Quando Jabuti Entenderá Livros Jovens Como Literatura? 11/11/2024

Quando Jabuti entenderá livros jovens como literatura? – 11/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Saíram os semifinalistas do prêmio Jabuti, espargido popularmente uma vez que “o Oscar da literatura brasileira”. Em sua 66ª edição, ele se divide em quatro eixos e 23 categorias, dentre elas as de “romance literário” e “romance de entretenimento”.

Esta última acopla, segundo o regulamento no site, “literatura ficcional em prosa longa, de quem enredo se desenvolva relacionando personagens num espaço-tempo”. “Podem ser inscritas obras de ficção científica, policial, terror, romance sentimental/de paixão, erótico, humor, suspense, façanha, fantasia, entre outros.” O júri desta categoria, do qual participei em 2022, avalia “as qualidades do enredo, privilegiando o teor, a trama.

Pois muito. Lançada em 2020, a categoria tinha uma vez que base um termo internacional, que separa a chamada ficção literária, “aquela em que a forma uma vez que o romance é escrito é o grande destaque da obra”, e ficção mercantil, ou “mass market”, “em que o destaque está na arquitetura do romance, no enredo, na história”.

A frase “entretenimento” foi escolhida em detrimento de outras uma vez que “mercantil”, entendida uma vez que pejorativa, e “de gênero”, compreendida uma vez que um termo muito novo para pegar no mercado. Todas essas informações foram retiradas de uma poste do curador da premiação, na idade do lançamento.

Longe de ser muito recebida, a teoria era inserir no prêmio literário mais importante dos livros brasileiros a possibilidade de inclusão de obras mais comerciais, que apesar de figurarem na lista dos mais vendidos com frequência, passavam longe das premiações literárias em universal, espelhando uma compreensão popular brasileira de que “se vende muito, não é bom”.

Essa teoria, aliás, não é uma questão contemporânea. Mesmo escritores hoje considerados canônicos eram negativados pela sátira quando viravam best-sellers. Jorge Querido é o primeiro que vem à cabeça, mas também tem Paulo Leminski nessa lista.

Ao longo dos anos em que a categoria existe, quatro livros já foram premiados (o quinto será espargido neste mês): “Uma Mulher no Escuro” (Companhia das Letras), de Raphael Montes; “Corpos Secos” (Alfaguara), escrito a muitas mãos por Natalia Borges Polesso, Samir Machado de Machado, Luisa Geisler e Marcelo Ferroni; “Olhos de Pixel” (Plutão Livros), de Lucas Mota; e “Dentro do Nosso Silêncio” (Bestiário), de Karine Asth.

No seleção recém-anunciada da premiação de 2024, Machado de Machado reaparece com seu “O Transgressão do Bom Nazista” (Todavia), ao lado de nomes uma vez que Adriana Vieira Lomar, ganhadora do Prêmio Kindle de Literatura com “Ébano sobre os Canaviais” (José Olympio) e Fernanda Castro, com a única obra de fantasia indicada, “Mariposa Vermelha” (Suma).

Labareda atenção que seja vasqueiro a literatura juvenil entrar no “romance de entretenimento”. Mesmo tendo uma categoria própria, vemos uma certa prioridade para o infantojuvenil e o paradidático, deixando os livros para “jovens adultos”, conhecidos popularmente uma vez que “young adult” (YA), em um limbo onde não aparecem nem em uma categoria, nem em outra.

As exceções são poucas, uma vez que no prêmio de 2022 com Glau Kemp e “O Clube dos Amigos Imaginários” (Verus) e Vitor Martins e “Se a Vivenda 8 Falasse” (Alt). Fica difícil entender quando esse gênero será considerado com o mesmo peso que os demais.

Se existia uma esperança do mercado de que as premiações passassem a olhar com mais atenção para esse grande filão editorial, que mantém na lista dos mais vendidos livros uma vez que “Enquanto Eu Não te Encontro”, de Pedro Rhuas (Seguinte), e “O Paixão Não É Óbvio”, de Elayne Baeta (Galera), ainda há problemas na compreensão dessas obras uma vez que literárias.

A própria definição de entretenimento mais atrapalha do que ajuda. Basta imaginar o cenário oposto: não seriam os romances clássicos, publicados em folhetim para o refrigério da população leitora de sua idade, a própria definição de livros para entreter?

O indumentária de o prêmio Jabuti nunca ter elegido um romance literário jovem ao longo dos 60 anos de sua existência não é um demérito da premiação em si, mas uma questão maior que espelha o próprio mercado editorial brasílico, que tem dificuldades em entender o capital: todos esses livros são, sem serem excludentes, tanto entretenimento quanto literatura.

Folha

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