Represento Artistas Que Falharam, Diz Crítico Jerry Saltz 29/01/2025

Represento artistas que falharam, diz crítico Jerry Saltz – 29/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Jerry Saltz é um dos críticos de arte mais influentes dos Estados Unidos hoje.

Secção dessa nomeada se deve às polêmicas em que ele já se envolveu, uma lista que inclui impugnar a autenticidade de uma pintura atribuída a Leonardo da Vinci e ser renegado do Facebook por publicar reproduções de obras consideradas ofensivas. Mas uma outra secção se deve à maneira irreverente e sem rodeios com que ele se comunica —um diferencial em uma dimensão em que sobram abstrações e hipérboles.

O estilo do responsável ganhador do Pulitzer permeia o seu livro “Uma vez que Ser Artista”, expansão de um texto que ele publicou na revista New York em 2018. Nele, Saltz fornece seis passos para que o leitor, tal qual diz o título, se insira no campo artístico, com dicas que vão da procura por inspiração à sobrevivência no “ninho de cobras” (palavras dele) que é o mercado de arte.

Mas o que um crítico sabe sobre ser artista? “Sim, quem diabos sou para ortografar um livro desses?”, ele concorda diante da pergunta da Folha. “Muito, eu sou todo artista que falhou. Sou todo mundo que ouviu o chamado e foi impedido pelo pânico de passar vergonha, de não ter zero a expressar. Todos esses medos que um artista sente, eu quis abordar uma vez que um ex-artista”, afirma.

Aliás, “eu fui artista, e as memórias dessa era são tão profundas, tão fortes, tão comoventes”, acrescenta. “Portanto não me ouça. Ouça o meu macróbio eu, aquele que um dia foi e de quem ainda me lembro.”

Saltz só se tornou crítico de arte aos 40 e poucos anos. Antes, tentou ser pintor e não seguiu em frente. Acabou trabalhando por uma dez uma vez que caminhoneiro. Ele conta que a princípio achou que aquela seria uma vida romântica. Com o passar dos anos, porém, passou a odiar a estrada e a sentir falta do métier nova-iorquino.

O responsável diz que aprendeu a ortografar sobre arte copiando o estilo de artigos da Artforum, uma das revistas especializadas mais respeitadas do mundo. Mesmo quando começou a ter os textos publicados, no entanto, afirma que “não sabia o que estava fazendo”. Até que um dia, procrastinado para enviar um item, apostou na própria voz. E nunca mais parou.

Essa procura por autenticidade se faz presente na maior secção dos conselhos de “Uma vez que Ser Artista”. “Saiba o que você odeia”, “assuma seus prazeres infames”, “não sinta vergonha” e “se perdida” são algumas de suas orientações aos aspirantes a artistas na publicação.

O livro é o primeiro do responsável a ser lançado no Brasil. É também provavelmente aquele cuja linguagem é a mais próxima daquela que usa nas redes sociais, provocativa e concisa —os demais são, em sua maioria, coletâneas de ensaios que publicou na prelo ao longo dos anos, mais elaborados e, em certa medida, menos acessíveis.

Em verificação, suas postagens muitas vezes consistem em poucas frases, que vão de perguntas sobre o cotidiano, uma vez que qual foi o melhor filme que seus seguidores viram no ano pretérito, a pílulas filosóficas sobre as artes plásticas.

Saltz diz que “Uma vez que Ser Artista” é, das obras que escreveu, a sua preferida. “É a mais curta. Diria que é verosímil lê-la em duas ou três sentadas”, afirma. “E é barata. Você pode guardá-la no seu estúdio e fazer o que quiser com ela. Jogar na parede, por exemplo.”

O crítico define a publicação uma vez que uma espécie de livro de orações, com meditações curtas e compreensíveis “sobre, muito, tudo”. De veste, muitos dos conselhos que ele traz parecem se empregar também a não artistas.

Saltz conta que ele mesmo se surpreendeu quando esportistas e chefs de cozinha, entre outros, o abordaram para recontar que tinham se identificado com a publicação. Questionado sobre qual julga ter sido o motivo dessa identificação, responde que talvez todo processo criativo seja misterioso. “E eu devo ter tocado pelo menos algumas dessas ideias sobre a imaginação, sobre recontar sua própria história, sobre a alteridade da arte, sobre não saber de onde ela vem, sobre se perder.”

Se no livro é seu lado de ex-artista que predomina, na entrevista Saltz dá uma modelo da língua ferina que se tornou sua marca.

“Uma vez que eu sou mais velho, ainda posso indicar o que não sabor”, diz. “Mas ninguém mais tem mais coragem de ortografar críticas negativas. Têm pânico de serem chamados de machistas, racistas, xenófobos.”

O crítico já deve ter sido chamado de todos esses adjetivos na internet. Em uma entrevista ao portal Vulture sobre “Uma vez que Ser Artista”, disse que começou a reavaliar o que publicava depois que foi chamado de “Donald Trump das redes sociais do mundo da arte”, em 2016.

Atualmente, ele limita suas publicações no Instagram, onde tem muro de 680 milénio seguidores, a imagens do próprio cotidiano e reproduções de suas postagens no X, além de obras de arte que o interessam.

O retorno de Trump à Morada Branca não deixou de ter impacto sobre Saltz. Ele afirma que, no governo Barack Obama, de 2009 a 2017, tinha a sensação de que uma certa produção artística cosmopolita, politicamente engajada, era meão para a cultura dos Estados Unidos.

Ele cita Beyoncé, cujos álbuns têm aprofundado batalhas conceituais sobre o que é ser preto no país. “Hoje entendo que sempre estivemos fora do mainstream. A reeleição de Trump só reforça isso”, aponta.

Seja uma vez que artista mal-sucedido ou crítico, o recado de Saltz acaba sendo o mesmo. “Tudo o que as pessoas disserem que você não pode fazer, elas que se danem. Use todas as ideias que tiver, trabalhe em qualquer suporte, e você fracassará uma vez que você mesmo, não tentando ser alguma coisa dissemelhante —um humanista ou um progressista bonzinho, alguém que faz arte sobre as coisas certas. Fracasse com estilo. Fracasse uma vez que você mesmo.”

Folha

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