Ruth Rocha, De 'marcelo, Marmelo, Martelo', Fecha Contrato Até 108

Ruth Rocha, de ‘Marcelo, Marmelo, Martelo’, fecha contrato até 108 anos: ‘Não aguento fazer muita coisa, mas gosto muito de escrever’ – 15/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A escritora Ruth Rocha tem 93 anos, mas diz que aparenta só 92. A folguedo vem de uma conversa que teve com uma gaiato há quase cinco décadas.

“Era um menininho. Ele me perguntou: ‘Quantos anos você tem?’ Eu falei: ‘Tenho 47’ e ele: ‘Mas você não parece! Você parece ter uns… 46!”

Rememorada aos risos por Ruth, essa é uma das muitas histórias que coleciona de sua curso, em que se tornou ícone da literatura infantil.

Ela tem mais de 200 livros publicados, 40 milhões de exemplares vendidos, com poderoso presença nas salas de lição, e obra traduzida para 25 idiomas, além de oito prêmios Jabutis.

Autora de clássicos uma vez que “Marcelo, Marmelo, Martelo”, “O Reizinho Mandão” e “A Primavera da Lagarta”, a escritora conversou com a BBC News Brasil na sala de sua mansão, na cidade de São Paulo.

Vestida com um conjunto de cor clara, maquiada, com o cabelo grisalho muito muito penteado e óculos pretos modernos, Ruth driblou com humor e lucidez a dificuldade de audição e o cansaço físico e mental inerente à idade.

“Escrevo o que eu penso, o que eu sinto, mas eu não ensino muito, não. Eu narrativa as coisas que eu acho interessantes. Livro tem que ser interessante, jocoso”, afirma Ruth.

Ela começou a conversa sentada em uma cadeira de balanço, tomou moca quente de um só gole e, no final, se levantou para tirar fotos em frente a uma estante enxurrada de livros, prêmios e imagens da família.

Depois, sentou-se em uma mesa para mostrar um caderno pleno de frases de autores dos quais gosta e leu um poema de Lorenzo Stechetti, pseudônimo do italiano Olindo Guerrini.

Apesar de ter minguado o ritmo, Ruth segue na ativa, com a ajuda da família.

Continua escrevendo livros, reeditando obras e firmando parcerias com artistas renomados, além de ter renovado o contrato de exclusividade com a editora Salamandra, do grupo espanhol Santillana, por mais 15 anos.

Um dos lançamentos previstos ainda para nascente ano é “Encontro de Histórias” (ed. Panini), um livro em quadrinhos da Turma da Mônica junto com a Turma do Marcelo, personagem que o próprio Maurício de Sousa quis riscar.

A parceria inédita, que era um libido vetusto do quadrinista, foi anunciada na Bienal do Livro de São Paulo em setembro.

Já a parceria com outro cartunista célebre, Caco Galhardo, renderá o título “A Lebre e a Tartaruga”, que fará segmento dos “Recontos Bonitinhos” (ed. Global), coleção com versões de contos clássicos em rimas e versos.

Para o ano que vem, a família de Ruth prepara o relançamento de dez livros já existentes da escritora, remodelados em formato premium e com ilustrações inéditas.

“Um dos trabalhos que eu faço é buscar ilustradores novos, com mais variedade também, para incluir na obra dela”, afirma Mariana Rocha, sua filha.

É Mariana quem comanda um esforço pela internacionalização da obra da mãe, que já recebeu um dos maiores reconhecimentos mundiais da literatura infantil, ao ser incluída na Lista de Honra do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel do gênero.

Neste ano, “Marcelo, Marmelo, Martelo”, o maior best-seller de Ruth, foi publicado nos Estados Unidos —com o nome “Marcelo Martello Marshmallow”— e em Portugal.

Para o portfólio internacional, Mariana Rocha fez uma seleção de dez livros que considerou mais universais.

Ela vê os países da América Latina e os Estados Unidos uma vez que principalmente promissores, mas também pensa em mercados mais longínquos.

No dia da entrevista, no início de novembro, por exemplo, a agente que representa Ruth estava na feira de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos.

‘Envelhecer é muito macio’

Hoje, um problema de visão dificulta a capacidade de leitura de Ruth, mas a literatura continua sendo sua companheira graças à mana Rilda e ao neto Pedro, que leem para ela —Rilda, todos os dias, durante uma hora, por telefone; Pedro, pessoalmente, duas vezes por semana.

“Não fico sem livros na vida”, diz a escritora.

Com Rilda, já foram mais de 70 obras lidas. Com Pedro, 13, sendo que cinco são do mesmo responsável, Ítalo Calvino.

O neto costuma postar vídeos no TikTok falando das obras que lê com a avó e recebe enxurradas de comentários de fãs de Ruth.

“Ele lê muito muito, é muito significativo. Agora, estamos lendo contos do [Ernest] Hemingway. “Século Anos de Solidão” [de Gabriel García Márquez] eu já tinha lido e ele releu para mim, adorei”, diz Ruth.

Para Ruth, “envelhecer é muito macio”.

“Não tenho a mesma alegria de fazer coisas, estou mais fraca, não saio muito. Mas sou feliz. Tenho uma família ótima, tenho saúde, me sinto muito.”

Para Ruth, crianças continuam gostando de livros, mesmo com o apelo de celulares e outras telas. Sua sugestão para incentivar o paixão pela literatura é debutar despertando o sabor pela língua.

“É importante conversar com as crianças desde que elas são pequenininhas, trovar, falar verso, trocar ideias”, diz.

