Bolsonaro Em Copacabana E A Política Como Performance 23/04/2024

Bolsonaro em Copacabana e a política como performance – 23/04/2024 – Wilson Gomes

Celebridades Cultura

Bolsonaro continua tentando vender seu peixe. E do jeitinho que se fazia nos comícios de antanho, com palanques (agora, carruagem de som), discursos e a volume exultante que foi ouvir seus ídolos revigorar suas convicções, mostrar força e lealdade e encontrar seus companheiros de fé. Tapume de 32 milénio pessoas estiveram juntas no auge da sintoma, segundo o Monitor da USP. Não é pouco para um líder político perseguido pela lei e pela opinião pública, mas também não é muito, se comparado ao tamanho de comícios anteriores.

Se as multidões definham, apuram-se os apoiadores, as afinidades afloram, o radicalismo cresce. Costuma ser assim. Grupos muito coesos vão, uma vez que se diz, “perdendo a noção”, quer expor, aquele pudor de expor e fazer coisas que não fariam na frente de estranhos.

Porquê, ao que tudo indica, a produção do evento é cada vez mais exclusividade de Silas Malafaia, não se pode esperar menos que radicalismo. Malafaia é um líder político protegido por um procuração religioso reconhecido pela retórica hiperbólica, pelas performances de fúria verbal e pela fé típica de vaticinador do Velho Testamento, de que fala em nome do povo de Deus. Quem caminha com Silas não pode esperar que tolerância, argumentação racional, valores republicanos, pluralismo e saudação a divergências tenham qualquer sentido. É só pé no peito e perdigoto voando. Jair, que sabe que a calabouço é uma possibilidade, finda por ser o mais contido.

Toda sintoma pública de políticos hoje gera o que podemos invocar de “editáveis”. São fragmentos de áudios ou vídeos curtos que circularão de inesperado por mídias digitais e que oferecerão ao público que acompanha o evento por suas tevês de bolso (os celulares) um resumo do que está acontecendo lá longe, em Copacabana. Porquê os grupos e interesses são divergentes, bolsonaristas Brasil afora receberam sua versão dos highlights do evento, enquanto os que não gostam deles se refastelaram com outros cortes. É do jogo.

Isso posto, é marcante uma vez que o evento do domingo teve “editáveis” deliciosos para quem, uma vez que eu, veio à política em expedição etnográfica. Ainda estou em incerteza se palato mais do exposição de Nikolas Ferreira (PL-MG) ou de Gustavo Gayer (PL-GO), mas o de Malafaia também é revelador.

O primeiro ofereceu uma maravilhosa ilustração do “modo viril” do bolsonarismo, de que falei na semana passada: “Leste país não precisa mais de projetos de leis, não precisa mais de emendas [constitucionais], levante país precisa de homens com testosterona”. E toda a testosterona de que o país precisa, segundo ele, foi condensada e enfrascada em Silas e Jair, ali presentes. É de ouriçar. Pelo que entendi, o novo lema é “precisamos de machos, não de leis”. Eu falei que o bolsonarismo não suporta a teoria de um governo de leis e clama por um governo de vontades, músculos, tendões e hormônios. Acreditam agora?

O mesmo modo vitalista não poderia faltar no exposição do próprio Malafaia, a quintessência da virilidade vernáculo, que se referiu a Alexandre de Moraes com o já clássico “ditador da toga”, mas também fez questão de presentear o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com os adjetivos “frouxo, covarde e omisso” por não investigar o ministro do STF. No excelso mundo masculino do bolsomalafaismo, frouxos não têm guarida nem caráter. Nem merecem saudação.

O deputado Gayer, por sua vez, “performou” uma vez que vítima o novo dogma da fé bolsonarista, a certeza de que Musk é uma espécie de João Batista que veio reparar os caminhos do Messias. Jair Messias. Olhando para os céus, provavelmente para ser tomado de frente pelos satélites da Starlink, o deputado enunciou o seu rogo: “Com certeza Elon Musk está olhando o que está acontecendo cá agora”. E certamente saberá intervir com a sua divinal providência para erguer o justo e desaprovar os pecadores. O severo e onipotente olhar de Musk cedo ou tarde irá repor tudo ao seu lugar: Brasil Supra de Tudo, Musk de Olho em Todos.

Naturalmente, você a levante ponto deve estar se perguntando por que Bolsonaro continua fazendo essas manifestações. A resposta, porém, já lhe deve ter ocorrido. Ele as faz porque delas precisa. Para manter-se em evidência de alguma forma em seguida ter perdido o volume sem razão de visibilidade pública que tinha quando presidente, para continuar em contato com o povão, uma vez que é do feitio de líderes carismáticos, e para mostrar aos seus que continua sendo capaz de movimentar a volume e galvanizar a vontade do povo.

Política, uma vez que vocês certamente sabem, é em grande secção performance.


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Folha

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