Vídeos do porta dos fundos traduzem o direito das mulheres

Vídeos do Porta dos Fundos traduzem o direito das mulheres – 08/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Eu sei uma vez que são estes julgamentos”, diz uma desesperançosa Paula, vítima de assédio sexual, para sua advogada de resguardo, enquanto confidencia detalhes de seu pretérito que teme virem à tona caso ligeiro adiante a denúncia. Vídeos curtidos, consumo de pornografia, até o palato de caráter duvidoso —tudo faz secção desse pacote do pânico sobre a devassa da vida íntima.

O paradoxal das situações elencadas dá o perímetro hilário para o ponto sensível do novo vídeo do Porta dos Fundos, que vai ao ar neste sábado —a desqualificação da vítima por seu pretérito em audiências judiciais e investigações, considerada inconstitucional e proibida no Brasil pelo Supremo Tribunal Federalista, o STF, em decisão unânime, no ano pretérito.

Divulgada no Dia Internacional da Mulher, a esquete “Antecedentes” abre a campanha de conscientização sobre direitos femininos criada em uma parceria do grupo de humor com o STF. É protagonizada pelas atrizes Clarice Falcão e Débora Lamm, que faz sua primeira participação no conduto, e destaca outras mulheres na equipe —Bárbara Duvivier, diretora artística do Porta, assina o roteiro com Gabriela Niskier e Kika Hamaoui; Gigi Siares, a direção.

“Os textos pretendem executar a difícil missão de propalar as recentes decisões do STF no combate à violência de gênero de maneira ligeiro e alcançável para todos, sem deixar de divertir e entreter o testemunha”, diz Duvivier, que investiu no didatismo para produzir a identificação do público com questões corriqueiras uma vez que a dificuldade de fazer denúncias de violência sexual e a superação do sentimento de culpa das mulheres.

O segundo vídeo da campanha, “Recadinho”, estreia na segunda (10) e também dá conta de uma decisão recente do STF. O roteiro de Kika Hamaoui e Gustavo Vilela faz referência à teoria da legítima resguardo da honra, que por anos foi usada uma vez que justificativa de crimes de feminicídio e agressão contra mulheres.

Em 2021, o tribunal sepultou de vez a tese, reconhecendo sua inconstitucionalidade e a impossibilidade de seu uso em raciocínio. Na esquete de humor, a tese é mais uma vez evocada e ridicularizada pela figura de uma apresentadora, que se dirige a “macholindos” em uma linguagem infantilizada. “Se fizer coisa errada com a parceira, vocês vão permanecer de punição”, ensina a personagem Juju, interpretada por Bella Carneiro.

A parceria com o Porta dos Fundos é secção de uma estratégia recente do STF, intensificada sob a presidência do ministro Luís Roberto Barroso, de aproximar as decisões do Judiciário e a Constituição da população, com uma informação simples e alcançável.

Neste sentido, os vídeos do Porta dos Fundos têm o apelo e o alcance ideal para popularizar conteúdos estratégicos —o conduto tem hoje, no YouTube, 18,5 milhões de inscritos, e um post tem, em média, 585 milénio visualizações, podendo chegar à marca de milhões. Temas de interesse público têm grande engajamento, uma vez que foi o caso do incidente “TDAH”, sobre a banalização do diagnóstico médico, lançado há duas semanas e já com mais de 1 milhão de visualizações.

“Estas decisões citadas nos vídeos já estão mudando a vida de muitas mulheres. É importante discursar esses entendimentos assim, de maneira ilustrativa e popular. Estamos certos de que esse teor vai levar muita gente a refletir sobre a influência de proteger as mulheres da violência física, processual e outras formas de doesto”, diz Barroso.

Não é a primeira vez que o Porta usa o humor uma vez que instrumento para provocar reflexões sobre a questão de gênero. No Dia da Mulher de 2024, o conduto publicou o compilado “Elas que Lutem”, com uma série de vídeos publicados nos últimos anos sobre temas uma vez que o noção de “mansplaining”, as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho, entre outros.

O debate proposto ao público encontra repercussão internamente. Há alguns anos, o hub de entretenimento vem aprimorando suas políticas de inclusão, ampliando a representatividade de mulheres na equipe e no próprio teor.

“Atualmente, a equipe do Porta é composta por 70% de mulheres. Entre as lideranças, o percentual sobe para 80%. Esse movimento se reflete no nosso teor, que ampliou sensivelmente o número de esquetes protagonizadas por mulheres e hoje tem uma direção criativa feminina”, afirma Joema Martins, diretora de estratégias do Porta dos Fundos.

O aquecimento do debate social e da teoria de um “constitucionalismo feminista”, que reivindica uma releitura completa do sistema a partir da perspectiva de gênero, também tem reflexos no Judiciário. Se por um lado, historicamente, muitos julgamentos e decisões reproduziram o machismo da sociedade, oriente cenário estaria mudando, de harmonia com Cristina Telles, adiante da Ouvidora da Mulher do STF.

“Nos últimos dez anos, a temática de gênero se tornou muito mais discutida no país. Houve muitos avanços e, também, reação a eles. Temos normas melhores, produção acadêmica e jurisprudencial mais farta, e uma sociedade mais exigente em relação à material, ainda que, em alguns campos, uma vez que o dos direitos reprodutivos, a discussão siga difícil”, diz Cristina. “A maioria das pessoas não consegue seguir o que é sentenciado. Mas há decisões que merecem um esforço de informação maior.”

A Ouvidoria do Tribunal, criada em dezembro de 2023 na gestão de Barroso, é uma novidade. Nela, a subunidade Ouvidoria da Mulher oferece atendimento especializado para as demandas relacionadas aos direitos femininos, dando guarida e orientação às mulheres que procuram o Tribunal.

Desde 2023, também é obrigatória a emprego pelo Poder Judiciário pátrio das diretrizes do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, estabelecido pelo Recomendação Pátrio de Justiça, o CNJ, em 2021. De harmonia com o protocolo, os processos judiciais devem ser analisados e conduzidos a partir de um olhar que busque, ativamente, identificar a eventual existência de elementos discriminatórios de gênero para, portanto, enfrentá-los conforme exige a Constituição.

“O constitucionalismo feminista nos faz entender, entre outras coisas, que a garantia de paridade de direitos entre homens e mulheres não basta. É uma garantia relevantíssima, mas que precisa ser densificada e complementada por uma revisão sátira de todo nosso sistema constitucional a partir do feminismo”, conclui Cristina.

Folha

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