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Naomi Klein é uma jornalista e escritora canadense. Naomi Wolf é uma jornalista e escritora americana. Naomi Klein é autora de “A Teoria do Choque”. Naomi Wolf é autora de “O Mito da Venustidade”.
Até a pandemia, as duas Naomis eram conhecidas por tutelar ideias de esquerda. Mas as coisas começaram a mudar quando Wolf passou para o lado do negacionismo e mergulhou no mundo das teorias conspiratórias.
Klein, confundida com a outra Naomi, passou a ser fim de cobranças direcionadas para a sua homônima e testemunhou de perto a mutação de Wolf, que passou a se associar com figuras ligadas a Donald Trump.
A crise de Klein não foi identitária, mas política, e da confusão nasceu seu livro “Doppelgänger”. O título em germânico que se refere a sósias é frequentemente empregado na ficção porquê um fenômeno paranormal. Para Klein, ser confundida com Wolf foi porquê entrar em um mundo mútuo.
O título do livro não compreende unicamente sua experiência pessoal, mas a estratégia do trumpismo, que chegou ao poder nos Estados Unidos nesta semana. No livro, Klein expõe a polarização porquê um espelho em que cada lado vive de um lado do vidro –separados, mas refletindo um ao outro.
“Não é unicamente um sujeito que pode ter um duplo sinistro; nações e culturas também os têm”, escreve a autora, que deu uma entrevista ao editor Walter Porto.
Acabou de Chegar
“O Bebedor de Vinho de Palma e Seu Finado Fazedor de Vinho na Cidade dos Mortos” (trad. Fernanda Silva e Sousa, Carambaia, R$ 89,90, 144 págs., R$ 61,90, ebook) abriu caminhos para a literatura africana porquê o primeiro romance do continente publicado no exterior. Para a sátira Tássia Promanação, o livro do nigeriano Amos Tutuola materializa as tradições iorubá e tem “porquê ponto de partida uma noção de verdade em que tudo se transforma e tem vida”.
“O Mundo: Uma História Através das Famílias” (trad. Denise Bottmann, Claudio Marcondes e Paulo Geiger, Companhia das Letras, R$ 299,90, 1.384 págs., R$ 59,90, ebook), do historiador britânico Simon Sebag Montefiore, apresenta toda a trajetória da nossa espécie, do Paleolítico à Era Trump, com foco na interseção nas relações familiares e de poder. Para o crítico Reinaldo José Lopes, “O Mundo” é monumental, por sua qualidade e também por seu tamanho.
“Siríaco e Mister Charles” (Gryphus, R$ 79,90, 276 págs.), do cabo-verdiano Joaquim Redondel, venceu o Oceanos, maior troféu da literatura em português, contando a amizade fictícia de Darwin (o mister Charles do título) com um ex-escravizado que tem vitiligo. O livro se passa em Cabo Virente, país pelo qual Darwin andou mas que nunca é citado quando se fala no biólogo. “Quando você lê estudos sobre a viagem de Darwin, (…) Cabo Virente não faz secção dessas páginas. E é um contra-senso”, afirma Redondel em entrevista a Walter Porto.
E mais
Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes ordenou o recolhimento de “Quotidiano da Masmorra”, livro do redactor Ricardo Lísias assinado com o pseudônimo Eduardo Cunha. O falso quotidiano especula sobre o período de Cunha na calabouço em seguida ser encarcerado pela Operação Lava Jato e tem o ex-deputado porquê um narrador em primeira pessoa. Uma vez que conta o repórter Maurício Meireles, o livro foi retraído por induzir leitores a erro, segundo a decisão.
“A Sedução do Simples”, livro do psiquiatra Fredric Wertham, pode lucrar uma edição brasileira 70 anos em seguida a sua publicação a partir de uma campanha de financiamento. O livro, porquê conta a reportagem de Lucas Monteiro, criou um código de moral para quadrinhos nos Estados Unidos com um argumento que mira a classificação indicativa, mas esbarra na exprobação segundo alguns especialistas.
“Espaço para Sonhar”, livro de memórias do cineasta David Lynch, morto na última quinta, voltará ao catálogo da Record em fevereiro. O Pintura das Letras lembra que o livro de murado de 600 páginas saiu pela primeira vez no Brasil em 2019, pelo selo BestSeller.
Além dos Livros
A editora Boitempo, que virou referência em intelectuais marxistas, completa 30 anos em 2025 cimentada porquê referência no pensamento crítico brasílio, porquê afirma a fundadora Ivana Jinkings. O Pintura das Letras conta que, ao longo do ano, a editora planeja a publicação de autores porquê Lélia González e W.E.B. Du Bois.
Em livro recém-lançado pela Boitempo, o professor Fabio Mascaro Querido propõe que a disputa entre PSDB e PT remonta a uma raiz compartilhada e a um debate acadêmico em São Paulo. Segundo Marcelo Ridenti, o responsável faz um mapeamento inédito que “ajuda a recolher e grudar os cacos da tradição intelectual de que é um dos herdeiros”.
A portuguesa Adília Lopes, que morreu aos 64 anos no final do ano pretérito, foi uma “poeta pop”. Para a sátira Ana Luiza Rigueto, os textos cheios de ironia, jogos fonéticos e erotismo típicos de Lopes lhe garantiram o título de uma das mais inventivas autoras da língua portuguesa.