'segurant', Achado Após Séculos, é Literatura Imperdível 24/08/2024

‘Segurant’, achado após séculos, é literatura imperdível – 24/08/2024 – Ilustrada

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Não é todo dia que se encontra —e se publica— um texto medieval perdido há séculos. Em 2010, o italiano Emanuele Arioli encontrou o texto de “Segurant, o Cavaleiro do Dragão” em um manuscrito galicismo do século 13.

Porquê a narrativa estava incompleta, ele partiu em uma romaria digna de um herói medieval pelos arquivos da Europa buscando pelo resto. Encontrou fragmentos da história em outros 28 manuscritos, assim porquê versões alternativas e continuações posteriores dos séculos 14 e 15, e as reconstituiu em uma narrativa harmónico.

Em 2019, publicou na França uma edição sátira do texto, em dois volumes em galicismo macróbio. E, ano pretérito, saíram também uma versão em um único volume, traduzida para o galicismo moderno; um livro infantojuvenil, narrado pelo próprio Arioli com a história da procura pelo manuscrito; e uma graphic novel que adapta livremente a história, preenchendo suas muitas lacunas com originalidade.

Os três últimos estão sendo lançados agora no Brasil pela editora Autêntica em seus diferentes selos: o romance, pela Vestígio; o infantojuvenil, pela Yellowfante, e a graphic novel, pela Nemo.

Foi o próprio Arioli quem traduziu o texto para o português. Enamorado pelo Brasil, ele morou no Rio de Janeiro durante a pandemia e foi professor visitante da UFRJ em 2022.

O responsável explica que não é fácil encontrar tradutores do galicismo macróbio e, portanto, quaisquer traduções internacionais seriam feitas a partir de sua versão em galicismo moderno, ou seja, seriam traduções da tradução. Porquê forma de evitar esse sonido, ele traduziu diretamente do galicismo macróbio para o italiano, espanhol, inglês e português.

Para obter o sabor e o ritmo do português medieval, usou porquê base “A Demanda do Santo Graal”, texto português do século 15. Para juntar brasilidade aos diálogos, usou vários cordéis de temas medievais.

O universo artúrico é a versão medieval do universo expandido da Marvel. Uma versão sem recta autoral e que se manteve relevante por séculos. Qualquer responsável europeu da era podia gerar um novo cavaleiro da Távola Redonda ou inventar novas versões ou aventuras dos antigos cavaleiros. O cavaleiro Segurant é mencionado de passagem em várias obras artúricas, mas só desta narrativa ele é o protagonista.

Arioli especula que Segurant é provavelmente inspirado no herói nórdico Sigurd ou Siegfried, também famoso por ser matador de dragões. Usando termos de hoje, poderíamos considerar “Segurant, o Cavaleiro do Dragão” porquê um “crossover” entre os universos expandidos nórdico e artúrico.

Mas Segurant não é um cavaleiro medieval idealizado porquê Roland ou Amadís. Ele não tem uma namorada perfeita para galantear, porquê Lancelot. Dinadan, um dos companheiros de aventuras de Segurant, zomba dele de forma tão desrespeitosa que teria sido morto por outro cavaleiro mais sério.

Segurant é enorme e tem um gosto descomunal, grotesco —porquê os gigantes Gargantua e Pantagruel da obra homônima de Rabelais, já do século 16. Outro de seus companheiros, Palamedes, enlouquece e sai em fúria pela floresta —porquê depois enlouqueceria o protagonista de “Orlando Furioso”, de Ariosto.

Talvez mais importante, seu grande nêmesis, o dragão, é uma ilusão criada pela Fada Morgana para distraí-lo —porquê os moinhos contra os quais investe Dom Quixote, no século 17.

Ou seja, Segurant, apesar de transitar no mundo dos cavaleiros medievais idealizados, já antecipa várias das futuras correntes literárias que desembocariam no romance contemporâneo. Oriente texto —até ontem incógnito e de leitura imperdível— é um degrau importante, quase um gavinha perdido, na calabouço que leva dos livros de cavalaria medievais aos filmes da Marvel.

Hoje em dia, quando os novelões realistas do século 19 parecem cada vez mais caretas e formulaicos, os textos da Idade Média compartilham do frescor da melhor literatura contemporânea.

“Segurant, o Cavaleiro do Dragão”, com sua estrutura fragmentária, falsos começos e versões alternativas, pode ser uma perfeita introdução a uma literatura que, apesar de antiga, parece mais próxima de Bolaño e Borges do que de Balzac e Brontë.

Folha

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