floresce nesta idade. Estou buscando soluções, à medida que tenho recursos”, diz a produtora de moca que é também presidente da Associação Integral de Cafeicultores Rancho Velho (Aidec).
Ela trabalha em cooperativa e procura variar a produção. Em conjunto, está também criando galinhas para a produção de ovos. A comunidade procura também, conjuntamente, soluções para as mudanças climáticas, uma vez que plantar árvores no território. “Na nossa comunidade nos preocupamos em plantar árvores todos os anos e isso nos ajuda um pouco”.
Cultivar o moca é alguma coisa que Monzón herdou da família, o avô e pai também eram cafeicultores. “Era um resultado muito rentável naquela idade, agora menos. Mas não me desanimo, sempre sigo adiante, porque sabor muito de tomar moca em família. Tomamos moca pela manhã e até as 14h estamos tomando moca. Sabemos que é um resultado que nós mesmos plantamos e sabemos uma vez que cuidamos”, diz.
Além da questão climática, ela conta que tem dificuldade com a mão de obra. Muito porque as pessoas estão deixando o campo. “A plantação cresceu e já não posso, exclusivamente eu e minha família, trabalhar nela, temos que buscar outras pessoas da comunidade que nos apoiem. A raiz do problema está na transmigração. Quase toda semana as pessoas deixam o campo e migram para os Estados Unidos, pensando que lá terão uma vida melhor, mas lamentavelmente não é assim, lá sofrem”, diz Monzón.
Diante do êxodo rústico, ela procura tornar o campo atrativo para que os próprios filhos tenham interesse em permanecer.
O Encontro de Líderes Rurais, que se realizou ao longo da semana, foi promovido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Lavoura (IICA) e reuniu 42 lideranças rurais de quase todos os países americanos.
*A repórter viajou a invitação do Instituto Interamericano de Cooperação para a Lavoura (IICA)