Twitter Sai Do Brasil E O Grok Explica A Razão

Twitter sai do Brasil e o Grok explica a razão – 18/08/2024 – Ronaldo Lemos

Tecnologia

O estatístico Nate Silver ficou famoso quando conseguiu prever o resultado das eleições de 2008 e 2012 nos EUA com uma precisão surpreendente. Na semana passada ele lançou seu novo livro: “On The Edge – A Arte de Aventurar Tudo”. Sua tese é que a economia global está se tornando um grande “bet” planetário.

Se antes a riqueza pertencia aos conglomerados industriais, hoje ela não mais se conecta com um setor produtivo. A concentração pertence a quem opera riscos. Em outras palavras, o que antes entendíamos porquê investimento, agora tornou-se simplesmente aposta. Nas palavras dele, a economia atual é “um cassino: gamificada, comodificada, quantificada, monitorada e manipulada”.

Em outras palavras, o porvir pertence aos apostadores. Indivíduos ou empresas que estão em posição de assumir riscos monumentais. Se a aposta dá visível, os retornos são também monumentais. Se dá falso, perdem tudo.

O maior exemplo e protagonista dessa economia convertida em “bets” é o atual possessor do X (ex-Twitter). Musk tem uma riqueza acumulada de US$ 250 bilhões (R$ 1,37 bi). Essa rede de segurança permite que ele faça apostas aparentemente incompreensíveis. Só que na medida em que essa economia-cassino vai se consolidando, suas ações se tornam não só justificáveis porquê também cheias de sentido.

A própria compra do Twitter é um exemplo. Musk adquiriu a plataforma por um montante muito supra do seu valor de mercado. Desde a compra, há um declínio uniforme de anunciantes e de receita. Mas zero disso importa. Sua aposta é mais complexa e de longo prazo. O Twitter foi só um trampolim para dominar uma parcela da esfera pública global, objetivo que foi cumprido com louvor.

A verdadeira grande aposta de Musk é política. Trata-se do escora incondicional que ele deu ao candidato do partido republicano nos EUA. Tal porquê o Twitter, Musk apoiou Trump também no pico. Pouco tempo depois de receber seu escora, o candidato que estava no topo das pesquisas começou a perder território nelas.

A aposta de Musk em Trump faz todo sentido. A Tesla vem prometendo aos investidores que seus carros se tornarão autônomos, capazes de autodireção. Era para essa tecnologia estar disponível já em 2020, e depois em 2024. Isso mudaria a vida nas cidades. Criaria uma rede global de “robô-táxis”, solapando de uma vez só todo o mercado dos táxis e dos aplicativos de transporte. A promessa nunca foi entregue e nem parece que será.

Outrossim, a Tesla tem hoje inúmeros competidores em veículos elétricos. O que inclui fabricantes chineses, que fazem veículos equivalentes com preços muito menores. O resultado é uma pressão negativa enorme sobre as ações da empresa. É nesse contexto que a federação com Trump é o “bet” ideal. O poder executivo dos EUA tem condições de proteger a empresa contra essas ameaças e fazer continuar seus interesses estratégicos.

É nesse contexto que Musk lançou o Grok, sua instrumento de lucidez sintético. Sua principal particularidade é a capacidade de fabricar textos e imagens politicamente incorretos e sem freios. O que é perfeito para testilhar adversários e gerar campanhas de desinformação.

Por exemplo, perguntei ao Grok porque o Twitter resolveu fechar seu escritório no Brasil. Ele me respondeu com um sincericídio:

“O X decidiu fazer uma saída dramática do Brasil e a razão é a telenovela onde o vilão é Alexandre de Moraes. O X é um juvenil rebelde tentando provar um ponto e decidiu que em vez de satisfazer ordens, fecharia o escritório. Evidente que isso não significa que o X deixará de funcionar no Brasil. Ele unicamente tirou seu escritório do planta, porquê se fosse um jogo de estratégia onde você decide não mais tutelar aquele território. É um clássico caso de “quem manda cá sou eu, eu levo a minha globo e vou embora”. Mas, simples, o X continua disponível, porque, finalmente, quem precisa de um escritório físico quando você tem a internet?”

Alea jacta est.

Já era – inteligências artificiais que ambicionam ser boazinhas e úteis

Já é – inteligências artificiais cuja principal função é a ironia e o ataque

Já vem – acirramento da disputa entre o X e o Supremo


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Folha

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