O relatório final da Polícia Federalista (PF) sobre a falsificação do certificado de vacinação contra covid-19 do ex-presidente Jair Bolsonaro descreve uma vez que um esquema montado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro César Cid proporcionou certidões fraudadas a ao menos nove pessoas.
A PF tomou as conclusões depois colher depoimentos e apurar uma série de provas, incluindo mensagens em aplicativos de celular, registros de login em sistemas da Saúde e dados de geolocalização dos investigados, entre outras.
O sigilo sobre o relatório final da PF foi levantado nesta terça-feira (19) por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federa (STF), relator do interrogatório no qual as investigações foram conduzidas.
Segundo a PF, o esquema começou em novembro de 2021, quando Cid pediu ao sargento do Tropa Luis Marcos dos Reis, seu colega na Ajudância de Ordens da Presidência, que o auxiliasse a conseguir um cartão de vacinação forjado para sua esposa Gabriela Santiago Cid.
Reis acionou logo seu sobrinho, o médico Farley Vinicius de Alcântara, que obteve um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, preenchido com duas doses da vacina contra a covid-19, em nome de Gabriela.
Os dados da vacina (data, lote, trabalhador, aplicador) foram retirados de um cartão de vacinação de uma enfermeira que teria sido vacinada na cidade de Cabeceiras (GO), segundo mensagens extraídas do serviço de nuvem em que Cid armazenou suas mensagens de WhatsApp.
Esse primeiro cartão de vacinação forjado foi produzido com anotações manuscritas, e assinado por Alcântara, médico sobrinho de Reis. Por meio de dados de geolocalização, a PF mostrou que o celular pessoal de Gabriela Cid encontrava-se em uso em Brasília, no dia em que ela supostamente tomou a vacina em Cabeceiras.
Segundo os dados do cartão falso, Gabriela teria tomado uma ração de vacina no dia 17 de agosto de 2021, do lote FF2591, e outra no dia 9 de novembro de 2021, do lote TG3529.
Inquirido, o médico reconheceu uma vez que autêntica sua assinatura e selo no documento, mas disse não saber se as doses foram de traje aplicadas. Para a PF, ele sabia da falsificação ao ter copiado as informações de um outro cartão de vacinação. Na estação dos fatos, ele trabalhava uma vez que plantonista no hospital de Cabeceiras. Gabriela, por sua vez, admitiu aos investigadores que não tomou a vacina contra covid-19.
Em congraçamento de delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid admitiu o envolvimento no esquema e ajudou na investigação.
Certificados falsos
De posse do cartão de vacinação impuro, Cid contou ter procurado o segundo-sargento do Tropa Eduardo Crespo Alves, em 23 de novembro de 2021, para que ele auxiliasse a inserir os dados do documento no sistema ConecteSUS, de modo a ser provável exprimir o certificado de vacinação para covid-19.
A manobra, todavia, não deu notório, pois a tentativa de inserir os dados no sistema foi feita do Rio de Janeiro, enquanto os lotes das vacinas que constavam no cartão foram distribuídos para Goiás. As investigações apontam que Crespo não sabia da falsidade do documento. O procedimento depois teria sido tentado por outro militar, chamado Paulo Sérgio da Costa Ferreira, também sem sucesso.
A tentativa de inserção dos dados falsos no ConecteSUS teria sido feita por meio da prefeitura de São Gonçalo (RJ), com o cadastro de uma pessoa chamada Sonia, mas esta teria “rateado” ao saber da ilegalidade da manobra, mostram as investigações.
A inserção dos dados falsos no ConecteSUS somente teria oferecido notório depois o ex-major do Tropa Ailton Gonçalves Moraes Barros ser acionado e conseguir realizar o procedimento no município de Duque de Caxias, com novos dados de vacina, provenientes de novo cartão falso de vacinação. Para a polícia, o registro das vacinas foi feito pelo secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos Brecha.
Em seu testemunho, Brecha disse desconhecer Ailton Barros e negou a inserção dos dados falsos no ConecteSUS, mas a PF conseguiu identificar que o login no sistema responsável por registrar as informações foi feito em seu computador, por meio de um modem instalado em sua residência, na cidade fluminense de Niterói.
Uma vez que o esquema deu notório para Gabriela Cid, foram inseridas posteriormente também registros de vacinação falsos para as três filhas de Mauro Cid e ainda para Jair Bolsonaro e sua filha, Laura.
Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, auxiliares do ex-presidente, também se beneficiaram, segundo as investigações. O último a ter seus dados falsos incluídos no ConecteSUS foi o deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ). Todas as inserções teriam sido feitas por Brecha, aponta a PF.
Em sua colaboração premiada, Mauro Cid confirmou todo o esquema e ainda afirmou “que imprimiu os certificados e entregou em mãos ao logo presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, diz o relatório da PF. O ex-presidente teria tomado a primeira ração de vacina da trabalhador Pfizer em 13 de agosto de 2022, do lote PCA0084, e a segunda em 14 de outubro de 2022, lote FP7082, ambas no Meio Municipal de Saúde de Duque de Caxias.
O objetivo de todas as inserções fraudadas de dados de vacinação no ConecteSUS foi exprimir certificados de vacinação contra covid-19 para entrar no Estados Unidos em viagens de lazer.
Bolsonaro, Cid e mais 15 pessoas foram indiciadas pela PF por diversos crimes relativos à falsificação de certificados de vacinação. O relatório foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, que deve agora ordenar que o Ministério Público Federalista apresente seu parecer sobre o interrogatório policial.
Defesas
Em seu perfil na rede social X, velho Twitter, o legisperito de Bolsonaro Fabio Wajngarten criticou a divulgação do indiciamento. “Vazamentos continuam aos montes, ou melhor aos litros. É lamentoso quando a mando usa a prelo para exprimir ato formal que logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial”, escreveu.
Em posts posteriores, Wajngarten disse que a resguardo não teve entrada ao relatório e chamou o indiciamento do ex-presidente de “paradoxal”. O padroeiro escreveu que “enquanto [Bolsonaro] exercia o missão de Presidente, ele estava completamente dispensado de apresentar qualquer tipo de certificado nas suas viagens. Trata-se de perseguição política e tentativa de esvaziar o enorme capital politico que só vem crescendo”.
Bolsonaro sempre negou que tenha tomado a vacina para covid-19. “Não existe adulteração da minha secção, não existe. Eu não tomei a vacina, ponto final”, disse Bolsonaro a jornalistas em maio de 2023, ao comentar as investigações.
O deputado federalista Gutemberg Reis disse que não irá se manifestar até que sua resguardo tenha entrada integral ao processo.
Em nota, a resguardo de Camila Paulino Alves Soares, enfermeira indiciada por inserção de informação falsa no sistema da Saúde, disse que ela colaborou com a investigação e “aguardava uma provável novidade enunciação, ainda em sede de interrogatório, para provar sua inocência”.
O legisperito Jairo Magalhães acrescentou que sua cliente “confia na Justiça e em sua inocência” e afirma que não foi ela que inseriu dados no sistema. “Caso Camila seja denunciada, demonstraremos sua inocência na ação penal, com provas documentais e testemunhais.”
A Dependência Brasil entrou em contato com a resguardo de João Carlos Brecha, e aguarda retorno, muito uma vez que tenta contato com as defesas dos demais citados.
Material ampliada às 15h04