Era mal ela fazia com Mariana, filha única de Ruth com o empresário e ilustrador Eduardo Rocha, com quem a escritora foi casada até ele morrer, em 2012.

“Minha filha queria saber coisas diferentes. Ela dizia: ‘Eu quero a história dessa coisa de vidro cá. A história daquele vaso, de um cinzeiro, das estrelas’. Eu não sabia, mas ficava inventando.”

Outra recomendação de Ruth é que os pais cultivem o próprio hábito de leitura.

“Leitura também é exemplo. As crianças gostam de recrear de adulto. Elas brincam de médico, de pirata, de aviador. Se ela vê os adultos lendo livros, vai querer imitá-los.”

Obra atravessada pela ditadura e pela covid-19

Em dezembro de 2023, Ruth lançou “O Grande Livro dos Macacos”, com curiosidades sobre esses animais e sobre a Teoria da Evolução de Charles Darwin.

Foi, diz a filha Mariana, uma forma de se contrapor ao negacionismo da ciência que angustiava a escritora durante a pandemia de covid-19 —ela dedicou o livro aos cientistas.

Duas das páginas trazem desenhos de Miguel, neto de Ruth, que é designer. “Ele não faz esse tipo de figura, fez porque eu pedi”, diz a avó, orgulhosa.

A indignação com questões políticas e sociais foi ponto de partida para as histórias de Ruth em outros momentos de sua curso.

Livros uma vez que “O Reizinho Mandão”, por exemplo, criticavam o autoritarismo em plena ditadura militar, mas não chamavam a atenção dos órgãos de repreensão.

“Ninguém levava muito a sério literatura infantil, achavam que era bobagem”, diz Ruth.

Ela lembra de quando, ainda na ditadura, recebeu um prêmio diretamente das mãos de um ministro da Instrução por outra obra que tocava em assuntos uma vez que poder e democracia: “O Rei que Não Sabia de Zero”.

Se os livros sobre governantes autoritários enganaram os censores, não passaram derrotado pelas crianças.

Ruth conta que em uma ocasião, em seguida narrar a história de “O Reizinho Mandão”, um pequeno leitor disse a ela: “Mas esse é o presidente da República!”.

Ela tentou dissimular. “Eu falei: ‘Não, imagina, é um irmão mandão, um pai mandão’. Aí ele perguntou: ‘Você não tem temor da polícia?’ Respondi que sim, tinha muito temor.”

Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Ruth começou a ortografar histórias infantis a pedido de uma amiga, Sonia Robatto, diretora da Recreio —revista da editora Abril que a própria Ruth dirigiu posteriormente.

A sugestão de Sonia foi bastante veemente.

“Ela queria que eu fizesse uma história. Eu falava: eu narrativa histórias para a Mariana, mas eu não sei narrar outras histórias. Ela ficava: conta, conta, conta, conta. Até que um dia, ela me trancou na mansão dela. E eu sentei e escrevi”, lembra Ruth.

Essa primeira história que Ruth publicou, até hoje muito conhecida dos leitores, é sua versão do clássico “Romeu e Julieta” com duas borboletas uma vez que personagens: uma azul e uma amarela, que não podiam recrear juntas por terem cores diferentes.

Era, segundo ela, uma forma de abordar o preconceito sem perder a fantasia e a ludicidade de uma boa história infantil, particularidade que acompanhou a escrita da autora ao longo de sua curso.

“Os livros dela agradam demais aos professores, são adotados em volume pelas escolas e às vezes as pessoas querem colocar uma vez que educativo”, diz Mariana.

“É um trabalho que inspira conhecimento e transformação, mas ela sempre fala: minha obra não é didática.”

Ruth afirma que sua intenção é despertar nas crianças o mesmo prazer pela literatura que ela tem desde sua puerícia, quando ouvia histórias contadas por seus pais e avós e pegava livros emprestados toda semana em uma livraria.

“A vida inteira eu tinha muitas ideias. Eu estava escrevendo uma história e já saía com três ideias para ortografar, ficava com aquilo na cabeça”, conta.

De suas 218 obras, ela diz que não tem uma favorita, mas admite que algumas são especiais, citando “Marcelo, Marmelo, Martelo”, “Quando eu Comecei a Crescer” e “Um Cantinho Só pra Mim”.

Esses dois últimos têm um poderoso texto autobiográfico, segundo Mariana.

“Minha mãe é muito faladeira e sociável, mas ela curte muito também permanecer sozinha, ter momentos de quietude, no mundo dela, pensando na vida”, aponta a filha de Ruth.

“Acho que isso também propiciou a geração, a mergulho no mundo da Imaginação.”

Mariana conta que recebe muitas manifestações de carinho de leitores de diferentes gerações.

“Minha mãe fez segmento da puerícia e do incremento de muita gente. Pessoas falam que a literatura dela transformou suas vidas, porque mostrou uma amplitude de possibilidades para o ser humano se desenvolver”, diz Mariana.

“Tem gente que chora e eu pranto junto. É muito bonito.”

Apesar das mudanças trazidas pela vetustez, Ruth continua escrevendo – à mão, em pranchetas.

Ela acabou de terminar uma obra que chamou de “Histórias Pequeninas de Gente Pequenina” e está trabalhando em um texto com uma novidade versão do narrativa de Cinderela.

“Não aguento fazer muita coisa, mas eu sabor muito [de escrever]. É a minha vida.”

Levante texto foi originalmente publicado cá.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *