Truman Capote, 100, Usou Gênio Perverso Para Mudar Cultura

Truman Capote, 100, usou gênio perverso para mudar cultura – 29/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na contracapa do primeiro livro de Truman Capote, a imagem dizia tudo: ele aparecia deitado num divã, olhando languidamente para o testemunha, e lembrava alguma figura mitológica, um elfo, talvez um ator de cinema.

A retrato ajudou a vender o livro, “Outras Vozes, OutroRooms”, e seu responsável, que tinha 24 anos quando foi publicado em 1948, posou de forma que o definiria porquê repórter e notoriedade. A obra, um gótico sulista com visível atrevimento erótico, ainda não era sua obra-prima, mas o repórter de olhar um tanto perverso, um tanto erotizado, já se apresentava ao mundo.

O próximo dia 30 marca os século anos do promanação do repórter em New Orleans, no estado americano da Louisiana. Batizado porquê Truman Streckfus Persons, seus pais se divorciaram cedo, e ele foi mandado para uma cidadezinha do Alabama, chamada Monroeville, que ainda hoje não tem muito mais que 5.000 habitantes.

Sua puerícia foi vivida de lar em lar entre vários parentes sulistas, e em Monroeville conheceu Harper Lee, a autora de “O Sol É para Todos”, uma amiga da vida inteira que o ajudaria nas pesquisas de “A Sangue Indiferente”, essa sim a obra-prima composta porquê um romance de não-ficção.

O sobrenome Capote apareceu quando a mãe se casou pela segunda vez com um negociante de origem espanhola e negócios em Cuba, José García Capote, que adotou o garoto.

O Truman Capote na contracapa do primeiro livro não deixava ver a baixa estatura, a voz de timbre esganiçado, cômico, e os trejeitos afeminados. Mas o garoto era mesmo um gênio, e a perversidade cresceria com ele e contaminaria todos os aspectos importantes da sua biografia.

Aos cinco anos, Truman já sabia ler e grafar por conta própria, ainda que vivendo com parentes iletrados. Dizem que escrevia num conjunto de notas o que, aos 11 anos, já seria o material de um livro.

Ao se mudar com o padrasto para Novidade York, estudou em boas escolas e trabalhava porquê contínuo da revista New Yorker, quando, aos 17 anos, decidiu não fazer uma universidade, mas formar-se na vida.

Autoestima nunca foi um problema para ele. O primeiro história que conseguiu publicar numa revista, “Miriam”, uma história de dupla personalidade pintada com tintas esparsas de terror, foi um sucesso.

Os livros futuros seriam impulsionados por esse momento inicial, e em 1966 seu “A Sangue Indiferente”, a história de uma família assassinada no interno do Kansas escrita com os instrumentos do jornalismo e da literatura, seria o seu orgasmo literário.

Foram seis anos de pesquisas, entrevistas, descobertas e tormentos para chegar ao resultado final. A história de porquê ele foi escrito daria um outro romance.

Capote chegou a Holcomb, cidadezinha em cujas redondezas aconteceram os crimes, só um mês depois da pequena nota que lera no jornal The New York Times sobre o caso. Foi visto porquê um estranho. Apaixonou-se por um dos assassinos, Perry Smith, teve que ver a sua realização e, porquê precisava pôr o ponto final no livro com ela, se exasperou pela lentidão com que tudo ocorria.

Mas no término de todos os dilemas, surge o livro escrito com a nitidez, a lucidez e a viveza que fariam dele um dos autores mais aclamados do século 20.

Foi um dos primeiros capazes de recontar o real com os instrumentos da fantasia, naquilo que seria chamado de jornalismo literário —termo que, no caso de “A Sangue Indiferente”, não parece dar conta da explosão de força assombrosa que o livro detonou na cultura americana e na literatura universal.

Antes disso, “Bonequinha de Luxo”, lançado em 1958 e levado ao cinema com Audrey Hepburn em 1961, já trazia os elementos mundanos que contaminariam a sua vida e o seu trabalho.

Capote era chegado na subida roda, e Freud ficaria entediado se tivesse que explicar o óbvio: o menino caipira imaginativo e desamparado do buraco sulista encontrara sua turma em Novidade York, e das suas amigas, pinçaria as partes que comporiam a protagonita Holly Golightly, acompanhante sonhadora de ricaços da cidade.

Mas Capote possuía um talento verdadeiro. Era um repórter que dava duro, totalmente voltado para o trabalho, possuidor de estilo inigualável. Não era unicamente ferino, mas incisivo, muitas vezes terno e quebrável, outras vezes demolidor e implacável.

Basta ler o comovente “A Christmas Memory”, o história de Natal em que ele lembra sua puerícia mais remota, no fundo do Alabama, na companhia de uma prima distante das quais rosto lembra o presidente Abraham Lincoln e tem as excentricidades de um personagem de Mark Twain. É uma história feliz de amizade e paixão que virou um clássico natalino lido nas escolas até hoje, sempre repetido em inúmeras antologias.

Em material de malvadeza e língua venenosa, zero supera o incompleto “Súplicas Atendidas”, que ele prometeu logo depois de “A Sangue Indiferente” e nunca entregou, com exceção de alguns trechos publicados na revista Esquire.

Ali estavam retratadas, de maneira ruidosa e malcriada, a vida íntima das amigas da subida roda que ele chamava de “Cisnes” —a mais recente temporada da série antológica “Feud”, da FX, recontou essa secção de sua biografia.

Um dos trechos, “La Côte Basque 1965”, fofocava sobre Ann Woodward, viúva de um magnata que assassinara alegando que o confundira com um ladrão. A leitura do texto antes da publicação levou a mulher ao suicídio, e essa foi unicamente uma das desgraças que se abateriam sobre o responsável nas décadas seguintes.

Réprobo ao esquecimento, Capote nunca mais escreveu zero que prestasse. Nunca foi o Proust de “Em Procura do Tempo Perdido”, porquê prometera ser. Afundou-se no álcool e nas drogas e morreu cedo, aos 59 anos, em agosto de 1984.

Mas dentro desse subserviente de ricaças havia um repórter único, capaz de montar frases belas e definitivas com originalidade fulgurante. Havia o varão francamente gay num tempo em que isso não era sequer tolerado.

A amiga Harper Lee o retratara, em “O Sol É para Todos”, porquê o menino Dill Harris, sensível, inteligente, curioso, empático com os solitários e excluídos —supra de tudo, um ser voltado para a imaginação. Os dois prismas precisam ser contemplados no centenário desse gênio perverso que foi Truman Capote.

Folha

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